Cultura

OPINIÃO | RAPHA FERREIRA | Cultura cabo-friense sem ponto de equilíbrio

25 OUT 2024 • POR Redação • 11h03

Vladimir Safatle certa vez afirmou algo que repercutiu negativamente entre as esquerdas. Sua afirmação? “A esquerda brasileira morreu!”. Se não morreu, está a caminho de seu óbito. Por que trago essa questão logo de início nesse texto? Devido às forças políticas que se insurgiram no processo político da cidade de Cabo Frio e que agora debandam sem qualquer comprometimento com seus cidadãos. A vida do integrante da banda Ponto de Equilíbrio não sofrerá o impacto que os trabalhadores das artes em Cabo Frio sofrerão. Grosso modo, a vida do secretário de Cultura, Márcio Sampaio, está resolvida, ganha, por assim dizer. Pode-se dizer o mesmo dos seus aliados políticos. Isso é a demonstração de que fazer parte da classe artística não transforma qualquer pessoa em alguém empático com as demandas do segmento. Talvez sua estadia aqui no município nunca tenha sido sobre políticas culturais, pois o secretário não tem nenhuma conquista pertinente que se possa atribuir em nome da classe dos trabalhadores das artes. 

Ponho-me a tergiversar sobre esse assunto por causa da iminente derrota que os fazedores da cultura cabo-friense podem acabar sofrendo, mesmo que em nossa cadeira secretarial esteja um indivíduo das artes. O que será da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) em Cabo Frio? O governo federal irá prorrogar o prazo de execução? E, mesmo que prorrogue, isso pode ser encarado como vitória para a classe? A meu ver é uma derrota esmagadora! Pois a Política Nacional Aldir Blanc é uma lei anual. E, não ocorrendo neste ano letivo, entende-se que não houve então a execução correta. Nota-se que a PNAB está em um equilíbrio dramático. Há curto prazo de execução. Se isso não acontecer, R$ 1.495.306,51 poderão ser devolvidos à União.

Alguns podem questionar os porquês dos fazedores de cultura não procurarem as instâncias administrativas da Cultura. Saliento que não é responsabilidade a execução da Lei por parte dos trabalhadores, mas da administração que está responsável pela execução. É responsabilidade do secretário fazer fruir as políticas culturais que são atribuídas à sua secretaria. Não sendo assim, este estaria incorrendo em má administração da verba pública. E aqui volto a questionar a esquerda, mais precisamente o PT - Partido dos Trabalhadores, que nem de esquerda, a meu ver, pode ser chamado, já que se tornou um partido trabalhista liberal, com campanhas fiscais ineficientes para o bolso do cidadão comum, com seus acordos políticos em detrimento de projetos de poder locais, visando sempre a execução do orçamento.

Então onde nos cabe como prioridade neste método de administração? Onde nós, trabalhadores da cultura, produtores culturais e artistas podemos recorrer para cobrar a celeridade da aplicação da PNAB senão por meio dos meios de comunicação e das redes sociais, com o intuito de conclamar uma coletividade organizada e apta a enfrentar os mandos e desmandos da administração pública da cultura de Cabo Frio, sua apatia e indiferença frente aos problemas da classe? 

Os indivíduos políticos da esfera Estadual e Federal que se envolveram nessa relação com a prefeita Magdala, que nunca se solidarizou com a classe, agora tenderiam a ajudar os fazedores de cultura com suas demandas, projetos e financiamentos? As articulações como estas que envolvem um artista de banda como secretário, obviamente devido ao apoio de sua mãe ministra, faz padecer projetos fecundos que poderiam dar fôlego e suporte a muitos artistas no ano de seu mandato. O equilíbrio só se encontra no nome da banda, não na aplicação das suas responsabilidades como secretário. E mais um ano se encerra com os trabalhadores das artes tendo que partir em confronto com a administração política e pública, sem a execução do PROEDI e da PNAB. Será possível reverter este cenário faltando apenas dois meses para encerrar o seu mandato? Nós, artistas, não nos abateremos nesse confronto, mesmo com a batalha desproporcional que é brigar com a administração pública. Será que Vladimir Safatle não está certo sobre a morte da esquerda? Esta esquerda que mesmo no poder não se insurge contra as políticas liberais que prejudicam os trabalhadores. Que conduz uma administração pública não mais interessada em ajudar os trabalhadores e fazedores das artes, mas em produzir proselitismo de classe e criar discursos dúbios em relação à importância dos homens e mulheres trabalhadores necessitados de suporte do Estado? Márcio Sampaio é a prova do que Safatle afirma: sua persona como representante da esquerda que se encontra no poder se mostra inepta para ajudar os trabalhadores das artes de Cabo Frio.

Secretário, aonde você vai chegar assim?