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“Não sou politiqueira”, afirma Márcia Jeovani

Eleita, deputada fala em ‘justiça do povo’ em Araruama

1 DEZ 2014 • POR Rodrigo Branco|Foto: Divulgação • 17h19

É possível dizer que Márcia Jeovani é uma sobrevivente do processo eleitoral. Afinal, depois de grande disputa, ela comporá, a partir de 1º de fevereiro de 2015, duas bancadas minoritárias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj): as de representantes femininas na Casa (serão apenas nove dos 70 deputados) e também de legisladores egressos da Região dos Lagos (além dela, tomarão posse os reeleitos Janio Mendes e Paulo Melo). A empresária de 50 anos, mulher do prefeito de Araruama Miguel Jeovani, cumprirá seu primeiro mandato, após receber 34.870 votos. Em entrevista à Folha dos Lagos, Márcia afirmou que fará ‘oposição consciente’ ao governo Pezão (PMDB), ainda que o partido faça parte da nova Mesa Diretora da Alerj, cuja presidência é disputada pelos deputados Paulo Melo e Jorge Picciani, ambos também do PMDB. Ela disse ainda que pretende levar adiante o trabalho e os projetos engavetados do marido, enquanto esteve no Palácio Tiradentes.

– Estarei sempre disposta a atender e aberta ao diálogo para conseguir o melhor para região e para o estado, independentemente do prefeito e do seu partido – afirmou.

Folha dos Lagos – No primeiro semestre deste ano, o marido da senhora (o prefeito de Araruama Miguel Jeovani) chegou a ser afastado (em janeiro, sob a acusação de supostas irregularidades na compra de merenda escolar), mas acabou reconduzido ao cargo na Justiça e, há pouco mais de um mês, a senhora foi eleita para uma vaga na Alerj. Como ficará marcado esse ano de 2014 para a senhora?

Márcia Jeovani – Foi um ano muito positivo. De muita responsabilidade, trabalho, determinação. Foi um ano muito produtivo. A cidade de Araruama mostrou muita confiança na família Jeovani. Depois de toda injustiça que sofremos, quem deu a melhor resposta foi o povo. A maior alegria foi a renovação desse voto de confiança. A renovação dessa aliança foi o maior presente que ganhei.

Folha – Diante disso, independentemente da questão da Justiça, que gosto teve a sua eleição?

Márcia Jeovani – Acho que teve gosto de dupla vitória. Gosto de justiça feita. Independentemente da justiça do homem, o que houve foi a justiça do povo.

Folha – Qual o primeiro projeto de lei que a senhora pretende apresentar?

Márcia Jeovani – Pretendo trabalhar pelas emendas impositivas, da mesma forma como é feito em Brasília. Acho injusto ser eleito e ficar à mercê da vontade do governador. Independentemente da quantidade de votos e do seu partido, você representa seu povo. O governo não pode privar uma cidade por causa de partido político. Você não escolhe o eleitor pelo seu partido, credo religioso e por isso não pode governar pensando nisso. Tem que existir a verba orçamentária e ser dividida igualmente pelos deputados. É mais justo com o povo. É uma questão de respeito e justiça política.

Folha – E ao longo dos quatro anos como será a atuação da senhora na Alerj?

Márcia Jeovani – Vou procurar atuar de forma transparente e justa, independentemente de partido. Meu partido é de oposição sim, mas estarei ao lado do que for bom para o povo. Não vou fazer, como dizem, política com o fígado. Se o governador mandar um projeto que for bom para o povo, votarei a favor. Farei uma oposição consciente. Não acho que tem que haver oposição que critica por criticar. Isso não leva a nada. É politicagem e eu não sou politiqueira. Isso tem a ver com a minha formação, sou educadora por formação. Não estou entrando na Alerj para brincar, e sim para trabalhar.

Folha – O que a senhora pretende fazer que seu marido (Miguel Jeovani foi eleito para Alerj em 2010, com mais 44 mil votos) não conseguiu enquanto esteve lá?

Márcia Jeovani – O Miguel encontrou muita dificuldade enquanto esteve lá. Houve muitas barreiras por ele ser de um partido de oposição. Foram 416 emendas parlamentares apresentadas. Teve a mureta da Via Lagos, que agora está saindo. O batalhão da PM de Araruama que também está para sair. A criação do Conselho Estadual de Pacificação que seria um grande projeto, de ajuda às UPPs, com entrada social nas comunidades e tantas coisas mais não foram adiante por ele ser de oposição. Hoje a visão do próximo presidente da Alerj não pode ser de picuinhas. Hoje temos três deputados da região. Imagina se tivéssemos uma visão conjunta de crescimento da região? Se construirmos pontes em vez de muros, o povo é quem ganha. É hora de mostrar capacidade e não de puxar o tapete. Vou buscar todos os projetos que não deixaram que ele desse prosseguimento.

Folha – Então reiterando, politicamente, como será sua posição e a de seu partido em relação ao governo Pezão?

Márcia Jeovani – Como disse, meu partido é de oposição, mas não farei oposição pela oposição, a não ser que não esteja de acordo com os princípios do meu partido e do meu povo. Não sou de plantar dificuldades para colher vantagens.

Folha – Mas apesar de se apresentar como oposição ao PMDB e ao governo Pezão, o PR acena com uma possibilidade de acordo com o Paulo Melo para apoiá-lo na reeleição à presidência da Casa em troca de um cargo na Mesa Diretora, a primeira secretaria. Existe essa possibilidade? A senhora participa dessas conversas?

Márcia Jeovani – Num primeiro momento, tentamos lançar um candidato próprio, mas não conseguimos conciliar com o PT. O acordo não foi possível. Está havendo agora uma conversa. O nosso líder (da bancada, deputado Geraldo Pudim) está conversando não apenas com o deputado Paulo Melo, mas também com o deputado Picciani, mas não há nada de concreto. Eu, pessoalmente, não participo dessas conversas. Quanto ao deputado Paulo Melo, fica particularmente difícil o apoio, em função das dificuldades que ele causou ao deputado Miguel Jeovani e à cidade de Araruama. Não posso ser hipócrita.

Folha – Além da senhora, haverá apenas outras oito deputadas, mesmo com a metade do eleitorado feminino. Por que essa disparidade tão grande em relação à representação na Alerj e na política em geral? O que deve ser feito em relação a isso?

Márcia Jeovani – Acho que as mulheres precisam, principalmente, acreditar mais. Se pararmos para analisar, somos maioria em tudo. A mulher não pode ir para a política para cumprir uma cota, tem que ter um papel lá dentro. Ela tem que saber que é capaz e estamos conseguindo. Houve um grande avanço. Temos que aumentar a nossa representação cada dia mais.  A gente está estudando mais, se dedica mais, se cobra mais. A tendência é que em algum tempo a proporção vai estar meio a meio.

Folha – A senhora pensa em seguir mais um passo do seu marido e tentar um dia  a prefeitura de Araruama?

Márcia Jeovani – No momento, não. A princípio, a prefeitura de Araruama não é um projeto. Mas eu não pensava em ser deputada. Isso depende muito. A política é muito feita de pesquisas. À vezes, a pessoa tem vontade de se candidatar, mas é possível. É preciso subir degrau por degrau. A gente não pode botar a mão onde não alcança. Se for desejo do povo, quem sabe?

Folha – Com o ex-prefeito André Mônica (PMDB), maior adversário político dos Jeovani, fora do páreo (o TRE-RJ o tornou inelegível por oito anos por uso da máquina pública com fins eleitorais), seu marido na prefeitura e a senhora na Alerj, a reeleição em 2016 fica mais fácil?

Márcia Jeovani – Não dá pra dizer isso. A política é muito dinâmica. Tem que trabalhar em prol do povo, que está sempre atento. Nada é fácil, é trabalho, muito trabalho. A cobrança é muito grande.

Folha – Depois da família Garotinho, surgirá um clã Jeovani? Seus filhos Matheus e a Mariana (de 24 e 23 anos, respectivamente) mostram alguma inclinação para a política?

Márcia Jeovani – Não. O Matheus e a Mariana vão tomar conta das lojinhas (risos). Não pode, somos empresários. Eles hoje estão trabalhando com a gente: o Matheus na parte administrativa e a Mariana, na parte de marketing. Com comércio não dá pra brincar (risos).