Ao vencer as últimas eleições, José Bonifácio Novellino entrou para o seleto grupo de políticos que conseguiram a oportunidade de governar a cidade pela terceira vez. Além do pedetista, apenas os contemporâneos Alair Corrêa e Marquinho Mendes, além de Domingos Ribeiro Bonifácio, nos anos 1940, e Francisco Paranhos, entre os anos 1940 e 1950, conseguiram a façanha, em quase um século.
Aos 75 anos, Zé ganhou o aval das urnas para tentar tirar o município de uma crise econômica que dura mais de cinco anos, mas, ao mesmo tempo, recebeu o voto de confiança com base na memória afetiva do eleitor que se lembra das duas administrações anteriores, em circunstâncias históricas distintas: entre 1977 e 1982, ainda no período do regime militar, e entre 1993 e 1996, já após a redemocratização.
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Para o historiador José Francisco de Moura, o Professor Chicão, coautor do livro ‘História de Cabo Frio – dos sambaquieiros aos cabo-frienses (c. 3.720 a.C. – 2020)’, da Sophia Editora, junto com o também professor Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira, as atuais circunstâncias dificultaram a tarefa do atual prefeito que, pela primeira vez, governava com o dinheiro dos royalties do petróleo.
– Hoje, a cidade é geograficamente menor, pois não tem Búzios nem Arraial, porém tem uma população muito maior. Tem Tamoios, o Complexo do Jardim Esperança e o Centro, que são praticamente três cidades diferentes. E tem uma coisa que é muito complicada, que é o controle das redes sociais, sobretudo sobre o que o governo faz, o que não tinha naquela época. Você só tinha poucos jornais e a rádio para falar das coisas boas e ruins. Hoje um erro do governo é muito potencializado nas redes sociais – observa.
Construção de escolas e problemas com autarquia de limpeza urbana – Em 1976, o país vivia sob a política de abertura ‘lenta, gradual e segura’ do general-presidente Ernesto Geisel. À época, o bipartidarismo estava em vigor e Bonifácio, aos 31 anos, elegeu-se pela primeira vez, ao desbancar pesos pesados da política cabo-friense, inclusive o eterno rival Alair Corrêa.
Na primeira gestão, o político ficou marcado por obras como a construção da escola Edilson Duarte, no Jardim Caiçara; e da atual Rodoviária da cidade; além da duplicação da Ponte Feliciano Sodré e da Avenida Teixeira e Souza, entre outras intervenções.
Na segunda eleição, em 1992, o Brasil já estava redemocratizado, mas em turbulência por causa do processo de impeachment, que resultou no afastamento do então presidente Fernando Collor de Mello, que sucumbiu do poder pelas denúncias de corrupção feitas pelo irmão. Nos anos seguintes, Bonifácio pegou uma cidade diferente que, em 1995, perdeu Búzios, que se emancipou politicamente [Arraial já tinha se emancipado em 1985]. Mas se colecionou feitos como a desapropriação da Fazenda Campos Novos e a construção de escolas, também sofreu desgastes por algumas decisões equivocadas, segundo Chicão.
– Em geral, ele saiu bem avaliado do primeiro governo, diferente do que aconteceu no segundo, por causa de dois ou três erros pontuais. Os erros principais dele foram em relação à Procaf, a atual Comsercaf. Ele se enrolou na administração da autarquia, no recolhimento cotidiano do lixo. Ele errou também ao levar o prédio da Prefeitura para o Centrinho, porque as pessoas tinham que ir lá para resolver os problemas. Ele também fechou o Centro da cidade. Esses erros ele reconhece. Já vi entrevista dele reconhecendo, e isso é importante para o político – explica.
*Matéria publicada em 07/01/2021