Eleição de 2024 marca a derrota política de grandes caciques da região
Nomes como Janio, Marquinho Mendes, Chumbinho, Mirinho Braga, André Mônica, Andinho e Paulo Melo sofreram grande derrota nas urnas
As eleições municipais de 2024 trouxeram um recado claro das urnas na Região dos Lagos: o fim de uma era para alguns dos maiores nomes da política regional. Figuras que por décadas dominaram o cenário, ocupando cargos importantes e liderando disputas eleitorais, sofreram derrotas expressivas no último domingo (6). Segundo um especialista ouvido pela Folha, esse resultado aponta para uma nova configuração no poder regional, com a ascensão de lideranças emergentes e o enfraquecimento de antigos caciques políticos.
Em Cabo Frio são dois os exemplos claros dessa mudança. Janio Mendes, que já foi uma das figuras mais influentes da política local, acaba de amargar a maior derrota de sua carreira. Ex-deputado estadual por dois mandatos, e ex-vereador com cerca de quatro mandatos, sempre com votações expressivas, desta vez ele teve modestos 795 votos e não conquistou sequer uma suplência pelo PDT.
– Essa queda de Janio Mendes é reflexo do período em que exercia forte influência na cidade e, principalmente, no estado. Por conta de alguns de seus posicionamentos polêmicos a favor do governo e contra os trabalhadores, houve a perda de prestígio e um desgaste natural que atinge muitos políticos de carreira longa - explica o advogado João Augusto Nogueira.
Outro exemplo é o caso de Marquinho Mendes. Ex-vereador, ex-vice-prefeito, ex-deputado estadual e ex-prefeito cabo-friense, desta vez Marquinho não conseguiu concorrer por ainda estar inelegível (ele foi cassado de seu mandato como prefeito em 2018). Mas apostou em seu histórico e prestígio político para tentar eleger sua esposa vereadora. Não deu certo: Kamilla de Marquinho teve apenas 285 votos e não ficou nem como suplente do seu partido, o MDB. Além disso, Marquinho também falhou em emplacar sua candidata à prefeitura, Magdala Furtado.
– Essa é uma clara demonstração de que o poder político não é transferível automaticamente. O eleitorado de hoje está muito mais crítico e exigente, e o sobrenome ou o histórico de governo já não são suficientes para garantir votos - explicou João Augusto.
Em Saquarema, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Paulo Melo, também viu sua trajetória política desmoronar. Ele, que já foi um dos políticos mais poderosos do estado, desta vez não conseguiu se eleger prefeito da cidade que já foi governada por sua esposa, Franciane Motta. Com apenas 7.923 votos (12,03%), o experiente Paulo Melo perdeu a disputa para a novata Lucimar, que conquistou 53.788 votos (81,68%) com o apoio da atual prefeita Manoela Peres. A derrota de Melo, que durante anos manteve forte controle sobre o cenário político local, marca o enfraquecimento de sua influência, especialmente diante da ascensão de uma nova liderança respaldada pelo clã Peres.
– O caso de Paulo Melo é emblemático. Ele foi um dos políticos mais influentes do estado, mas sua imagem sofreu um desgaste considerável após os escândalos de corrupção e o tempo fora dos holofotes. A eleição de Lucimar, uma novata, demonstra que o eleitor quer novos nomes e propostas, principalmente em cidades menores, onde as lideranças tradicionais estão em declínio - analisou João Augusto Nogueira.
Ex-prefeito de Araruama e figura proeminente na política da cidade, André Mônica foi mais um cacique que no domingo (6) viu sua carreira sofrer um duro golpe. Como vice na chapa de Penha Bernardes, André obteve 29.564 votos (38,63%), mas foi derrotado pela novata Daniela de Lívia, que teve 41.664 votos (54,44%), impulsionada pelo apoio da prefeita Lívia de Chiquinho e do marido, o também ex-prefeito Chiquinho da Educação.
– Em Araruama, observamos uma mudança de paradigmas. A cidade está sendo moldada pelo grupo da prefeita Lívia de Chiquinho, e isso demonstra o poder que novas alianças políticas e estratégias têm em transformar o cenário local - avaliou João Augusto.
Mirinho Braga, que governou Búzios por três mandatos, também não conseguiu reverter o quadro de desgaste político. O ex-prefeito apoiou Rafael Aguiar para a prefeitura, mas o candidato conquistou apenas 7.465 votos (28,88%), ficando muito atrás de Alexandre Martins, reeleito com 17.517 votos (67,77%). O resultado indica que Mirinho, que já foi um dos principais líderes da cidade, está cada vez mais distante do protagonismo político.
– A trajetória de Mirinho Braga mostra que, apesar de sua forte história política, o distanciamento do eleitorado pode ser fatal. Rafael Aguiar, que ele apoiou, era um nome forte, mas parece que o grupo de Mirinho já não tem a mesma conexão com as novas demandas da cidade - comentou o especialista.
Em São Pedro da Aldeia, o ex-prefeito Claudio Chumbinho também sofreu mais uma grande derrota, a segunda consecutiva. Em 2020, finalizando seu segundo mandato como prefeito aldeense, ele não conseguiu eleger seu sucessor, que perdeu para o novato Fábio do Pastel. Desta vez, tentando retornar à cadeira de chefe do Executivo municipal, Chumbinho obteve apenas 6.322 votos (11,92%), sendo superado, novamente, por Fábio do Pastel, que se reelegeu com 40.466 votos (76,28%). A expressiva diferença de votos mostra que a era de Chumbinho à frente da cidade pode ter chegado ao fim, consolidando o nome de Fábio como a nova força política aldeense.
– Chumbinho teve sua chance e, por um período, foi uma liderança importante na cidade. Mas quando surge um nome como Fábio do Pastel, que dialoga com uma nova geração de eleitores e apresenta uma campanha mais sintonizada com o momento, a tendência é que figuras como Chumbinho fiquem para trás - pontuou João Augusto.
Ex-prefeito de Arraial do Cabo, Andinho tentou mais uma vez voltar ao poder, mas a Justiça Eleitoral anulou seus 6.135 votos (22,94%). Mesmo sem esses contratempos jurídicos, ele não teria sucesso já que Marcelo Magno, candidato vitorioso, obteve 20.284 votos (75,85%).
– No caso de Andinho, a questão legal não foi responsável pela derrota, mas pode ter sido determinante para seu futuro político. Além da falta de competitividade, ter seus votos anulados foi um golpe fatal para qualquer tentativa de reconstruir sua imagem. Quando a Justiça intervém dessa maneira, o impacto no eleitorado é devastador - revelou o especialista.