Do quilombo para o mundo: jovem aldeense segue para terceiro intercâmbio internacional
Wagner Muniz viaja em dezembro para a Universidade de Córdoba, na Argentina
Nesta segunda (dia 02/12) o professor Wagner de Souza Muniz viaja rumo à Universidade de Córdoba, na Argentina, para um intercâmbio de pouco mais de uma semana. Ex-aluno do Ciep 146 Professor Cordelino Teixeira Paulo, em São Pedro da Aldeia, o jovem, de apenas 24 anos, mora no quilombo da Caveira, no bairro rural de Botafogo, na cidade aldeense. Hoje ele é formado em Direito; dá aula de Direito Penal e Processo Penal na Universidade Estácio de Sá, em Cabo Frio; é especialista em ciências criminais e direito internacional, e voluntário da Unicef Brasil.
Na bagagem, Wagner leva uma história de vida repleta de dificuldades, mas também de superações vencidas através dos estudos e do ativismo.
– Vou viajar no dia do meu aniversário de 25 anos. Vai ser um intercâmbio de curta duração (cerca de uma semana e meia), onde vou fazer uma troca com a instituição, conhecer a cultura e o ensino deles através de um programa da Universidade Estácio de Sá aberto ao Brasil inteiro. Recebi o convite, fui aprovado não só no teste de proficiência na língua espanhola mas também no meu rendimento como professor e como aluno. Fiquei sabendo do resultado através de um e-mail que recebi. No dia eu estava em sala, dando aula, e fiquei muito feliz - revelou Wagner em conversa com a Folha.
Este, no entanto, não será o primeiro intercâmbio internacional do jovem acadêmico. Ainda durante a graduação em Direito, Wagner foi para uma universidade de Coimbra, em Portugal. E durante o mestrado passou para a Universidade da Califórnia, após ter sido selecionado através de um projeto de cooperação acadêmica internacional entre a Estácio e a instituição norte-americana. Na pesquisa, que continua em andamento, Wagner aborda o crime de perseguição conhecido como stalking.
– Estou no curso de mestrado ainda, e o intercâmbio na Califórnia está na reta final. Estou escrevendo a dissertação. Mas o intercâmbio nos Estados Unidos não interfere neste novo, da Argentina, porque além de ser de curta duração, é como se fosse intercâmbio de férias. Vou ficar menos de duas semanas na Argentina estudando, no Direito, a questão da inteligência artificial e o cenário global, e inteligências emocionais. Mas vai ter passeios e aula de tango porque o objetivo também é internacionalizar e conversar com as culturas brasileira e argentina, e ver como isso pode fomentar a pesquisa e o desenvolvimento e a academia - explicou.
Para Wagner, todas essas conquistas representam uma faísca que tem como objetivo incentivar outros jovens, e que começou a ser acesa quando ainda era estudante do Ciep Cordelino Teixeira Paulo. Lá ele foi presidente do grêmio estudantil e representante de turma. Também promovia rodas de conversa, debates sobre direitos, cidadania e importância da educação. Em 2016, aos 16 anos, elegeu-se para o Parlamento Juvenil da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), representando São Pedro da Aldeia, e hoje ele dá palestra para outros jovens do parlamento juvenil.
– Essa faísca é uma chama especial que eu deixei brilhar, e através dela posso iluminar outras pessoas, muitos outros jovens, sonhadores. Principalmente porque eu não deixei que o preconceito, a discriminação, o racismo me parassem. Mesmo sendo um jovem negro, de 24 anos de idade, vindo de comunidade quilombola e escola da rede pública, me tornei professor universitário, que estou indo para o meu terceiro intercâmbio internacional. Acho incrível olhar para trás e ver o tanto que eu consegui caminhar e o tanto que eu estou conseguindo inspirar outros jovens, outros sonhadores, outras pessoas que almejam alcançar alguma coisa. Então, a mensagem que eu deixo é exatamente isso: de acender essa faísca que todos carregamos dentro de nós, essa chama especial esperando para ser acesa. Em vez de guardar nossos talentos, paixões e sonhos, podemos decidir brilhar e mostrar ao mundo quem realmente somos. Por mais que as circunstâncias sejam desafiadoras ou pareçam obscurecer nosso brilho, cada um de nós tem o poder de transformar a própria luz em uma faísca vibrante, cheia de cor e vida. Acender essa luz é um ato de coragem e autenticidade, uma maneira de inspirar outros e iluminar o nosso caminho, fazendo da nossa existência algo realmente único e valioso - revelou.