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Presidente do Parlamento Juvenil de Cabo Frio cobra inclusão do jovem na política

Estudante Vitória Letícia Silva Santos, de 15 anos, discursou após palestra do ministro do STF Luís Roberto Barroso

28 agosto 2022 - 15h39Por Cristiane Zotich

Este ano o Brasil terá 2.042.817 de novos eleitores entre 16 e 18 anos indo às urnas na eleição do dia 2 de outubro. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), esse número representa um aumento de 47,2% em relação ao mesmo período em 2018. Com foco nesse público, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, esteve em Cabo Frio esta semana. Ele palestrou para cerca de 480 alunos das redes municipais de ensino das cidades de Cabo Frio, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Araruama, Iguaba Grande e Saquarema, e autoridades convidadas, entre elas o prefeito e a secretária de Educação cabo-frienses, José Bonifácio e Elicéa da Silveira; André Navega (promotor da 2ª Promotoria de Tutela Coletiva da cidade; Ana Carina Guimarães Franciscone (juíza eleitoral de Cabo Frio), e José Muños Piñeiro Filho (desembargador do Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro).

Com o tema “Os Jovens e o Exercício da Cidadania nas Eleições 2022”, a palestra fez parte da programação da 3ª Edição do Programa Direito e Cidadania nas Escolas, promovida pela Câmara Municipal de Cabo Frio, com apoio da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) e da Secretaria Municipal de Cabo Frio. Durante 1h30, o ministro ressaltou a importância da participação dos jovens na construção da democracia e no combate às fake news.

- Infelizmente temos alguns aloprados que falam em golpe e defendem a volta da ditadura. Qualquer democracia é melhor do que qualquer ditadura. Eu defendo o fortalecimento da democracia e o combate às fakes news. Numa democracia não existem súditos, existem cidadãos com direitos e responsabilidades, livres e iguais. Democracia é votar de acordo com a consciência, sem exigência dos pais, do patrão, ou de quem quer que seja. E os jovens dominam as redes sociais. Por isso precisamos criar neles a consciência de que identifiquem e não repassem fake news, e que levem isso para dentro de suas casas. Não importa o que aconteça à sua volta, faça o melhor que puder, mesmo que ninguém esteja olhando - disse o ministro.

Entre os quase 500 estudantes que assistiram a palestra, estava Vitória Letícia Silva Santos, de 15 anos, aluna do Colégio Municipal Rui Barbosa, em Cabo Frio, e desde maio ocupando a função de presidente do Parlamento Juvenil da Câmara de Vereadores da cidade. Antes da palestra de Luís Roberto Barroso, ela foi inclusive convidada a subir ao palco e contou como é a visão do jovem diante do processo político.

- Infelizmente a juventude ainda se encontra muito afastada da vida política do país, e as razões para isso são plausíveis: são escândalos, descalabros administrativos, burocracias que afastam o desenvolvimento social. E na ausência de um projeto ético, e de iniciativas que abordem a gente de uma forma pacífica e inclusiva, os jovens desviam sua atenção para outras prioridades e se afastam de momentos políticos decisivos - discursou.

Em conversa com a Folha, ela falou sobre alguns pontos que foram abordados na palestra do ministro do STF, sobre a necessidade de mudanças para que o jovem se sinta inserido nas discussões políticas, sobre a importância de fazer parte do Parlamento Juvenil e sobre a importância das chamadas “escolas democráticas”.

Folha: Como foi seu primeiro contato com a política?

Vitória: Veio através da coordenação da minha escola (Rui Barbosa). Eles que vieram comentar sobre o projeto Parlamento Juvenil, e quando pesquisei, vi que estava vinculado à política. Antes eu só tinha contato em questões de anos eleitorais, quando a gente via bastante na televisão, e eu prestava atenção porque eu gosto muito dessa informação. Mas eu nunca tinha me aprofundado até o Parlamento.

Folha: O que fez você ter vontade de ingressar no parlamento juvenil?

Vitória: Como eu disse no meu discurso, foi a questão da inclusão e de ser um ponto de referência onde outros jovens pudessem buscar informação e conhecimento. Quando entrei não coloquei muitas expectativas: eu achava que seria algo raso e sem muita participação. Estamos em um ano onde milhões de jovens estão começando a votar, me veio à cabeça que todas as informações sobre o assunto são direcionadas a outro público, e não a nós, jovens: a linguagem, a forma, a metodologia de tudo, a explicação sempre nos mostrava que a política não era nosso lugar pertencente. Eu acredito que a participação da juventude lá dentro da Câmara, com o Parlamento Juvenil, acaba fazendo essa inclusão, dando essa representatividade, essa voz, ressignificando muita coisa e dando lugar a esses jovens. E estamos fazendo isso indicando projetos de lei como compromisso com a agenda 2030. Isso está auxiliando nosso crescimento como pessoas, e nos inspira a entrar na política e a participar dela com compromisso e vontade.

Folha: Estar no Parlamento Juvenil te trouxe algum ensinamento sobre política? 

Vitória: Muitos, inclusive que a política é quem faz todo o processo da democracia, do lugar, de direito, nossos deveres. A gente descobre muita coisa lá dentro e que não é comentado aqui fora, como a questão dos projetos de lei, que qualquer um pode fazer. O povo pode se juntar e fazer um projeto de lei coletivo, tentar tomar uma decisão pela sociedade, e isso era uma coisa que eu não sabia: sim, a gente tem o poder de trabalhar pela nossa sociedade. 

Folha: Você recomenda essa experiência para outros jovens? 

Vitória: Sim, inclusive é uma das coisas que eu mais falo, que se você tem idade, tem a oportunidade, entre no Parlamento Juvenil. É uma oportunidade única, uma experiência única, porque você vai estar lá num conhecimento imersivo, você vai estar aprendendo com pessoas maravilhosas que vão te explicar todo o processo. Como jovem, eu sinto que a gente está num momento da vida de transformação para pessoas adultas, e a gente imagina que só vai exercer nosso poder de cidadão quando formos adultos, quando estivermos pagando impostos, quando estivermos trabalhando, ou sendo chefes de família, mas, não. A gente exerce nosso poder a cada momento. Então, eu recomendo 100% que outros jovens entrem para esse projeto, e que reforcem sua posição lá dentro. E eu não preciso fingir que sou adulta, eles realmente respeitam a minha idade.

Folha: Viver essa experiência te faz ter vontade de ingressar na carreira política, concorrer a alguma vaga? 

Vitória: Sim. Essa experiência enche tanto os olhos que nos leva a pensar. Eu gosto muito de falar, de estar em contato com as pessoas, de estar motivando, incentivando, mostrando minha opinião pública, de estar interagindo. Não é minha primeira opção no momento, mas eu acho que eu seria senadora, que está lá representando um estado da Federação, cuja função é criar, revisar e mudar emendas da Constituição. Mas eu gostaria muito mais de ser diplomata, trabalhar as relações internacionais.

Folha: Você acha que com 16 anos os jovens estão preparados para votar? 

Vitória: Estar preparado é uma questão muito pessoal, mas podemos preparar os nossos jovens. Eu acho que é um momento da vida onde o jovem sai muito do berço dos pais. Quando crianças somos muito esponjinhas, a gente está colhendo a posição dos nossos pais, os pensamentos deles. E quando você vira adolescente e começa a criar seu próprio senso crítico, a sociedade não sabe lidar muito bem, não vê com bons olhos. E nessa questão de mudança os jovens ficam muito vulneráveis a qualquer informação de fora. Fica o pensamento que está dentro de você como origem, que são dos seus pais, mas aí vem a escola, que é seu primeiro contato com a sociedade de forma independente e você acaba tendo outros pensamentos, vivências e experiências. E na vida você começa a conviver mais do lado de fora, e a aprender mais, e aí fica uma confusão de informações. Você sai de um lugar que só tinha paredes, e agora você está vendo uma porta, e depois dessa porta tem outra porta com mais informações. Eu acho que os jovens são um grupo de pessoas mais sensíveis a esse tipo de coisa, mas quando a gente começar a incluir mais o adolescente, a dar a ele a responsabilidade pelo seu país, a gente vai abrir mais os nossos olhos. Mas isso precisa ser feito com informação feita pra gente, com lugar de fala, com representação. 

Folha: Na palestra foi falado muito sobre combate às fakes news. Como você acha que os jovens podem ajudar nessa missão?

Vitória: Eu acho que é muito nosso lugar essa questão porque as fakes news estão relacionadas com as redes sociais e com a internet, que é um lugar onde principalmente os jovens dessa geração literalmente cresceram. Cresceram com a internet nas suas vidas. Quando a gente começa a receber a informação verídica, de uma uma forma que seja feita pra gente realmente entender, e que não seja de muitas analogias e metáforas, mas que seja simples e sem enrolação, a gente começa a identificar essas fakes news mais rápido, e como pessoas que se sentem pertencentes àquele lugar, a gente vai automaticamente se sentir responsável pela aquela informação que está sendo dita ali, e acaba denunciando as fakes news. 

Folha:  Na sua visão, qual a importância da democracia para a sociedade, e principalmente para os jovens?

Vitória: A democracia é um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente, diretamente ou através de representantes eleitos. O ideal da democracia é realmente muito bonito, porque o objetivo é incluir todos na construção de um governo, de um país. Porém, o Brasil é um país muito inexperiente na prática da democracia, até porque ela foi implantada tem pouquíssimo tempo. Todas as conquistas para votar ainda são muito recentes, e apesar de termos o sistema eleitoral mais tecnológico, não temos inclusão na nossa política. Ela precisa melhorar muito para representar não apenas um grupo, mas a todos. Também acho que a gente precisa ter mais pautas sobre política dentro das escolas porque é algo que revoluciona o jovem: essa participação, essa inclusão. Aliás, essa é a palavra chave no momento: inclusão. Pra uma pessoa que vai ser responsável pelo seu futuro e pelo futuro do país, aprender isso desde cedo é um dos pilares mais importantes para a construção do desenvolvimento social e pessoal, para construção da responsabilidade, da autenticidade. Acredito que a democracia é o caminho, e transformar a escola em democrática, como é o caso da minha escola, isso muda muito a nossa cabeça, cria na gente um engajamento que é maravilhoso.