Em clima de Copa, empresário holandês monta 'QG laranja' em Cabo Frio
Gerard Von Bragt fez até uma réplica do Cristo Redentor
Clima de Copa do Mundo, Brasil classificado para as oitavas e cidade inteira enfeitada com motivos verde e amarelo, certo? Errado. É impossível passar pela Rua Belgrado, no Jardim Olinda, e ficar indiferente ao verdadeiro “quartel-general laranja” montado na casa do empresário holandês Gerard Von Bragt, caprichosamente decorado com flâmulas nas cores de um dos nosso mais temíveis rivais: a Holanda. Como principal detalhe, uma réplica do Cristo Redentor de cerca de um metro contraria a antiga máxima segundo a qual “Deus é brasileiro”.
A paixão e a intimidade com o futebol ficam explícitas logo na primeira pergunta, quando questionado sobre sua origem.
– Eindhoven, onde jogavam Romário; Ronaldo Fenômeno; Vampeta; Diego Tardelli; Gomes; Alex – enumera, em alusão ao PSV, popular clube da cidade, que fica a 112 Km da capital do país, Amsterdam.
Apesar do esmero na ornamentação, ele mantém a cautela ao falar das possibilidades das equipe de Robben, Van Persie e Sneijder no Mundial. Neste domingo, a “Laranja Mecânica” pega o México pelas oitavas de final, em Fortaleza. Uma possível eliminação não o afeta, apesar de tudo.
– Não sei, vamos ver. Ganhamos por 2x0 (do Chile, na última rodada da fase de grupos), mas foi complicado. Nosso futebol é diferente do praticado na América Latina. É mais físico. O Brasil joga com mais técnica. Não fico sem dormir quando a Holanda perde – admite.
A camisa da seleção pendurada e uma bandeira do país esticada na fachada do imóvel dão ao local um ar de consulado holandês no município. Mas engana-se quem pensa que está em território totalmente estrangeiro.
Há 10 anos no Brasil, sempre em Cabo Frio, Gerard é casado com a professora de Português Diana desde 2007. Conheceram-se graças a um amigo em comum, dono de uma escola de idiomas para estrangeiros. O convívio assegurou não somente a prática do europeu no idioma de Camões, mas também uma valiosa troca cultural.
– Acho que por eu ser professora, essas diferenças para mim não dificultam. As pessoas criam estereótipos. Em geral, os nórdicos até são mais frios, mas nem todos – pondera Diana.
Entres alguns palavrões (“Foi uma das primeiras coisas que aprendi”, acha graça), ele lista, com fluência, mas carregado sotaque, as vantagens e desditas encontradas no período de adaptação aos trópicos.
– P..., o temperamento brasileiro é muito bom, receptivo e bem mais quente. O clima também ajuda e deixa a todos mais abertos. O europeu é mais fechado, mesmo porque lá o inverno é muito rigoroso. Mas no verão, a temperatura é parecida. Lá chega a fazer 38º C – conta.
No entanto, com a naturalidade de quem frequenta a nação há quase 20 anos, e onde desde 2005 montou uma firma de equipamentos para limpeza de piscinas, a Blue Lagoon, critica enfaticamente as mazelas políticas e econômicas tupiniquins.
– Brasil é um país rico, que tem condições de ser um dos maiores do mundo, mas é mal administrado. Em alguns lugares existem as catástrofes naturais, aqui tem os políticos – dispara.
O bom humor volta quando perguntado se vai ter briga em uma eventual decisão entre Brasil e Holanda.
– Não, mas cada um vai ficar para o seu lado – diverte-se.