Salineira culpa calote do governo do estado por suspensão de gratuidade a estudantes
Alunos do maior colégio estadual de Cabo Frio vão se reunir para votar por paralisação das aulas
Estudantes da rede estadual de ensino das cidades da Região dos Lago, começaram o ano letivo nesta segunda-feira (7) com péssima surpresa: o uso do cartão de transporte Vale Educação, emitido e distribuído pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, que garante gratuidade no transporte para os alunos, foi suspenso pela Auto Viação Salineira. O motivo, segundo a empresa, é que desde 2017 o governo do estado não faz os repasses que custeiam as gratuidades. O valor da dívida, segundo a Salineira, chega a R$ 15 milhões.
A novidade pegou vários pais e alunos de surpresa. Em São Pedro da Aldeia, Izabel Cristina Tinoco de Souza, mãe de dois alunos do Colégio Estadual Doutor Feliciano Sodré, contou que, sem a gratuidade, não tem condições de mandar os filhos para a escola.
— Onde eu moro, ônibus da linha municipal demora muito pra passar. Então, meus filhos precisam pegar o veículo que vem de Cabo Frio. A passagem custa R$ 5,70. São cerca de R$ 23 por dia, quase R$ 600 por mês. Ou pago a passagem, ou faço compra de mercado. Os dois, não dá. É um absurdo o que estão fazendo com nossas crianças — desabafou.
Em Cabo Frio, alunos do Colégio Estadual Miguel Couto, o maior da rede estadual na cidade, estão programando uma assembleia para a noite desta terça (8). A ideia é votar pela paralisação das aulas, já que a maioria não possui condições de pagar passagem.
— Na briga do rochedo com o mar, não pode sobrar para o caranguejo. Me apropriando desse ditado popular, a gente não pode permitir que alunos gastem mais de R$ 50 por semana de passagem. Uns até podem ter esse dinheiro, mas a maioria é muito pobre. Por isso, nossos alunos avisaram que irão fazer um movimento. Se eles optarem por paralisar, terão o apoio dos professores e não levarão falta — contou a diretora Aline Bonioli.
Aline Bonioli revelou, ainda, que a escola chegou a fazer declaração para todos os alunos (quase 1500), mas os motoristas não estariam aceitando o documento para liberar a gratuidade.
À reportagem da Folha dos Lagos, o Grupo Salineira informou que a gratuidade dos estudantes é prevista pela lei 4.510/05 e regulamentada pelo decreto Nº 36.992/02. No entanto, a empresa esclarece que desde o ano de 2017 o governo do estado do Rio de Janeiro não tem realizado os repasses que custeiam as gratuidades. Em nota, a empresa alegou que a situação compromete ainda mais a saúde financeira das concessionárias que operam o transporte coletivo de passageiros.
"Desde então, apesar de não haver o pagamento, e dos inúmeros prejuízos acumulados, a Salineira tem transportado todos os estudantes de forma gratuita, creditando ao governo do estado a certeza de que os repasses seriam efetuados. Lamentavelmente, não houve, até a presente data, o pagamento dos débitos acumulados em mais de R$ 15 milhões, o que inviabiliza garantir o transporte gratuito dos estudantes no ano de 2022. Portanto, permanecemos à disposição dos representantes do governo do Estado do Rio de Janeiro e dos estudantes", explicou a Salineira.
A Folha dos Lagos também entrou em contato com a Secretaria de Estado de Educação para saber porque desde de 2017 os repasses não são feitos, e se existe alguma previsão de regularizar a situação. Em nota, a Secretaria informou que a demanda é objeto de Ação Civil Pública Nº 0241894, e trata de pedido de revogação de tutela de urgência concedida pelo Juiz Titular, em 10 de dezembro de 2018, em index 6241/6251, com decisão liminar para que “sejam suspensos todos os repasses de recursos financeiros pelo Estado do Rio de Janeiro, ou por qualquer de suas secretarias ou autarquias, a título de custeio de gratuidades do vale educação ou vale social decorrente das disposições da Lei 4510/05 e suas alterações posteriores, até a realização de nova revisão tarifária para retirar do custo das passagens os impactos com as gratuidades ou até que seja realizada a devida licitação das linhas de ônibus intermunicipais”.
A nota também informa que a decisão determina “que se abstenha de efetuar qualquer repasse para custeio de gratuidades sem a devida auditoria dos dados e correta liquidação da despesa; determine ao DETRO que não obstante a suspensão dos aportes financeiros, exerça a devida fiscalização junto às permissionárias para assegurar o devido cumprimento das gratuidades concedidas; realize, no prazo de 60 dias, a necessária revisão tarifária para determinar a devolução de R$ 0,27 (vinte e sete centavos) cobrados indevidamente dos usuários pagantes no exercício de 2017, devidamente atualizados, devolução essa que deve ser feita no prazo 12 meses; a retenção dos valores que seriam pagos à Fetranspor, que atualmente se encontram inscritas na rubrica orçamentária de ‘restos a pagar’ na Secretaria Estadual, no importe de R$179.197.179,00”. Na mesma decisão, a Secretaria de Estado de Educação informou que foi determinada a notificação dos demandados para apresentação de respostas no prazo de 15 dias.
Diante dessa informação, a Folha dos Lagos entrou em contato com o Detro e com Fetranspor. Assim que houver resposta, a matéria será atualizada.
(*) Matéria atualizada em 9 de fevereiro, às 9h31.
também entrou em contato com a Secretaria de Estado de Educação para saber porque desde de 2017 os repasses não são feitos e se existe alguma previsão de regularizar a situação. Assim que houver resposta, a matéria será atualizada.