Navegando pelo mar salgado: a travessia dos autores lusitanos para o Brasil
Portugal apresenta nomes de peso na literatura
GABRIEL TINOCO
Quando Vasco da Gama desbravou o horizonte, as grandes navegações iniciaram uma nova era. Não se sabe ainda se o heroico navegador esbarrou com o gigante Adamastor, do camoniano ‘Os Lusíadas’. Fato é que a bravura lusitana encontrou na literatura a sua travessia. Do mar salgado, foram derramadas as lágrimas de Pessoa. Os sermões do Padre Antônio Vieira orientavam o navio como uma bússola. A descoberta: especiarias como Eça de Queirós, Gil Vicente e José Saramago. Convido você, leitor, a seguir nesta grande navegação.
Se a caravela tivesse um comandante, certamente seria Luís de Camões (1524-1580). O poeta navegou por temas como o amor espiritual e as aventuras dos heróis portugueses. Passou pela poesia como sonetista – adepto ao Classicismo. ‘Os Lusíadas’ (1572) é a grande obra do autor e uma brilhante versão da descoberta das Índias. A epopeia é composta por dez cantos, 1102 estrofes e 8816 versos.
Fernando Pessoa (1888-1935) é como o vento para a caravela portuguesa. Os heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro remavam pelas múltiplas faces. Alvaro de Campos é um engenheiro que se sentia um estrangeiro no mundo inteiro – a versão mais crítica do poeta. Já Ricardo Reis é um latino monarquista, com bucolismo em seus versos. Alberto Caeiro é o mestre dos heterônimos. Sem estudos, o camponês se irritava com as buscas da metafísica.
Com a bênção de Antônio Vieira (1608-1697), a frota portuguesa içou âncora no Brasil, onde o padre espalhou ensinamentos sobre filosofia, teologia e metafísica. O jesuíta nos deixou 700 cartas e 200 sermões. Sua obra mais célebre é o “Ser mão da Sexagésima’ (1655).
Nessa jornada literária, Eça de Queirós (1845-1900) remou contra a corrente do romantismo para adentrar ao mar do realismo. A publicação do romance ‘O Crime do Padre Amaro’ (1875) despertou a ira católica ao questionar a impunidade da instituição. Eça também escreveu obras como ‘O Primo Basílio’ (1878) e ‘Os Maias’ (1888).
Ao que parece, o talento português embarcou em terra firme com José Saramago (1922-2010). Numa época em que os romances lusos já haviam conquistado o mundo, Saramago mostra que não se cansa de inovações. A escrita pontuada por vírgulas deixa as ações fluirem com mais facilidade, enquanto o narrador mostra forte presença na história. As críticas à Igreja Católica renderam censuras ao autor. O romancista escreveu ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’ (1984), onde dá vida ao heterônimo de Pessoa, que conversa com o espírito do poeta. Ele também lançou clássicos como ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ (1995), ‘Levantado do Chão’ (1980) e ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ (1991).
Que esta rica história ainda possa ser contada em outras linhas, afinal, navegar ainda é preciso.