Jonas Letieri remando sua prancha com remo adaptado - Crédito: Acervo pessoal / Jonas Letieri

Domingo, 30 de outubro de 2011. Um dia normal para muitos. O dia em que tudo mudou para Jonas Letieri. Atualmente com 38 anos, Jonas sempre foi apaixonado pelo mar e por esportes. Começou a surfar aos 13 anos por influência de seu pai e logo já estava competindo em categorias infantojuvenis. Aos 26 anos, sofreu um acidente que mudou sua vida para sempre. Voluntário na Igreja, foi ajudar na instalação de uma placa na fachada do prédio. No entanto, não percebeu que por ali passavam fios elétricos e acidentalmente encostou a placa em um deles, recebendo uma descarga elétrica de 13.800 volts que o deixou entre a vida e a morte. O choque petrificou suas mãos e resultou na amputação de seus dois antebraços.

Milagre. Sobreviver a esse acidente foi para Jonas uma segunda chance. Uma nova chance de aproveitar a vida e fazer tudo diferente. Após um ano de reabilitação e muita vontade de surfar novamente, ele inventou uma adaptação que permitiu o retorno às águas através de um remo ajustado de Stand Up Paddle (SUP) - modalidade em que o atleta fica de pré sobre a prancha. Desse modo, ele começou a surfar e remar em competições ao redor do mundo, mostrando ser um exemplo de superação e perseverança.

Jonas Letieri, exemplo de superação e perseverança / Foto: Acervo pessoal

Criado na Região dos Lagos, Jonas sempre teve uma conexão muito forte com a Lagoa de Araruama. Por isso, ele observa que, apesar da melhoria da qualidade da água com a chegada do tratamento de esgoto, ainda existem diversos pontos onde o lixo se aglomera às margens da Laguna, em locais onde ninguém consegue limpar. E foi com o intuito de chegar nessas áreas que o atleta e coordenador do Projeto Mar Sem Lixo idealizou uma ação de limpeza um pouco diferente. O evento chamado "Remar Sem Lixo" tem como objetivo unir os amantes do esporte em prol da saúde da Laguna de Araruama e conta com a ajuda de moradores e voluntários.

Jonas explica que a Laguna, além de ser fonte de renda e alimento para muitas famílias, é lugar de lazer e diversão, onde podem ser praticados diversos esportes, como Vela, Windsurf, Kitesurf, Stand Up Paddle, Natação, Canoa Havaiana e muito mais. "Temos um lugar realmente privilegiado aqui na Região dos Lagos", ele diz.

A ideia da "Remar Sem Lixo" surgiu durante uma travessia de SUP de Cabo Frio a Iguaba, na qual ele percebeu que grande parte dos detritos ficam depositados nas áreas rasas da Laguna, onde ninguém consegue limpar. Assim, decidiu unir os apaixonados pelos esportes aquáticos para uma jornada de limpeza diferenciada.

Jonas Letieri remando em sua prancha com seu remo adaptado / Foto: Acervo pessoal

A programação estava prevista para setembro, mas, por conta dos fortes ventos que ocorrem nessa época do ano, precisou ser adiada. O calendário está sendo montado, mas Jonas e sua equipe garantem que ainda este ano irão realizar o evento.

"Os moradores podem participar com qualquer embarcação que consiga navegar nas partes mais rasas da Laguna, como SUP, Kayak, Canoa ou pequenos barcos", ele diz. Outra forma de participar é se juntando aos voluntários que estarão presentes durante a ação de limpeza nas margens da Laguna.

"A Laguna tem conseguido se recuperar e já é possível ver uma melhora na água. Podemos ver a volta da vida marinha como peixes, tartarugas e até mesmo cavalos marinhos. Mas ainda há muito a ser feito, precisamos evitar que o lixo e o esgoto cheguem até a Laguna e consequentemente ao mar", afirma Jonas. "Precisamos conscientizar a população para que o lixo não chegue até a Laguna e exigir que o esgoto seja tratado. Não podemos simplesmente aceitar que a Laguna seja poluída dessa forma, precisamos nos unir e lutar por esse lugar que é fundamental para a saúde do nosso ecossistema", ele acrescenta.

Para que a população e outros atletas, assim como Jonas, também possam encontrar refúgio nas águas calmas da região, é preciso união e conscientização.

Para mais informações sobre o "Remar Sem Lixo" é só entrar em contato com o Projeto Mar Sem lixo pelo site ou pelas redes sociais.

A Lagoa de Araruama

A Região dos Lagos é popularmente reconhecida ao redor do mundo por suas belezas naturais. Além de contar com praias exuberantes e uma biodiversidade de tirar o fôlego, um dos grandes cartões-postais do local é a Lagoa de Araruama. Sendo o maior ecossistema hipersalino do mundo, a Lagoa possui 220 quilômetros quadrados e aproximadamente 630 milhões de metros cúbicos de água. Apesar de seu nome, o termo correto para designar o corpo d'água é "laguna", já que possui ligação com o mar através do Canal do Itajurú, em Cabo Frio.

Embora hoje a lagoa seja um dos principais pontos turísticos da região, nem sempre foi assim. Há alguns anos, no fim da década de 1990, a proliferação de algas cresceu drasticamente com o excesso de matéria orgânica que era depositado no local. Esse processo, conhecido como eutrofização, afetou a presença de oxigênio e luminosidade na água, e consequentemente a vida dos animais que ali habitavam.

A população logo se deu conta dos impactos que estavam sendo causados pela falta de saneamento e pressionou por mudanças no tratamento de esgoto da região. Com essa motivação, o índice de coleta passou de 0 para 80% em alguns anos, e todo material coletado começou a ser tratado, segundo dados fornecidos pela empresa responsável pela distribuição de água potável e tratamento de efluentes da Região, a Prolagos. Desse modo, foi possível restabelecer aos poucos a saúde da Lagoa, e em meados de 2015 os primeiros resultados dos investimentos realizados pela empresa já se tornaram visíveis, de acordo com o biólogo e coordenador do Projeto Imersão, que monitora a saúde da Lagoa, Eduardo Pimenta.

Imagem de satélite da Lagoa de Araruama no ano de 1999

Imagem de satélite da Lagoa de Araruama no ano de 2023