sábado, 18 de janeiro de 2025
sábado, 18 de janeiro de 2025
Cabo Frio
26°C
regiao dos lagos

Saneamento, a glicose na veia do turismo

​Região dos Lagos sente os reflexos dos investimentos realizados no setor

29 setembro 2018 - 10h34
Saneamento, a glicose na veia do turismo

Maria Alice Hosken, 29 anos, e Caio Areosa, 33, saíram do Rio de Janeiro logo cedo, numa sexta-feira de sol. Destino: Búzios, mais especificamente uma pousada na Rua Morro do Humaitá. Às 11h, o casal chegava ao balneário para aproveitar o último fim de semana das férias de julho. No mesmo horário, uma das telas do Centro de Controle Operacional (CCO) da Prolagos, na sede da concessionária, em São Pedro, apontava a quantidade de pessoas que tinham entrado nas cidades cobertas pela empresa (Cabo Frio, Búzios, Iguaba, Arraial e São Pedro) naquele dia – Maria Alice e Caio eram umas das 19.447.

O mapeamento é feito através de sensores instalados em Tamoios, Iguaba, São Pedro e Monte Alto. Automaticamente, o sistema faz um cálculo estimado do número de pessoas com base nos tamanhos dos carros.

Desta forma, através de tecnologia de ponta, a empresa consegue ajustar o abastecimento ao considerar a sazonalidade, uma das características principais da região, evidenciando a ligação umbilical entre investimentos em saneamento – a Prolagos desembolsou R$ 1,3 bilhão desde que começou a operar, em 1998 – e a qualificação do turismo. Maria Alice que o diga: ela se recorda bem da época em que, ainda criança, visitava Búzios em datas festivas, como o réveillon, e seus pais tinham de alugar carro-pipa, porque mais certa do que a queima de fogos de artifício era a falta d’água.

– Talvez, se a situação do abastecimento não tivesse sido resolvida, Búzios não fosse um destino cogitado por mim hoje, já que sou mãe de duas crianças. Não sei se eu teria a coragem que meus pais tinham de viajar para um lugar que muito provavelmente não teria água [risos]. O corretor de imóveis Jefferson Buitrago, secretário de Turismo de Cabo Frio em 1996, lembra que o problema era grave.

– As faltas d’água afetavam os preços dos pacotes de hotéis e pousadas. Era um problema grave. Atrapalhava muito o turismo. Hoje, sistemas de inteligência artificial utilizados pela Prolagos permitem que os níveis de abastecimento sejam ajustados de forma automática, variando de acordo com a demanda. Além disso, com dados fornecidos pelo sistema de contagem de veículos, a concessionária consegue planejar operações especiais para os dias de pico. Um dos desafios é lidar com a população flutuante, o que significa, em alguns períodos, um número de pessoas na região até quatro vezes maior do que o normal. Esta foi a média de pessoas na região registrada pelo software da empresa nos últimos réveillons: um milhão e cem mil (2018), um milhão e cinquenta mil (2017), um milhão (2016) e um milhão e duzentos mil (2015 e 2014).

– Se a sociedade quisesse um serviço sempre pronto para atender um milhão de habitantes, o preço que estaria se pagando seria caro e injusto durante o restante do ano. Nosso sistema é dimensionado para atender quase duas vezes o volume do fixo. Ou seja, se a população é de 400 mil, conseguimos atender aproximadamente 800 mil de maneira constante, para termos uma folga. Com o pico, temos que fazer manobras de priorização e soluções para dar conta da demanda – explica Sérgio Braga, presidente da Prolagos. A tecnologia é o arcabouço de uma rede capaz de tratar 97 milhões de litros de esgoto por dia.

A empresa conta com sete estações de tratamento de esgoto, 75 estações elevatórias (que bombeiam o esgoto até as estações) e 157,35 quilômetros de rede coletora de esgoto. Para este verão, é aguardada a conclusão da obra de nova adutora (tubulação de grande porte que transporta água). Ela terá 42 quilômetros de extensão, com tubulação de PRFV (polietileno revestido com fibra de vidro), que permite transportar a água sem interferências, para que chegue à casa do usuário com a mesma qualidade da que sai da estação.

– Ter uma boa prestação de serviço de água e de esgoto é como glicose na veia do turismo – diz o presidente da Prolagos. De acordo com levantamento anual feito pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), os dias considerados próprios para banho nas praias da região subiram, nos últimos quatro anos, de 62% para 91%. Foi a região que apresentou maiores avanços nos índices de balneabilidade no estado. No último boletim de balneabilidade divulgado pelo órgão, foram considerados próprios para banho 42 dos 43 pontos de coleta nas praias de Cabo Frio, Arraial, Iguaba, Arraial e Búzios – apenas Porto d’Aldeia, em frente à Rua Henrique Monteiro, em São Pedro, foi considerada imprópria.

Nos relatórios, o órgão observa que é preciso evitar banho de mar nas primeiras horas depois de chuvas e próximo às saídas de galeria de águas pluviais ou canais de drenagem. Em São Pedro, a recuperação da Lagoa de Araruama tem levado os turistas de volta a praias como Sudoeste e Pitória, observa o subsecretário de Turismo do município, Luiz Carlos Cruz.

– Os veranistas estão voltando, ano após ano. Estão vendo a melhoria da água nas praias de lagoa, que alguns dias fica clari- nha. É excelente para o município e para a região. Esperamos que melhore ainda mais. Que daqui a um tempo tenhamos cama- rãozinho mordendo nosso pé na beira da lagoa, como antigamente! Sentada num deque da Praia da Pitória, em frente a um hotel onde estava hospedada, a turista carioca Monique Gonçalves, 35, era só elogios à paisagem.

– Dá para ver os peixinhos – dizia, na manhã do último domingo (24), apontando para a água, enquanto segurava no colo a filha Ana Júlia, de 3 anos. A 22 quilômetros dali, Cristiane Arruda, 37, e Marcos Schettini, 52, tiveram reação semelhante ao conhecer a Praia do Peró, em Cabo Frio. – Dá pra ver o fundo do mar. Um espetáculo – disse Cristiane.

A Praia do Peró, aliás, acaba de receber o certificado internacional Bandeira Azul, concedido pela FEE – Foundation for Environmental Education. Um dos principais critérios para o recebimento do selo foi a qualidade da água. Nos últimos dois anos, testes foram realizados na praia de 20 a 20 dias. Todos tiveram resultado positivo, segundo Magno Maiques, coordenador local do projeto.

– Tivemos aprovação em todas as análises realizadas. Isso é necessário para que o júri inter- nacional perceba que a água está constantemente em boas condi- ções – explica Magno. O secretário de Turismo de Cabo Frio, Radamés Muniz, vai além: diz que o poder público deve se empenhar para trazer ainda mais investimentos.

– Precisamos discutir a possi- bilidade de buscar recursos fora do município e ter um plano de metas para 20 anos – pontua. Em Arraial do Cabo, as expectativas se voltam para a obra do cinturão da Praia dos Anjos, orçada em R$ 2 milhões. Com a rede, será evitado o lançamento de esgoto no canal pluvial, que deságua na Praia dos Anjos, re- direcionando os dejetos para a estação de tratamento. A prefeitu- ra, no entanto, fica responsável pela manutenção da rede de drenagem.

– Teremos uma revitalização da Praia dos Anjos como ponto turístico – comemora Miguel Simas, ex-secretário de Turismo do município.