Folha dos Lagos 35 anos: o legado do jornal, segundo especialistas na história e memória da região
No próximo dia 30, a Folha dos Lagos completa 35 anos de circulação ininterrupta. Ao longo dessas mais de três décadas, o jornal — que começou como publicação impressa e hoje também está presente nos meios digitais — vem sendo reconhecido por especialistas em memória, patrimônio e história local como um importante guardião da história recente de Cabo Frio e da Região dos Lagos.
Para José Francisco de Moura (professor de História e estudioso da imprensa regional), Guilherme Guaral (professor universitário), Luiz Guilherme Scaldaferri (autor de inúmeros livros sobre a história de Cabo Frio) e Ivo Barreto (arquiteto, especialista em memória e patrimônio), a Folha ocupa papel fundamental na construção da memória coletiva e na preservação dos registros sociais e políticos da região.
Ivo Barreto considera um privilégio para a região ter um veículo de imprensa que chega aos 35 anos:
— Acaba sendo o depositário e registro de um processo histórico que muitas vezes não está nos livros. Num primeiro momento, informativo; e, em seguida, documental.
Quem realiza pesquisa científica sempre recorre aos jornais para compreender contextos políticos, para compreender quem eram as pessoas que vinham participando ativamente da construção e da transformação dos lugares, sobretudo em Cabo Frio, que, a partir da década de 1950, teve uma transformação muito vigorosa em função da chegada do turismo. Acho que passa a ser papel não só do jornal, mas também das instituições de pesquisa e das instituições públicas preocupadas com memória, zelar por essa memória também, entender que esse acervo produzido (pela Folha) em 35 anos precisa ser tratado, documentado e estar disponível para pesquisa pública, porque é a partir dele que tantas outras pesquisas vão se constituir de maneira mais atenta às transformações que a cidade já passou — avaliou.
Especialmente em relação à Folha, Ivo disse haver uma característica muito particular que precisa ser notada:
— Sempre foi um jornal muito preocupado com a questão regional, com a questão da memória regional. Não é à toa que decorre dessa preocupação a iniciativa da criação da editora Sophia, por exemplo, que vem desempenhando um papel muito importante na construção de um acervo que conta, que se dedica exclusivamente a essa história, tendo uma linha de trabalho dedicada à memória regional. Essa semente, embora floresça na editora Sophia na sua plenitude, foi plantada, de alguma forma, nesses 35 anos de jornal, que continua demonstrando essa preocupação com a memória e continua colaborando com a construção dessa memória ao longo do tempo — revelou.
Professor de História, pesquisador e colecionador de jornais antigos, José Francisco de Moura reforçou a importância da Folha dos Lagos como o jornal mais longevo da história da cidade.
— O jornal já bateu o recorde. Nenhum jornal teve tanto tempo em circulação ininterrupta quanto a Folha dos Lagos. Então ela tem um papel fundamental deixado na história de Cabo Frio, que é o jornal mais antigo da cidade. Só nisso aí já conseguiu um feito, porque o jornal mais antigo depois da Folha é O Arauto, que teve alguma coisa em torno de 13, 14 anos — revelou o professor.
Chicão (como é conhecido o historiador) também pontuou que a Folha tem um papel importante na questão crítica, revelando o que foi realizado em Cabo Frio ao longo dos últimos 35 anos.
— Então, ela atravessou, sei lá, sete prefeitos, noticiando o que eles fizeram de bom e de ruim, o que a Câmara fez de bom e de ruim. Ao divulgar, para o bem e para o mal, todos os atos que acontecem na cidade, de certa forma, ela influencia o comportamento das pessoas e também acaba sofrendo influências da época. Politicamente falando, todos esses feitos divulgados pela Folha foram fundamentais para entender a história da nossa época. Por isso, a Folha dos Lagos acabou sendo o veículo mais importante, pela sua durabilidade ininterrupta.
Autor de divsos livros sobre a história regional, Luiz Guilherme Scaldaferri reforça:
— A credibilidade da Folha, construída ao longo de 35 anos, é fundamental para formar a opinião pública da Região dos Lagos. O papel da imprensa na construção da memória coletiva da Região dos Lagos é muito importante, porque nós temos as nossas peculiaridades, e essas particularidades não são retratadas na grande imprensa. A imprensa local tem uma relevância muito grande nesse aspecto.
Já o professor e pesquisador Guilherme Guaral afirma que é preciso valorizar os jornais locais como ferramentas de registro e análise da vida cotidiana das cidades.
— Todo periódico ajuda a criar memória sobre o lugar. E a Folha foi fundamental, não só para a memória de Cabo Frio, mas para a região. Durante tanto tempo, é grande fonte sobre o que acontece na cidade em termos políticos, culturais e sociais também. Então, de fato, a Folha e seu posicionamento, às vezes crítico, fizeram parte desse cotidiano, dessa história político-cultural. Foi e continua ainda sendo importante.