Cabo Frio: rigor para permissão de quarentena gera tensão entre profissionais da Saúde
Servidores que são idosos e portadores de doenças crônicas e autoimunes temem medida, que é defendida por secretário: “alguns se aproveitam”
Em meio à pandemia de coronavírus, a secretaria de Saúde de Cabo Frio endureceu as regras para liberação de servidores que estão no grupo que pode cumprir a quarentena em casa. Agora, o servidor precisa, além de apresentar atestado, passar por avaliação de uma junta médica. A medida tomada pelo secretário Iranildo Campos endurece determinação do prefeito Adriano Moreno, do dia 17, para liberar do trabalho servidores que são portadores de doenças crônicas e autoimunes, mediante apresentação do atestado, e também funcionários com 60 anos ou mais, à exceção de médicos e enfermeiros.
Conforme a edição impressa da Folha dos Lagos antecipou na coluna Informe dos Lagos desta quarta-feira (8), uma circular do Departamento de Recursos Humanos determina que o atestado seja entregue no setor de protocolo em 48 horas; caso o documento peça afastamento inferior a cinco dias, é preciso anexá-lo à folha de ponto.
O principal temor dos trabalhadores que conversaram com a reportagem, sob condição de anonimato, é o de ficar mais expostos à doença, num momento em que a epidemia começa a se agravar. Portadora de uma doença autoimune, uma funcionária relatou que a passou a noite de terça-feira (7) em claro por conta do medo de exposição. O caso dela será avaliado pela junta médica.
– Não dormi à noite pensando em como ficaria se eu não passar nessa perícia e ter que ir trabalhar.
Outra servidora também contou que a sensação de temor se espalha entre a equipe.
– Doenças crônicas estão ativas durante a vida do paciente portador da mesma, apresentando ou não sintomas e sinais, podendo se tornar aguda a qualquer momento. Talvez o secretário da pasta, por não ser médico, não saiba disto. Se nenhuma medida for tomada, os funcionários da saúde serão os mais afetados pela virose, o que já acontece em todos os países, mesmo não sendo doentes crônicos.
A filha de uma servidora, que é idosa e tem hipertensão, disse que a mãe está em "pânico".
– Ela está desesperada e morrendo de medo de contrair o covid-19.
Questionado sobre o assunto, o secretário Iranildo Campos confirmou que a decisão partiu dele, mas negou que haja ‘rigor’ na medida. Segundo ele, a determinação foi dada porque funcionários ‘se aproveitam da situação’ para pedir dispensa.
– O que fizemos, e é legal, é que acima de cinco dias de atestado, e isso foi decisão minha, que o funcionário apresente o boletim de atendimento. Porque tem uns que apanham atestado. Pede dispensa de dez dias para o médico, que às vezes é amigo. Diz que está com uma dor no ombro. Na junta médica, tem um que é especialista. Aí ele pergunta se está com dor, e a pessoa responde que está com uma ‘dorzinha’. Se ficar constatada alguma coisa, ele vai ser afastado; se estiver apto, vai ter que trabalhar. Isso é apertar um pouquinho, não é ser rígido como denunciaram. Se a gente começa a aceitar todo mundo, a gente vai ficar sem médico, enfermeiro e auxiliar de enfermagem para trabalhar – argumenta.
Foram designados para a junta médica os seguintes profissionais: Roberto Pillar, que é ex-secretário de Saúde, Tatiana Vieira e Eliane Donner Drummond.