Pais de alunos denunciam falta de estrutura nas escolas municipais de Cabo Frio
Falta de climatização das salas de aula é apenas um dos vários problemas apontados também pelo último censo escolar
Pais de alunos da rede municipal de Cabo Frio estão denunciando a precariedade na estrutura de algumas escolas da cidade. Segundo eles, as aulas foram retomadas sem que todas as salas de aulas estejam climatizadas, causando desconforto e colocando em risco a saúde dos estudantes. Com as altas temperaturas registradas na cidade, crianças e adolescentes têm enfrentado dificuldades para se concentrar, além de relatarem casos de mal-estar, como tonturas e dores de cabeça.
Pai de um aluno da Escola Municipal Vereador Leaquim Schuindt, no Jardim Esperança, um homem identificado como Lucas entrou em contato com a Folha dos Lagos. Segundo ele, “alunos e professores estão sofrendo com esse calor intenso”.
– Somente as duas salas do térreo são climatizadas. Todas as salas de cima não são - relatou.
Nas redes sociais é comum o relato de outros pais de alunos denunciando a mesma situação: “Na Escola Teixeira e Souza (Porto do Carro), e na Catharina da Silveira Cordeiro (Monte Alegre) os alunos também estão queimando calorias”, postou uma pessoa.
– Por isso eles não deixam os pais entrar na escola. Está explicado, é para não ver as covardias que estão acontecendo dentro dessa escola - contou um homem identificado como Felipe do Jardim.
Vania Berlanda disse que a situação se repete na Escola Maria Dária, no Jardim Esperança.
– Um refeitório imenso para 450 alunos e que tem somente dois ventiladores. As crianças e cozinheiras se sentem como frangos na brasa.
A falta de investimentos, e as condições estruturais precárias nas escolas da rede municipal de Cabo Frio também foram alvo de recente denúncia do Sepe Lagos (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro , núcleo Região dos Lagos). Segundo o órgão, não há diálogo por parte do prefeito de Cabo Frio, Serginho Azevedo, nem do secretário municipal de Educação, Alfredo Gonçalves, “que insistem em ignorar os reiterados pedidos de audiência para discutir a pauta de reivindicações da categoria”.
Em comunicado, o sindicato afirma que desde o dia 3 de janeiro tem enviado ofícios solicitando reunião “para tratar de questões críticas que afetam diretamente os profissionais da educação e, consequentemente, a qualidade do ensino oferecido na rede municipal”. Mas nenhuma resposta oficial teria sido dada.
“A situação é ainda mais grave quando se observa o cenário caótico enfrentado no início deste ano letivo. A falta de profissionais, o processo seletivo simplificado marcado pela falta de transparência e o desrespeito ao edital do certame e a morosidade na convocação dos aprovados em concurso são apenas alguns dos problemas que têm prejudicado imensamente o funcionamento das escolas. Além disso, as unidades escolares enfrentam sérios problemas estruturais, com condições edilícias precárias, falta de ventilação e climatização adequadas, agravadas por uma das ondas de calor mais severas da história do estado do Rio de Janeiro. Diversas escolas têm liberado alunos mais cedo ou suspendido aulas em determinados dias da semana, diante da inviabilidade de manter o pleno funcionamento em meio a tantas adversidades” - afirmou o Sepe em nota.
Ainda de acordo com o sindicato, a crise estrutural enfrentada pelas escolas municipais é “sem precedentes”. A falta de investimento em infraestrutura, segundo o órgão, tem deixado as unidades em condições precárias, “com salas de aula superlotadas, falta de ventilação e climatização adequadas, e problemas elétricos e hidráulicos que comprometem o ambiente de aprendizagem”. Em meio a uma onda de calor histórica, com temperaturas que ultrapassam os 40°C, o Sepe afirma que a situação se tornou insustentável, colocando em risco a saúde de alunos e profissionais.
A Folha questionou a Prefeitura sobre a falta de climatização nas salas de aula, mas não houve resposta. De acordo com o censo escolar de 2023, este não é o único problema estrutural nas escolas municipais da cidade. Das 88 unidades educacionais administradas pelo governo municipal, 48% ainda não possuem acessibilidade, e 36% não têm sequer banheiros acessíveis.
Apenas 15 escolas possuem bibliotecas, 25 possuem laboratório de informática e 14 possuem laboratório de ciências. Menos da metade das escolas municipais (47%) têm quadra de esportes. Nem todas possuem sala de diretoria ou sala de professores. Oito escolas não possuem água tratada (em seis delas a água utilizada é de poço). Das 88 escolas, 20 não têm rede pública de esgoto.