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Câmara

Em Cabo Frio, a palavra é de sua excelência: o povo

Sucesso de público, Câmara atrai pessoas interessadas em política e emprego

15 junho 2015 - 09h35
Em Cabo Frio, a palavra é de sua excelência: o povo

Rodrigo Branco

Toda terça e quinta-feira é a mesma coisa. Nas proximidades da Travessa Maçônica, esquina com Avenida Assunção, no Centro, uma pequena aglomeração se forma em frente à acanhada entrada da Câmara Municipal. Funcionários, assessores e público em geral se misturam e esperam o início de mais um dia de trabalho legislativo ou apenas para falar com algum vereador, em busca de emprego ou outro tipo de ajuda.

O interesse de muitos, no entanto, é apenas acompanhar, ou melhor, fiscalizar a atividade dos parlamentares. Inequívoco sucesso de audiência, desde que teve o horário modificado para a parte da manhã, as sessões da Casa têm contado com a plenária lotada. Dada a capacidade limitada do auditório, não são raras as ocasiões em que parte da assistência acompanha os debates e discussões de pé.

A auxiliar de serviços gerais do IML Dulciane Soares da Silva, 30, prefere chegar cedo. Na verdade, em função dos atrasos constantes nas sessões, cujo horário previsto é 10h, ela é obrigada a esperar pacientemente a chegada dos parlamentares no plenário. Mas a mulher não se importa, afinal está acostumada com o ‘ritual’. Eleitora do presidente da Casa Marcello Corrêa (PP), de quem aprova o trabalho, ela não economiza ironia ao falar de alguns de seus pares.

– Acho importante acompanhar o trabalho de alguns vereadores, porque de outros, só Jesus na causa (risos). Alguns deles gostam muito de contar mentira, essa é a pior parte. Mas a gente está de olho e língua atenta, porque eu falo mesmo – comentou Dulciane, que precisou mudar o horário de trabalho para continuar acompanhando as sessões matinais.

De fato, em meio aos discursos muitas vezes enfadonhos, não faltam palmas, risinhos e comentários, aos quais a Presidência e a segurança precisam eventualmente intervir. Cláudia Maria, 42, acompanha os trabalhos do Poder Legislativo cabofriense há mais de 20 dias, tempo em que o Plenário Oswaldo Rodrigues dos Santos recebia nomes que hoje são protagonistas do cenário político da cidade. Atenta, a eleitora de Vanderlei Bento (PSDB) mostra desencanto com a atual legislatura.

– Acho que o trabalho da Câmara não teve sucesso até agora, porque muitos ganharam em cima de projetos que não foram postos em prática. Quanto ao horário, acho que deveria mudar quinzenalmente para que todos tenham oportunidade de acompanhar, afinal essa é a Casa do Povo e, daqui a um ano e meio, eles vão estar na nossa porta para pedir voto. Mas para mostrar o que? – critica a servidora pública da Saúde, saudosa do falecido vereador Márcio Corrêa.

Se muitos ainda adaptam a rotina a fim de ver de perto a atuação de seus eleitos, outros não têm a mesma sorte. Como num show de rock ou partida de futebol, os parlamentares são assediados durante e ao fim das sessões, com bilhetinhos ou mesmo aos berros, mas o povo não está em busca de autógrafos ou ‘selfies’. Querem um emprego, o resultado de um exame ou simplesmente uma esperança. Que no caso da desempregada Luciana de Almeida, 23 foi mais uma vez adiada.

– Está muito difícil achar trabalho. Deixei currículo em vários lugares e até agora nada. O Marcello (Corrêa) pediu para procurar um assessor na próxima quinta (amanhã), mas vou procurar amanhã (hoje) mesmo – afirmou a moça, que novamente voltou para o Itajuru, onde mora, de mãos vazias.
Pelo menos até a próxima sessão, quando também voltarão Cláudia, Dulciane, entre outras vozes anônimas que, mais do que benefícios eventuais, clamam por atenção diariamente e não apenas a cada quatro anos.