Não tenho partido e jamais terei. Jamais me verão em reuniões, convenções ou comícios. Me punam, mas não sou afeito a grupos, a cumplicidades perniciosas, que comandem meu rumo. Também pouco me interesso pela política local. Um pecado? Simplesmente não me atrai, a não ser pelo jornalismo, e, mesmo assim, prefiro me alienar. Os enredos são sempre os mesmos, mudam apenas os personagens. Imagino todos se reunindo numa suposta cúpula do poder cabo-friense, todos como que farinha do mesmo saco. A política nacional não é muito diferente, sei bem.
Escreveu João Ubaldo Ribeiro: “As palavras são despidas de seus significados conhecidos para assumirem outros, de difícil ligação com a realidade. Elite, esquerda, direita, tudo isso é definido arbitrariamente, segundo o interesse de quem usa essas palavras. Magistrados do Supremo batem boca em público, dão entrevistas o tempo todo, quase se engalfinham com jornalistas.”
E continuou, sobre o clima que já imperava em 2014: “A baixaria impõe o tom e não se admite que haja um adversário de boa-fé. O opositor é sempre um agente consciente do Mal e da Mentira, solerte, disfarçado e traiçoeiro, e não é movido por boas intenções. Não há como compreendê-lo ou recuperá-lo para a Verdade, e o mais certo é liquidá-lo. O estado é indecentemente confundido com o governo e o governo age como se fosse o dono do estado. Quem se opõe ao governo se opõe ao estado e pode, portanto, ser qualificado como inimigo da pátria e das instituições.”
Eu, de mim, acho mesmo que a política funciona como um covil de bandidos, um antro de calhordices, exemplo do privilégio, do mau desempenho de atribuições e do desgoverno. Veja o Executivo hoje: não passa de um escritório eleitoral rodeado de assombrações.
Pois: óbvio que os problemas que assolam a cidade também me afetam, sensibilizam-me. E por isso que porventura me arrependa, ou talvez seja em vão, todavia torço para que Cabo Frio, sob o governo de Sérgio Luiz Costa Azevedo Filho ou Serginho ou Dr. Serginho, como queiram, melhore, e que se ajuste de modo a enquadrar-se naquilo que chamamos de “cidade” novamente (só depois do Carnaval, eu sei). “Aglomeração humana”, e não desumana, “localizada numa área geográfica”. Onde possamos viver com alguma dignidade e civilidade.
Não me refiro, porém, à torcida insidiosa daqueles que ‘abocanham’ ou pretendem ‘abocanhar’ seus pedaços, acumular também suas ‘moedas’, sem a benignidade de quem pensa numa melhoria coletiva, para todos. Utopia? Ilusão? Talvez.
Mas, porque a razão não faz filhos, tomara que uma normalidade, dentro do razoável, aconteça. Sinto que precisamos de crescer, acima das convenções, obsessões e clichês políticos.
Kauã Barreto é estudante cabo-friense apaixonado pela literatura e apreciador do ofício jornalístico.