Lagoa

Presidente da Colônia de São Pedro diz que pesca na Lagoa 'está em extinção'

Período específico para defeso do camarão é reivindicado

20 JUN 2015 • POR • 15h45

Rodrigo Branco

Em outros tempos uma atividade econômica pujante em São Pedro, a pesca vive dias cada vez mais difíceis na cidade. A crescente poluição na Lagoa de Araruama, que sofre os impactos do despejo de esgoto in natura em suas águas, não apenas tem sido responsável pela queda na quantidade de pescado como tem afugentado as novas gerações, que descenderam dos antigos.

O quadro desolador é escancarado pelo representante dos maiores interessados na questão, o presidente da Colônia de Pescadores Z-6, Haroldo Pinheiro, que aproveitou a oportunidade de falar com a reportagem da Folha para desmentir categoricamente as declarações da secretária de Ambiente, Lagoa, Pesca e Saneamento, Adriana Saad. Em recente entrevista ao programa de rádio ‘Folha ao Vivo’, na Cabo Frio AM, Saad afirmou que “há muito tempo não se via uma pesca tão satisfatória”.

– O que ela falou não procede. E as coisas tendem a piorar. O aumento do lançamento de esgoto é flagrante. A Colônia fica às margens da Lagoa. Esses dias, no fundo da sede, pudemos verificar que a água estava com a mesma cor da Coca-Cola. Isso foi comprovado pela própria deputada (estadual) Márcia Jeovani, que preside uma comissão na Alerj (Assuntos Municipais e Desenvolvimento Regional). A nossa pesca é artesanal, ficamos em contato direto com a água. Hoje mal se consegue puxar a rede, tamanho o odor de fezes que exala – critica ele.

O pescador vai além e diz ainda que, ao contrário do que foi dito pela secretária, não é apenas a praia do Centro que está imprópria para banho. Haroldo estima que, com o problema, houve uma perda de aproximadamente 80% na quantidade de pescado, o que estaria provocando considerável perda de renda para os trabalhadores. Para citar um exemplo da queda do valor de mercado de peixes e crustáceos, disse que o preço do camarão, antes vendido entre R$ 12 e R$15, está sendo repassado para ‘atravessadores’ por apenas R$7.

– Hoje, se tiramos 20 Kg de camarão por dia, temos que dar graças a Deus porque o normal, antes, seria esse peso por lance, o que dava 100 Kg por dia. A laguna está chorando por causa do descaso do poder público. A atividade pesqueira está praticamente em extinção. Não vemos mais rapazes querendo seguir a profissão de pescador – lamenta ele, que também se queixa do serviço da Prolagos.

Novo período de defeso é cogitado

Enquanto a poluição na laguna tem se revelado um problema crônico, a questão do defeso no local pode ter uma solução em breve. Hoje restrita ao período que vai de agosto a outubro, a proibição da pesca para fins de reprodução deve ganhar intervalo exclusivo, de março a maio, para o camarão. Isso porque o crustáceo tem ciclo evolutivo diferente das demais espécies e acaba capturado com tamanho menor que o desejado e, portanto, com valor mais baixo de mercado.

– Demos entrada com um documento na Câmara Técnica de Pesca do Consórcio Lagos João para que ele seja encaminhado para Brasília, aos Ministérios da Pesca e do Meio Ambiente. Do jeito que acontece hoje, com a proibição na lagoa como um todo, nós perdemos várias toneladas de camarão, que já estão na idade adulta e prontos para serem pescados, mas que pegam maré vazante e voltam para o oceano. A época de defeso para os crustáceos deveria ser essa, quando estão pequenininhos – explica. Segundo ele, é justamente no atual período que a espécie se desenvolve, passando da fase embrionária para a adulta, necessitando da proteção governamental.