Projeto na Alerj pune quem satirizar religiões; OAB diz que é inconstitucional
Caso seja aprovada, lei prevê multa de até R$ 270 mil em caso de descumprimento
RODRIGO BRANCO
Um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) está causando muita polêmica e, a despeito de tratar de humor, está longe de provocar gargalhadas. Caso a proposta do deputado Fábio Silva (PMDB) seja aprovada, sátiras e piadas com religiões podem ser multadas em até R$ 270 mil. Mesmo reprovado nas comissões da Casa, por manobra do deputado Edson Albertassi (PMDB), o projeto não foi arquivado e ainda será avaliado pela Procuradoria da Alerj. A Ordem dos Advogados do Brasil, no entanto, vê inconstitucionalidade na matéria.
– A Constituição é clara para qualquer tipo de ofensa, mas o humor é liberdade de expressão, a não ser que o humorista ultrapasse o limite do razoável. Qualquer pessoa que se sentir ofendida pode entrar com uma ação na Justiça pleiteando dano moral – afirma o advogado Renato Gonçalves, diretor da seção cabofriense da OAB.
Colega de Fábio Silva, Eliomar Coelho (PSOL), disse que o projeto é um ‘retrocesso’ e a bancada do partido se articulará para que ele seja arquivado.
– A aprovação de um projeto como esse representa um retrocesso enorme à democracia e à liberdade de expressão artística e cultural – critica o pesolista.
Principais prejudicados, os humoristas lamentam a iniciativa do deputado do PMDB. A medida afeta diretamente o trabalho do ator cabista Lucas Fialho, que encena, vestido de freira, a peça de sucesso ‘As Irmãs’.
– É uma forma de censura. Não desrespeitamos ninguém. Levam religião a sério demais, precisam abrir a mente – disse.
Seu colega Rodrigo Rodrigues concorda.
– Como isso? Tô ferrado né! Isso me afeta em número gênero e grau. Qual é o limite da sátira? Qual o limite da ofensa alheia? – questiona Rodrigues.
Mesmo entre religiosos, como o pastor Neemias Lima, evangélico como Fábio Silva, o assunto é visto com reservas.
– A princípio sou contra qualquer tipo de retaliação artística e cultural, mas é preciso observar e respeitar o direito do outro.