Movimento #OcupaPrefeitura volta a ocupar a praça na tarde desta quarta-feira (19)
Atuação dos agentes da Prefeitura e da Polícia Militar é repudiada
NICIA CARVALHO
“O porão era embaixo das escadas da delegacia, o lugar disponível para sentar era uma privada e por companhia um preso. Eu estava apenas de saia e biquíni quando recebi um jato de água fria na presença de outros policiais. As seis pessoas que foram presas comigo ouviram enquanto eles debochavam, inclusive quando eu tive crise de convulsão, por duas vezes. Meus olhos ardiam e só fui levada para a UPA cerca de duas horas depois. Uma sensação horrível de humilhação e indignação. Mas vamos resistir”. Com as palavras saindo firmes e avançando como uma dura pancada no lamentável episódio de anteontem, a cantora Taz Mureb retomou, na tarde de ontem, o lugar que vinha ocupando nos últimos dias: a frente da Prefeitura de Cabo Frio. Desta vez, além dela e dos artistas de rua, pai, mãe, tios, irmãos e até o filho de seis anos da cantora aderiram ao manifesto #OcupaPrefeitura.
– A atitude arbitrária deles (polícia e Fiscalização de Postura) só me deu mais força para continuar na luta, até porque reivindico um direito adquirido. Fomos tratados como bandidos, marginais, até mesmo pelos comissionados que gravavam e vaiavam da janela da prefeitura nosso pedido de ajuda – desabafou a rapper, na tarde de ontem, enquanto aguardava para fazer o exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).
Ela conta que o exame não pôde ser feito na terça, dia do embate com a Polícia Militar e os fiscais de Posturas, porque havia vários corpos esperando por autópsia, segundo alegaram os próprios funcionários.
Os depoimentos da cantora sobre o comportamento dos policiais e dos fiscais de Postura, que pode ser conferido em vídeo postado pela Folha no Facebook anteontem, vai acarretar investigações internas dos órgãos competentes para julgar se realmente houve excesso ou não.
Autoridades prometem investigação dos fatos
De acordo com a delegada Flávia Monteiro de Barros, titular da 126º DP (Cabo Frio), toda a atuação dos agentes da lei ser investigada. Ela afirma ainda que, anteontem, além da autuação por desacato a autoridade que deteve Taz Mureb e outros cinco ativistas na delegacia, foi registrado também um Registro de Abuso de Autoridade para apurar se houve excesso na atuação dos policiais civis, quando os manifestantes já estavam dentro da delegacia.
Intervenção na praça é criticada
A falta de tato, para dizer o mínimo, da atuação da Polícia Militar e dos agentes da Superintendência de Fiscalização e Posturas da Prefeitura de Cabo Frio na desocupação forçada de artistas da Praça Tiradentes, anteontem, gerou manifestações de repúdio no circuito político da cidade. A atitude foi classificada de “truculenta”, “desnecessária” e que “o pagamento só sairá por conta da pressão dos artistas”. Por outro lado, há quem considere que a ação tenha sido realizada como forma de conter manifestantes exaltados.
Na opinião do vereador Aquiles Barreto (SD), a manifestação da cantora Taz Mureb e dos artistas que se uniram a ela ganhou força nas redes sociais e a atuação da polícia “legitimou ainda mais o protesto”.
– A comoção pelo protesto, que era legítimo, foi muito grande e isso pressionou o prefeito. Creio que ele vá pagar por conta da pressão dela e dos artistas. Não cabia à PM agir de forma truculenta. Se ela se excedeu, caberia até pedido para que ela se retratasse, mas nunca spray de pimenta no rosto – afirmou.
O deputado federal Marquinho Mendes (PMDB) criticou a atitude dos agentes da lei, que chamou de “desnecessária”.
– Sou contra esta atitude, ainda mais por se tratar de uma manifestação pacífica, justa, ordeira, que tem que ser respeitada por todos os governos e pela polícia. Existe um programa [Proedi] que é lei e não está sendo cumprido. Não havia necessidade de spray, era uma mulher rendida – afirmou o ex-prefeito.
O vereador Marcello Corrêa (PP), que é presidente da Câmara e filho do prefeito Alair Corrêa, considerou que a ação da Polícia Militar deve ser averiguada pela própria corporação.
– Mesmo com a promessa de pagamento do Executivo, o grupo decidiu continuar acampado em frente à Prefeitura. Além disso, a vida pessoal do prefeito também se tornou alvo dos manifestantes, o que é desrespeitoso. Sou a favor de o indivíduo lutar por direitos, mas que faça isso através de manifestações e atos pacíficos, e acima de tudo, com coerência e respeito. A PM fez a parte dela, que foi conter o grupo que se exaltou quando foi solicitada a sua retirada – disse.
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