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De volta a Cabo Frio, Nelson Freitas pede reabertura do teatro e manda recado para o prefeito eleito

"Por favor, coloque um esforço especial para devolver esse teatro à comunidade", pediu o ator, que estreou no stand up comedy em Cabo Frio

11 NOV 2024 • POR Cristiane Zotich • 10h41

Vinte e um anos após estrear o primeiro stand up comedy de sua carreira, no Teatro Municipal de Cabo Frio, o ator Nelson Freitas retorna à cidade nesta sexta-feira (15) com o show “Nelson Freitas e Vocês”. Diferente da primeira vez, a apresentação será no Hotel Paradiso Corporate, já que o teatro municipal está fechado há quase oito anos por conta de reformas anunciadas e nunca concluídas. Com sessão única às 21h, os ingressos já estão à venda pelo site Sympla.

Enquanto se preparava para o retorno a Cabo Frio, Nelson bateu um papo com a equipe da Folha pelo whatsapp. Na conversa, o ator relembrou com saudade a passagem pela cidade em 2003, falou da tristeza de ver o teatro municipal fechado, mandou um recado para o futuro prefeito (dr Serginho) e fez um desejo de aniversário em homenagem aos 409 anos da cidade, nesta quarta-feira (13).

Folha - Seu primeiro espetáculo solo foi em 2003 no Teatro Municipal de Cabo Frio. Como é retornar à cidade 21 anos depois?
Nelson -
Nossa Senhora da Bicicletinha… Nem me lembrava que foi em 2003 lá no Teatro Municipal de Cabo Frio. Puxa vida… 21 anos depois a minha vida deu tantas reviravoltas porque eu comecei no Zorra (Total, programa de humor da Rede Globo) em 2001. E aí “fingi” ser comediante durante esse tempo todo (risos). Mas a história desse primeiro espetáculo foi muito “sui generis” porque eu estava ensaiando um espetáculo com Fernando Wellington e o Raul Gazolla, que acabou não acontecendo. Mas a data ficou marcada. Quando faltava uma semana para o espetáculo, o Olavo Carvalho, esse queridíssimo amigo de tantas guerrilhas, falou “Nelson, a data está reservada”. E eu falei “puxa vida, Olavo, eu não vou. A gente parou. Não tá mais trabalhando esse espetáculo”. E ele: “faz qualquer coisa”. Falei “como assim, qualquer coisa?”. E ele: “sobe no palco e fala besteira, conta piada, canta uma música…” e assim foi. Meu amor, foi uma aventura. E não é que acabou dando certo? 

Folha - Você lembra como foi o processo de criação daquele primeiro stand up?
Nelson -
O processo de criação foi na porrada. Eu subi ali no palco… Em verdade levei mais uns músicos comigo porque quando eu achava que podia ser artista, eu queria cantar. O meu sonho era ser cantor. E aí fiz um curso de teatro e nunca mais parei de trabalhar como ator. Mas sempre tive uma proximidade muito grande com a música, tanto é que fiz 20 musicais. Musical é um lugar que eu me sinto muito bem. Então levei uns músicos, uns amigos, e chamei aí também o Norberto para dar um uma canja porque é um guitarrista fantástico. E acabou que a gente ficou quase duas horas no palco, e eu disse “meu Deus do céu. Vocês não me avisam. Tem que parar esse troço, gente. Eu tô há mais duas horas…” e a platéia dizendo “não, não, continua…”. Meu Deus, foi emocionante. 

Folha - De lá pra cá, o que mudou nesse processo de criação? 
Nelson -
De lá pra cá a gente preparou uma coisa mais efetiva. Eu acabei criando junto com o Raul Gazolla - meu grande parceiro, meu irmão, compadre - um show chamado “O Micofone”, e talvez tenha sido a primeira vez que que a gente fez, aqui no Brasil, um stand up de dois. Depois teve o Marcius Melhem com o (Leandro) Hassum, a Lolô (Heloísa Perissé) com a Ingrid (Guimarães) e tantos outros. Se bem que não era muito stand up, era mais um show de humor, mesmo. A gente tinha quadros distintos. Era um show de humor nos moldes dos antigos comediantes como Jô Soares, Chico Anysio, Zé de Vasconcelos… essa foi sempre a nossa pegada, ligado muito a estrutura de piadas. E no stand up não rola piada: são só observações curiosas e engraçadas do cotidiano. 

Folha - Como foi a experiência de se apresentar no teatro municipal na época? Tem alguma lembrança especial daquela primeira apresentação?
Nelson -
Ah, foi fantástico aquele momento. Foi quando eu tive a sensação de perceber que eu poderia ficar à vontade, e que eu seguraria um espetáculo sozinho. Como eu disse há pouco, fiquei mais de duas horas no palco e as pessoas gostando do que estavam vendo. Aquilo foi de uma emoção muito grande, porque em algum lugar da minha cabeça, como eu sou um otimista de primeira grandeza e, inconscientemente, eu sempre operei com a lei da atração, eu me imaginava… eu sonhava em estar num palco de uma forma assim, meio arena, como é o Teatro Municipal de Cabo Frio. Ele é meio curvado, né? E eu tinha sonhado com aquilo, sonhado acordado, projetado aquilo na minha cabeça. Então, no meio do espetáculo de 2003, que foi no susto porque o Olavo (Carvalho) praticamente me empurrou pra dentro do palco, eu me toquei que estava ali realizando um sonho que eu tinha, um projeto… E isso foi uma das coisas mais interessantes. Foi uma coisa meio ligada um pouco ao divino. Agradecimentos eternos ao Olavo. Talvez eu tivesse me encontrado posteriormente com esse caminho, mas ali naquele momento, Olavo (foto) foi o pai da criança. 

Folha - O teatro municipal está fechado há quase 8 anos. Como você vê o impacto disso na formação de novos artistas e no acesso da população ao teatro?
Nelson -
Puxa vida, é realmente um impacto terrível, porque o teatro é para ser usado com o objetivo de arte, de cultura, de entretenimento. Eu fico esperando que ele esteja fechado para a reformas, para que ele possa, quando abrir, continuar o seu legado dentro dessa proposta. Porque o desenvolvimento de uma sociedade está muito ligado à maneira como ela expressa e como ela vive a cultura, e o teatro fechado é uma coisa quase que trágica para a comunidade, para Cabo Frio e para a região. Então, vamos esperar que ele possa reabrir em grande estilo.

Folha -  Em janeiro Cabo Frio terá um novo governo. Tendo em vista todo esse cenário, que recado você mandaria pra ele?
Nelson -
O que nós, fãs do do teatro, e eu, que sou fã de Cabo Frio, da comunidade Cabo Frio, e tenho esse carinho pela cidade por ter estreado nela em comédia, podemos dizer é: por favor, coloque um esforço especial para devolver esse teatro à comunidade e à classe artística, para manter Cabo Frio e seu teatro no roteiro artístico cultural como ele sempre foi, exercendo essa função de trazer luz, entretenimento, risadas e emoções. Quando eu digo minha estreia em comédia, quero dizer em formato solo, porque eu já tinha feito algumas outras comédias na minha vida com Ary Fontoura, Suely Franco, e uma gama de outros atores e diretores, mas o solo foi realmente, como eu disse, em Cabo Frio. 

Folha - Dia 13 novembro é aniversário de Cabo Frio. Qual seria sua sugestão de presente para a cidade?
Nelson -
Olha, eu nem imaginava isso. Boa dica para a gente poder trazer homenagens durante a minha apresentação, né? Talvez a sugestão de presente seja a reabertura do teatro. Por que não? 

Folha - Qual a expectativa para esse novo espetáculo na cidade? O que o público pode esperar?
Nelson -
Não é um novo espetáculo. Durante muitos anos eu acabei fazendo o “Nelson Freitas e Vocês” com direção do Chico Anysio, em 2007. Ele acabou indo embora em 2012, com muita tristeza para toda a nação brasileira, e eu continuei com esse show durante muito tempo. Os tempos mudaram, eu parei de fazer o “Nelson Freitas e Vocês”, e comecei com uma banda, a Big Time Orchestra, a exercer esse meu lado musical. Depois da pandemia eu inaugurei o meu canal no YouTube, o “Nelson Freitas Oficial” - que, a propósito, eu convido todos para se inscreverem porque é um canal positivo de desenvolvimento pessoal, onde não falamos de política nem de doenças, nada disso, só falamos das coisas do coração e do orgulho da gente poder continuar cada um a sua trajetória, o seu legado de vida. A partir daí eu comecei a fazer palestras, e nesses último um ano e meio eu me tornei um palestrante “faixa branca”, mas a cada apresentação tentando melhorar, tentando aprimorar minha entrega. O nome da palestra é “O riso é um negócio sério”, onde a gente tenta trazer a leveza do humor para o ambiente corporativo, porque a felicidade e o bem estar dão lucro. Então, essa apresentação do dia 15 de novembro, ela mistura um pouco de algumas cartas da manga e de números que eu já tinha e que sempre funcionaram, guardando as devidas transformações do politicamente correto porque os tempos mudaram e coisas que se falavam antigamente hoje não se falam mais. Então, eu misturo um pouco dessa reflexão sobre “O riso é um negócio sério” juntando com um pouco mais de picardia do resgate do “Nelson Freitas e Vocês” em homenagem ao nosso amado mestre Chico Anysio. Eu espero que vocês gostem. E até já. Um anzol e um queijo, um abraço e um beijo, que são as frases finais do meu canal.