Cabo Frio: Sindicatos e vereador vão confrontar secretaria de Saúde por não liberar servidores de grupo de risco
Profissionais foram chamados de volta ao trabalho e precisam passar pela avaliação de junta médica para cumprir quarentena em casa, conforme denunciou a Folha
A rigidez da secretaria de Saúde de Cabo Frio para liberar os servidores que fazem parte do grupo de risco para o coronavírus será confrontada nos próximos dias por sindicatos e pelo vereador Rafael Peçanha, líder da oposição na Câmara. O fato veio à tona em reportagem da Folha dos Lagos, que mostrou que, por determinação do secretário Iranildo Campos, todos os funcionários da pasta precisam se submeter à avaliação de uma junta médica para conseguir o afastamento, mesmo aqueles que têm mais de 60 anos e, também, os portadores de doenças crônicas e autoimunes. Uma determinação do prefeito Adriano, do dia 17, liberou este grupo de profissionais para cumprimento da quarentena em casa, à exceção de médicos e enfermeiros.
O Sindicato Sindicato dos Profissionais da Saúde de Cabo Frio (SindSaúde) e o Sindicato dos Servidores de Cabo Frio (Sindcaf) vão encaminhar, na segunda-feira (13), ofício para o secretário Iranildo solicitando a liberação dos servidores que fazem parte do grupo de risco.
– Simplesmente, determinaram a volta desse pessoal. Estão passando por cima de determinações municipais, federais. É uma falta de trato com a situação – comenta Gelcimar Almeida, o Mazinho, presidente do SindSaúde, que esteve reunido nesta sexta-feira (10) com o presidente do Sindcaf, Fábio Claudino, para tratar do assunto.
Para Mazinho, a junta médica deve avaliar apenas os casos de médicos e enfermeiros.
– Soube que uma auxiliar de 67 anos, com problemas cardiológicos, foi chamada para voltar ao serviço. Ela não é profissional de Saúde, está dentro do grupo de risco e o secretário manda voltar – protesta o sindicalista.
Na Câmara, o vereador Rafael Peçanha disse que vai tomar três medidas: propor decreto legislativo para sustar os artigos dos decretos executivos que deixam todos os servidores da Saúde de prontidão para trabalho presencial; propor indicação para que o prefeito publique decreto proibindo que servidores com mais de 60 anos cumpram suas jornadas presencialmente; e propor ao SindSaúde que entre com ação coletiva na Justiça do Trabalho, como fez o sindicato do estado de São Paulo.
– Se as três ações não derem certo, vou ao MP – avisou.
"Não dormi à noite pensando em como vou ficar se eu não passar nessa perícia"
O principal temor dos trabalhadores que conversaram com a reportagem, sob condição de anonimato, é o de ficar mais expostos à doença, num momento em que a epidemia começa a se agravar. Portadora de uma doença autoimune, uma funcionária relatou que a passou a noite de terça-feira (7) em claro por conta do medo de exposição. O caso dela será avaliado pela junta médica.
– Não dormi à noite pensando em como vou ficar se eu não passar nessa perícia e ter que ir trabalhar.
Outra servidora também contou que a sensação de temor se espalha entre a equipe.
– Doenças crônicas estão ativas durante a vida do paciente portador da mesma, apresentando ou não sintomas e sinais, podendo se tornar aguda a qualquer momento. Talvez o secretário da pasta, por não ser médico, não saiba disto. Se nenhuma medida for tomada, os funcionários da saúde serão os mais afetados pela virose, o que já acontece em todos os países, mesmo não sendo doentes crônicos.
A filha de uma servidora, que é idosa e tem hipertensão, disse que a mãe está em "pânico".
– Ela está desesperada e morrendo de medo de contrair o covid-19.
Questionado sobre o assunto, o secretário Iranildo Campos confirmou que a decisão partiu dele, mas negou que haja ‘rigor’ na medida. Segundo ele, a determinação foi dada porque funcionários ‘se aproveitam da situação’ para pedir dispensa.
– O que fizemos, e é legal, é que acima de cinco dias de atestado, e isso foi decisão minha, que o funcionário apresente o boletim de atendimento. Porque tem uns que apanham atestado. Pede dispensa de dez dias para o médico, que às vezes é amigo. Diz que está com uma dor no ombro. Na junta médica, tem um que é especialista. Aí ele pergunta se está com dor, e a pessoa responde que está com uma ‘dorzinha’. Se ficar constatada alguma coisa, ele vai ser afastado; se estiver apto, vai ter que trabalhar. Isso é apertar um pouquinho, não é ser rígido como denunciaram. Se a gente começa a aceitar todo mundo, a gente vai ficar sem médico, enfermeiro e auxiliar de enfermagem para trabalhar – argumenta.
Foram designados para a junta médica os seguintes profissionais: Roberto Pillar, que é ex-secretário de Saúde, Tatiana Vieira e Eliane Donner Drummond.