Na numerologia, 33 é considerado um número mestre, que representa a criatividade, a comunicação, a abundância e o cuidado familiar. Tem ainda as características de ser espontâneo e inventivo. Todas essas definições casam perfeitamente com o momento atual da Folha dos Lagos, que no último dia 30 de abril completou 33 anos de fundação, firmando-se com o veículo impresso mais longevo da história de Cabo Frio. De cara nova, com mudanças no site e no jornal impresso, a Folha (que em novembro chegou à histórica marca de 6 mil edições) aproveitou os 33 anos para se reinventar, tornando o consumo da notícia algo cada vez mais prazeroso e interativo.
Mas, em seus 33 anos, a Folha também testemunhou muitas histórias, avanços e retrocessos em vários aspectos.
— Em 33 anos houve avanço extraordinário com a chegada dos royalties, mas a aplicação desordenada dos recursos fez crescer as desigualdades. Não houve, é não há, preocupação com a geração de emprego e renda. O retrocesso se manteve de forma crescente nesses 30 anos com o paternalismo político — afirma o jornalista Moacir Cabral, fundador do jornal.
O também jornalista Cleber Lopes, que por anos integrou a equipe da Folha, ressaltou que "estamos vivendo um momento de pluralidade da informação e também humana", e citou que, entre os avanços dos últimos 33 anos, mulheres, negros, comunidade LGBTQI+, povos indígenas e quilombolas estão conquistando o espaço e a visibilidade que merecem, "mesmo apesar da violência dos feminicídios, dos discursos misóginos, da homofobia, do preconceito, práticas odiosas que ainda resistem e que partem de setores que deveriam pregar o amor, a compaixão, o perdão e a tolerância".
— A sociedade está em mutação e testemunhar isso como jornalista nos impõe sentimentos de alegria e dor. Ao mesmo tempo lembro da primeira manchete da Folha do Lagos: "Os dólares estão chegando". Onde estão? A lagoa continua poluída, apesar de todas as melhorias. O turismo ainda capenga. Nossos casarios não existem mais. Depois de três décadas daquela manchete, a gente continua se enganando ou sendo enganado. O potencial não só de Cabo Frio, mas de toda a região, é enorme, mas a cada prefeito, vereador e deputado medíocre que a gente elege, essa cidade multicolorida fica cada vez mais monocromática, sem cor, sem graça avaliou.
Nos últimos 33 anos de Folha dos Lagos, o professor Luiz Antônio Nogueira da Guia, o Totonho, assinou diversas colunas no jornal e sempre foi um colaborador assíduo com suas pitadas de sarcasmo ao comentar a política das cidades da Região dos Lagos. Ao avaliar as últimas três décadas, ele lembra que além da região sofrer pela proximidade com o Rio de Janeiro e a Zona Metropolitana, "a urbanização se dá de maneira desenfreada e desorganizada, provocando grandes danos ambientais".
Por outro lado, a região, especialmente Cabo Frio, também se beneficiou desse crescimento com a criação de múltiplos serviços fundamentais para o conforto (na falta de palavra melhor) da população.
Mas as mudanças não foram somente na política, na economia ou na pluralidade de representações. O jornalismo, segundo eles, também passou por grandes avanços e retrocessos ao longo dos últimos 33 anos.
— No início dos anos 1990 tivemos um crescimento vertiginoso no jornalismo com a Folha, com mais rádios, jornais, TVs abertas e a cabo. Mas, hoje, vivemos o retrocesso: rádio praticamente sem jornalismo, raríssimos jornais na região e, infelizmente, um jornalismo digital desprezível com algumas exceções — disse Cabral.
O jornalismo digital também foi citado por Totonho e Cleber Lopes. O professor e ex-colunista da Folha lembrou que "o jornalismo local e regional, de cunho profissional, sofre com o advento da internet, através das redes sociais, até agora sem qualquer regulação, e deu voz a toda sorte de absurdos, despreparos e falta de respeito à vida". Já Cleber Lopes disse que, graças à internet, hoje "vale tudo por um click".
— O jornalismo, no interior, perdeu o profissionalismo e a ética com a ascensão das redes sociais. A verdade e a informação não são mais o princípio nem a matéria prima do nosso ofício. Mentir, confundir, desinformar. A nossa profissão, infelizmente, foi sequestrada por analfabetos, bandidos, chantagistas, muitos a serviço de políticos desonestos, com e sem mandato. As pessoas não sabem a diferença de um jornalista de verdade e de um veículo sério, de um aventureiro que cria uma página na internet a mando do maioral da política do momento. Não passam de capangas do poder.
Apesar dos retrocessos, há expectativas otimistas para os próximos 33 anos. Para Moacir Cabral, "a partir de agora, o que se espera, é que os políticos tomem juízo, e nós eleitores, aprendamos de vez a seriedade do voto". Cleber Lopes espera mais consciência.
— É preciso defender o que resta da nossa cultura, dos nossos costumes e da nossa história. Falo como cabo-friense, que tem o umbigo enterrado nesta terra e a nítida impressão que tudo foi destruído. Vivemos uma situação de terra arrasada em termos de memória. Costumo dizer que sofremos de um alzheimer coletivo. Um dia vamos acordar sem saber quem somos, onde estamos e, o que é pior, de onde viemos. A única vantagem nesse estado vegetativo que vai nos dominar é que também esqueceremos quem nos governa.
Já Totonho acredita que a tendência da região é ser incorporada à Zona Metropolitana do Rio de Janeiro, em um processo de conurbação irreversível,
— Com sorte, preservando-se alguns "bolsões ambientais. Mas a esta altura estarei fertilizando a terra, ou mesmo conversando com todos os amigos em alguma esquina com boteco estrelado.