A corrida pela cadeira de chefe do Executivo municipal de Cabo Frio tem mais um nome confirmado: o do ex-prefeito e ex-deputado estadual Alair Corrêa. Amado por alguns, odiado por outros, ele iniciou a vida política em 1970, quando foi eleito vereador pelo MDB incentivado pelo pai. Em 1973 ocupou a presidência da Câmara, e em 1983 foi eleito prefeito da cidade pela primeira vez (quando Arraial do Cabo e Armação de Búzios ainda faziam parte do município). Retornou ao comando do Executivo da cidade em 1997; foi reeleito para o mandato 2001/2004, época em que ficou conhecido nacionalmente por conta de obras imponentes realizadas na cidade como a Praça das Águas e a ponte Márcio Corrêa, pelas festas, e projetos como setorização cromática. Voltou em 2013, mas deixou o cargo em dezembro de 2016 em meio a uma série de problemas financeiros.
Em entrevista à Folha, Alair, que completou 81 anos no último domingo (4) e ganhou festa surpresa de amigos e correligionários, confirmou que é pré-candidato na eleição municipal do ano que vem; fez uma espécie de “mea culpa” com relação a alguns erros que reconhece ter cometido no passado, mas não poupou críticas aos seus sucessores (Marquinho Mendes, Aquiles Barreto, Adriano Moreno e José Bonifácio): “incompetentes, administradores de meia tigela que fizeram péssimas administrações”.
Folha: Por que você quer ser prefeito de Cabo Frio novamente?
Alair - Fui prefeito por 18 anos. Sei que mudei a cidade governando-a. Mas os últimos dois anos foi bem desgastante por conta da queda da arrecadação, e tendo que manter uma super folha, herança do plano de cargos e salários, já que decidi não demitir ninguém. Foi um horror. A arrecadação trimestral caiu de milhões de Reais para zero. A mensal, de R$ 15 milhões para R$ 3 milhões.
Folha - Quais serão suas prioridades?
Alair - Colocar a cidade sendo a mais limpa do Brasil de novo, com a setorização cromática; os postos de saúde hospitais funcionando bem, com vacinação da população no tempo certo; educacao perfeita, com escolas organizadas e bolsas para os universitários; praias organizadas; praças e orlas reconstruídas; fim dos alagamentos dos pontos críticos… Ter a cidade pronta, já com a estima dos cabo-frienses recuperada, e voltar com aquele sentimento de poder dizer “minha cidade é a melhor, porque temos tudo, moramos numa cidade limpa e boa para todos”. Voltarei, também, para todos poderem dizer “moro em uma cidade onde se cultua a história, os seus bons hábitos, seu amor por ela”. Recuperar as ruas, praças e prédios públicos; a saúde, o social. Embelezar a cidade, recuperar a alegria do povo e admiração dos visitantes; recuperar as festas populares da Padroeira, aniversário da cidade, Corpus Christi, Santa Esperança no Jardim Esperança; São Cristóvão, São Pedro, Praia do Siqueira, Nossa Senhora Fátima de Tamoios; carnaval de escolas samba e trios elétricos; pega pato na lagoa; barcaça elétrica; voltar a ter o segundo melhor reveillon do estado; Natal de Luz com as 500 vozes; desfile 13 de novembro… Voltaremos com nosso futebol, esporte praiano… Vamos recuperar a Rua dos Biquinis, Praça das Águas, quiosques da praia com funcionamento dos elevadores (que estão há sete anos parados), o Boulevard Canal… Voltaremos com as grandes e necessárias obras: com as pontes já congestionada, construirei um túnel sob o Canal do Itajuru com quatro faixas, passeio e ciclovia, do Portinho ao outro lado, na Avenida Wilson Mendes. E, para aqueles que pensam pequenos, e já falam que não farei o túnel porque é caro, respondo: esse túnel custará a metade do que gastei com a obra da ponte Márcio Corrêa. Com ela gastamos muito porque precisei comprar 130 imóveis e demoli-los para construir a Avenida Wilson Mendes e a ponte. Já o túnel é só ele, sem desapropriações. Vou engordar a Praia do Forte em mais 80 / 100 metros, já que em 25 anos perderemos 20 metros de areia. Vou construir a nova ponte de Tamoios / Barra de São João em quatro faixas, ciclovias e calçadas. Vamos construir quatro mergulhões na rodovia entre Campos Novos e a nova ponte; comprar as casas em volta do Hospital de Tamoios para ampliá-lo em 100 leitos. Vamos concluir as obras do bairro Guarani e Avenida Joaquim Nogueira, que parei ao perder os royalties em 2014.
Folha - Caso você seja eleito em 2024, Cabo Frio voltará a ter shows novamente, ou essa fase já passou?
Alair - Para se fazer festa é preciso estar bem com a saúde, a casa estar limpa, não dever a ninguém, estar ajudando os necessitados. Atingindo esse patamar, teremos muitas festas e shows. Alegria é algo tão forte em mim, tão necessária em ser incentivada, que voltará comigo.
Folha - Em comparação ao seu último mandato, o que faria de igual, se fosse eleito novamente? E o que faria de diferente?
Alair - Repetiria todas as obras, os abonos e festas, como nos dois primeiros anos. Já dos dois últimos anos (2014 e 2015) faria o que o Ministério Público (MP) me intimou a fazer e não atendi. Quando o MP viu a arrecadação cair de R$ 50 milhões para apenas R$ 20 milhões / mês, e por isso a folha de pessoal passar de 49% para mais de 90%, mandou que eu a reduzisse para o percentual para os 54% conforme determina a Lei de Responsabilidade Fiscal. Como implicaria em reduzir o pessoal da prefeitura de 14 mil servidores para oito mil, resolvi não obedecer. Não tinha como demitir 6.230 funcionários. Meu passado sindicalista, e meu coração, não permitiu. Sofri com minha desobediência: os contratados, que não lhes tirei o emprego, foram os que mais protestaram com atraso de salários. Espero não passar por isso novamente, mas hoje eu não repetiria o erro da desobediência legal, eu atenderia aos promotores.
Folha - Todos os prefeitos que te sucederam afirmam que seu último governo foi responsável por afundar a cidade em dívidas que estão sendo negociadas e pagas até hoje. Qual sua avaliação sobre isso?
Alair - Os quatro ex-prefeitos tiveram os royalties melhorados, e voltaram a receber a parcela trimestral, mas são incompetentes, administradores de meia tigela que fizeram péssimas administrações. Se for verdade que usam isso para se defenderem dos seus fracassos, os chamaria de mentirosos. Hoje a folha líquida não chega a R$ 30 milhões, já a arrecadação passa dos R$ 100 milhões / mês. E, segundo soube, o Zé (prefeito José Bonifácio) está guardando (esse dinheiro) para gastar no último ano. Já os outros três nada fizeram e não guardaram nada. Não são administradores.
Folha - Algumas obras suas, como a Praça das Águas, foram descontinuadas. O que você pensa sobre isso? Vai retomar a praça e outros projetos?
Alair - Logo que entrar, se Deus quiser, vou recuperar a Praça das Águas. Se a modificarem por pirraça, tiro o que colocarem, e reconstruirei do jeito que o povo adorava.
Folha - Qual sua avaliação do governo José Bonifácio? Onde ele está acertando e onde ele está errando?
Alair - O governo do Zé não é bom, mas acerta no pagamento em dia do funcionário. Acerta na distribuição da moeda Itajuru, já que o povo está muito necessitado. Toma conta dos recursos públicos como poucos. Mas erra em deixar a Praia do Forte fechada, em ter abandonado a Praça das Águas, não tapar os buracos da cidade, não consertar os elevadores da Praça dos Quiosques e por guardar dinheiro quando a cidade capenga. Isso é o mesmo que deixar a família passar fome tendo dinheiro no banco. Se tivesse que dar uma nota pra ele (entre 0 e 100), seria 50.
Folha - Como está sua situação jurídica? Algum processo que possa impedir sua candidatura ano que vem?
Alair - Segundo meus advogados, não terei problemas com meu registro. Assim sou pré-candidato a prefeito, para ganhar. Por onde passo já ouço os gritos das pessoas "volta Alair".