Tona Galea: o acidente que mudou a história dos passeios náuticos em Cabo Frio
A cobertura da tragédia, em abril de 2003, ganhou reportagem especial do jornal na época
Em abril deste ano a Folha dos Lagos vai celebrar 35 anos de muitas histórias. Para celebrar a data, o jornal está lançando uma série com o objetivo de relembrar reportagens marcantes que consolidaram o papel do veículo no jornalismo regional. Nesta edição de estreia, o destaque é a cobertura do naufrágio do barco Tona Galea, ocorrido no dia 19 de abril de 2003 próximo à Praia do Forte, em Cabo Frio. O trágico acidente, que mobilizou esforços de resgate, foi um dos momentos que reafirmaram o compromisso do jornal em registrar fatos de grande impacto na Região dos Lagos.
– Esse acidente teve dois momentos muito marcantes pra mim: o primeiro foi quando consegui entrar no IML para fazer fotos e vi que iam começar a fazer os procedimentos no corpo de uma criança. O outro foi quando os caixões foram levados para o teatro, e colocados um ao lado do outro. Aquela imagem mexeu muito comigo - explicou Ernandes.
O acidente com o Tona Galea aconteceu por volta das 12h20 próximo à Boca da Barra (entrada do canal do Itajuru) e a Praia do Forte. Segundo a Marinha, o barco tinha capacidade para 78 passageiros e dois tripulantes. Na hora do acidente havia 64 pessoas a bordo: 15 morreram após a embarcação virar entre a Praia do Forte e a Ilha dos Papagaios. Entre as vítimas estavam duas crianças. Na época, sobreviventes contaram que o barco tinha feito uma parada para mergulho na Ilha dos Papagaios, e que o acidente aconteceu quando a embarcação se preparava para entrar na Boca da Barra e acessar o Canal do Itajuru.
Em depoimento, o então comandante do Tona Galea, Norberto Guimarães da Silveira, 72, disse à polícia que tudo "foi uma triste coincidência de fatores negativos". Segundo ele, uma onda e uma rajada de vento mais forte atingiram o barco ao mesmo tempo. Os passageiros foram jogados violentamente para um único lado e, por causa do peso, a embarcação virou. Apesar de possuir coletes salva-vidas, ninguém estava usando.
Todas as vítimas eram turistas vindos de Minas Gerais, São Paulo e outras cidades do estado do Rio de Janeiro. O trabalho de busca e identificação dos corpos levou dois dias. Por causa do vento forte e da maré alta, bombeiros, mergulhadores e demais equipes de apoio, além de dois helicópteros da Defesa Civil precisaram suspender as buscas de possíveis desaparecidos no início da noite do acidente. Os sobreviventes foram socorridos por outras embarcações de passeio e barcos particulares que passavam pela área.
Uma nota emitida pelo Comando do 1º Distrito Naval afirmou que o Tona Galea havia sido vistoriado pela Agência da Capitania dos Portos de Cabo Frio em 26 de dezembro de 2002: a nota afirmava que o barco estava em perfeito estado de conservação e os tripulantes habilitados. Autoridades também informaram que na hora do acidente o mar estava agitado e com rajadas de ventos de 45 nós (cerca de 85 km por hora). O engenheiro naval José Henrique Sanglard, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse que, por ter fundo chato, o Tona Galea não poderia navegar em alto-mar. "Barcos de fundo chato não são próprios para navegar em locais onde o meio ambiente se manifesta de forma agressiva. O fundo chato é sensível a ondas fortes e ventos", afirmou o engenheiro na época.
Após o acidente, todos os passeios de barco foram temporariamente suspensos, e novas legislações foram criadas com o objetivo de dar mais segurança ao passeio turístico. Uma delas (lei nº 1735) foi criada no mesmo ano do acidente. O texto dispõe sobre o ordenamento e funcionamento dos serviços e atividades de transporte de passageiros em embarcações de turismo, e considera como transporte de passageiros a exploração comercial dos dispositivos flutuantes denominados banana boat, pula-pula aquático, bóia elástica, Ski-surf, kite surf e ski aquático, além do transporte de pessoas para a prática do mergulho recreativo. Também especifica regras e define quem são os órgãos fiscalizadores.