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A trajetória de um sonhador: do Ciep 146, em São Pedro, para a Universidade da Califórnia

Aos 23 anos, Wagner Muniz faz dos estudos e do ativismo um projeto de vida

16 NOV 2023 • POR Rodrigo Cabral • 16h47
Morador do Quilombo da Caveira, em São Pedro, Wagner retornou ao Ciep 146 para ministrar palestra - Rodrigo Cabral

Wagner de Souza Muniz, 23 anos, não se intimida com os olhares curiosos da plateia. Levanta-se, caminha de um lado para o outro e, ao microfone, compartilha saberes e questionamentos sobre políticas públicas, democracia e direitos humanos. É segunda-feira (13) de manhã, e a arquibancada do Ciep 146 Prof. Cordelino Teixeira Paulo, em São Pedro, está lotada de alunos reunidos para ouvir os palestrantes convidados para o projeto “Africanidades”. Wagner está em casa. Frequentou as salas do Ciep de 2011 a 2017, período no qual acumulou boas horas de leitura na biblioteca. Lá, apaixonou-se pela obra de nomes como Castro Alves, Rui Barbosa, Martin Luther King Jr. e, especialmente, Clarice Lispector — autora de seu livro favorito, “Felicidade clandestina”. 

Morador do Quilombo da Caveira e graduado em direito pela Estácio de Sá, Wagner fez dos estudos e do ativismo um projeto de vida. Hoje, cursa mestrado na Universidade da Califórnia, após ter sido selecionado num projeto de cooperação acadêmica internacional entre a Estácio e a instituição norte-americana. Sua pesquisa aborda o crime de perseguição conhecido como stalking. Ele, no entanto, não quer ser uma exceção. E faz das redes sociais um instrumento para cativar, engajar e chamar a atenção de outros jovens. 

— Estudei em escola pública. Sou cria do Ciep 146. Sou um jovem negro e sei que não somos representados, principalmente no Judiciário. Minha família é de origem quilombola. A luta pela terra sempre foi muito presente na nossa vida. Ter voz ativa, participar do debate e estar presente em espaços públicos e de poder é muito importante. Tenho um lema que é seguinte: se você tem uma voz, use-a. A sociedade precisa parar de fazer as coisas para os jovens. Precisa fazer com os jovens. No quilombo, todo mundo fica feliz com minha trajetória, que é vista como reflexo de sabedoria, de humildade, de possibilidade de conquistar um futuro melhor. Mas não quero ser o único. Costumo falar muito com os jovens. E as redes sociais dão a oportunidade para aproximar as pessoas — diz Wagner, num bate-papo com a Folha, após a manhã de atividades com os alunos. 

Sua trajetória como ativista começou quando ainda era estudante do Ciep. Como presidente do grêmio estudantil e representante dentro de turma, promovia rodas de conversa, debates sobre direitos, cidadania e importância da educação. Em 2016, aos 16 anos, elegeu-se para o Parlamento Juvenil da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), representando São Pedro da Aldeia. Ao fim da graduação, apresentou o trabalho de conclusão de curso na Universidade de Coimbra, de Portugal. Especialista em ciências criminais e direito internacional, hoje também é voluntário da Unicef Brasil e professor da Estácio de Sá.

– Minha história de ativismo começou aqui, no Ciep 146. Eu pesquisava muito. E sempre buscava meus colegas para perto, mostrando que educação e senso crítico podem construir pontes – conta. 

O que Wagner planeja para o futuro? A resposta está na ponta da língua.

— Minha meta é chegar ao Supremo Tribunal Federal. Sou um sonhador.