Cultura

Pedaço de madeira na Praia Rasa é resquício do tráfico de africanos escravizados no século XIX

17 JAN 2023 • POR Redação • 19h59

Um pedaço de madeira que está fincado à beira-mar, na Praia Rasa, em Búzios, é parte do que sobrou do porto de desembarque de africanos escravizados no século XIX, conta a pesquisadora Gessiane Nazario em seu livro "Revolta do Cachimbo - a luta pela terra no Quilombo da Caveira", lançado no fim de 2022 pela Sophia Editora.

Segundo a autora, cerca de 7.040 africanos foram desembarcados ali e na Praia de José Gonçalves pelos traficantes no período da ilegalidade do tráfico. "Os quilombolas afirmam que este pedaço de madeira é resquício daqueles que formavam um pequeno cais onde se amarravam os navios que traziam os africanos escravizados", conta Gessiane. "Minha ancestral Madalena veio nos braços de sua mãe num desses navios", revela.

Nos arredores da praia, não há qualquer placa ou sinalização que contextualize aos moradores e turistas a importância histórica do toco de madeira.

Em 232 páginas, a obra narra os acontecimentos que resultaram em atos de resistência dos quilombolas da Caveira, tão importantes para a história da Região dos Lagos e do Brasil quanto ainda pouco conhecidos e difundidos na historiografia oficial. Na década de 1950, regras mais duras foram impostas aos trabalhadores da Fazenda Caveira — que fazia parte do complexo agrícola Campos Novos — pelo então administrador, Antonio Paterno Castello, conhecido como Marquês. Ele proibiu os lavradores da comunidade de fumar cachimbo, estabelecendo horários até mesmo para urinar e beber água.

A opressão foi a gota d’água para a organização dos trabalhadores em busca dos seus direitos. “Em ato de resistência, os mais velhos retiraram o cachimbo do bolso e começaram a fumar”, escreve Gessiane.

A obra está disponível no site da Sophia Editora e em livrarias parceiras.