Mulheres perdem espaço na eleição municipal em Cabo Frio
Além de ter trocado a primeira prefeita da cidade por um homem, município também é o único da região a não ter eleito nenhuma vereadora
Cabo Frio foi a única cidade da Região dos Lagos onde as mulheres perderam totalmente o espaço na eleição municipal do último domingo (6). Além de ter trocado a primeira prefeita mulher da história do município por um homem, os eleitores cabo-frienses também elegeram apenas vereadores do sexo masculino para ocupar as 17 vagas na Câmara Municipal. Carol Midori, que em 2020 foi a pessoa eleita com maior número de votos (2.450) no legislativo da cidade, teve apenas 969 este ano e ficou com a primeira suplência do partido União. Alexandra Codeço, que na eleição anterior entrou para a história política de Cabo Frio ao ser a primeira vereadora mulher reeleita vereadora na cidade, desta vez não teve a mesma experiência. Em 2016 ela se elegeu pela primeira vez com 1.661 votos; se reelegeu com 1.760 em 2020, e agora, mesmo tendo aumentado sua votação para 1.982, e sendo a mulher mais votada para a Câmara Municipal, não conseguiu uma cadeira: ela ocupa a segunda suplência do partido Republicanos.
– Realmente, em 2016 e 2020 tive menos votos e fui eleita, e agora, que foi a eleição onde mais tive votos, e fui a mulher mais votada na história de Cabo Frio, não entrei. Infelizmente acho que isso é reflexo d’eu não ter conseguido ir para um partido mais viável. Tentei muito ir para outros partidos, mas os candidatos não aceitaram e chegaram a falar para Verdinho “se ela entrar, eu saio” porque entendiam que uma vaga na Câmara seria minha. Então fui obrigada a me manter no Republicanos, que teve uma nominata com outros nomes também muito fortes, e infelizmente acabei não sendo eleita mesmo tendo mais votos do que nas duas últimas eleições. Mas minha vida está entregue a Deus e eu estou muito em paz porque todo o trabalho que eu tinha que fazer, eu fiz nesses dois mandatos como vereadora - contou Alexandra, que ainda pode fazer parte do governo do prefeito eleito, dr Serginho. “Serginho é uma pessoa muito justa. Trabalhamos juntos desde 2018. Temos um bom relacionamento de aliança e amizade. Por isso acredito que existe a possibilidade dele me puxar, sim. Talvez ele ache importante ter no governo alguém com minha experiência, minha voz e meu trabalho” - comentou. Assim como Codeço, Robnízia Martins foi a segunda mulher mais votada no último domingo, mas não se elegeu. Com 1.032 votos ela ocupa a primeira suplência do partido Avante.
Segundo o advogado Marcos Teixeira, a situação de Alexandra Codeço é mais comum do que parece, e acontece porque a forma de eleger vereadores e deputados estaduais e federais é diferente da forma como se elegem prefeitos, governadores e presidentes.
– A eleição para prefeito segue o sistema majoritário. Isso significa que o candidato mais votado vence a eleição, independentemente de quantos partidos ou candidatos concorrem. Já a eleição para vereadores segue o sistema proporcional, que não depende apenas da quantidade de votos que um candidato individualmente recebe, mas sim do desempenho geral do partido. Isso significa que mesmo candidatos com mais votos, como é o caso de Alexandra Codeço, podem não se eleger se o partido não atingir o quociente eleitoral necessário para garantir mais cadeiras na Câmara. Ao mesmo tempo, candidatos com menos votos, como é o caso de Jean da Auto Escola, que teve 1.683 votos (quase 300 a menos que Alexandra), conseguem se eleger porque o partido obteve um melhor desempenho geral. Isso acontece porque, no sistema proporcional, o número de cadeiras que cada partido conquista é baseado na soma total de votos que os candidatos da legenda recebem. Se o partido atinge o quociente eleitoral necessário, ele garante mais vagas, permitindo que candidatos com menos votos individuais, mas pertencentes a partidos com um desempenho melhor, sejam eleitos - explicou.
Em Araruama as mulheres também perderam espaço político na eleição de domingo, mas não totalmente. No Executivo a prefeita Lívia de Chiquinho (que tem como vice uma mulher, Raiana Soares Berling) conseguiu eleger uma chapa 100% feminina para dar continuidade ao seu mandato: Daniela de Lívia, e a vice Veronica do Café Capri, tiveram 54,44% dos votos válidos. No Legislativo, no entanto, o número de eleitas caiu de duas para uma. Em 2020 a Câmara teve como vereadoras Penha Bernardes (que desta vez disputou uma vaga para o Executivo, mas perdeu), e Roberta Barreto. Ela foi a mulher mais votada, há quatro anos, com 2.153 votos, a segunda mais votada este ano (sendo reeleita com 10 votos a mais), e a única mulher na nova composição da Câmara para o mandato de 2025/2028.
Em compensação, Arraial do Cabo, Búzios e Iguaba Grande saíram de nenhuma mulher eleita em 2020 para uma este ano. Na cidade cabista, Rafa Rocha foi a quarta pessoa mais votada entre os eleitos: teve 1.037 votos. No balneário buziano, Jô da Saúde ficou com a oitava vaga (de um total de nove) com 707 votos. Em Iguaba, Silvana Grimauth teve 365 votos em 2020 e ficou com a primeira suplência do partido Cidadania. Em maio de 2023 ela chegou a ocupar uma cadeira no legislativo com a saída de Paulo Rito, convocado pelo prefeito Vantoil Martins para assumir o cargo de secretário municipal do Envelhecimento Saudável e Melhor Idade. Este ano Silvana teve 380 votos, que foram anulados pela Justiça devido a problemas jurídicos. Mas, com 689 votos, Suely do Galpão assegurou uma das 11 vagas e se tornou a única mulher eleita para o mandato de 2025/2028.
Em São Pedro da Aldeia, Mislene de André foi eleita em 2020 com 1.394 votos, e reeleita este ano com 2.081. Nas duas eleições ela foi a pessoa mais votada para a Câmara Municipal entre todos os candidatos. Já Saquarema aumentou, este ano, o número de mulheres eleitas. Enquanto a prefeita Manoela Peres tem um homem como vice (Rômulo Gomes), para o mandato de 2025/2028 ela conseguiu eleger uma chapa 100% feminina para dar continuidade ao seu governo: Lucimar, e a vice Dra Raquel (que em 2020 foi eleita vereadora e a mulher mais votada do legislativo municipal com 1.247 votos), tiveram 81,68% dos votos válidos.
Para o legislativo municipal, Saquarema manteve as três cadeiras femininas. Elisia Rangel, que foi eleita em 2020 com 1.174 votos, reconquistou a vaga no domingo com 1.501. Adriana de Vander, que conseguiu uma vaga há quatro anos com 1.125 votos, desta vez retorna para um novo mandato com 1.900 votos. A terceira vaga ficou com dra Renata. Ela teve 2.185 votos, sendo a quinta mais votada entre todos os candidatos este ano.