O envio de 12 pessoas em situação de rua de Cabo Frio para a cidade de Linhares, no Espírito Santo, virou caso de polícia. Segundo denúncia da vereadora linharense, Kelley Bonicenha, as pessoas foram retiradas da casa de passagem por funcionários da prefeitura cabo-friense, e colocadas em um micro-ônibus com a falsa promessa de emprego e moradia no município capixaba. Entre elas, está uma mulher grávida. A parlamentar registrou queixa na delegacia e, em um vídeo postado nas redes sociais, acusa a Prefeitura de promover uma “higienização humana”.

– Estou aqui na delegacia acompanhando o caso inédito, e muito triste, que está acontecendo no nosso município de Linhares. Recebemos denúncia de que a Prefeitura de Cabo Frio fez uma higienização humana. Eles colocaram pessoas em situação de rua dentro de um micro-ônibus, e despejaram aqui no nosso município de Linhares, com a falsa promessa de que aqui encontrariam emprego, moradia e melhores condições de vida. Dentre essas pessoas, temos uma grávida com quadro epilético e um casal de idosos que estava sem se alimentar - relatou a vereadora. Kelley revelou ainda que a Prefeitura de Linhares foi acionada e, através da Secretaria de Assistência Social forneceu marmita e água para as 12 pessoas.

Questionada, a Prefeitura de Cabo Frio disse que nenhuma dessas pessoas enviadas para Linhares eram naturais do município cabo-friense, e que algumas afirmaram ser do estado do Espírito Santo. Disse ainda que todas chegaram na cidade durante a alta temporada em busca de oportunidades de trabalho e, posteriormente, acessaram os serviços de acolhimento da Casa de Passagem. 

Ainda de acordo com o governo municipal de Cabo Frio, todas as 12 pessoas enviadas para Linhares “manifestaram espontaneamente o desejo de retornar ao seu estado de origem para buscar novas oportunidades, especialmente na colheita do café, atividade da qual alguns já haviam participado em anos anteriores”. E que “diante dessa demanda apresentada por eles, a Casa de Passagem, cumprindo seu papel de apoio e acolhimento temporário, providenciou exclusivamente o transporte até o Espírito Santo, conforme registrado em documentos devidamente assinados por todos os envolvidos”. 

Esta não é a primeira polêmica do governo Serginho envolvendo a questão de pessoas em situação de rua. Em fevereiro deste ano, durante uma audiência pública sobre ordenamento do bairro Braga, o chefe do Executivo municipal chamou a atenção de pessoas que costumam fazer caridade e ajudar pessoas em situação de rua com doação de dinheiro.

– Eu mesmo dei dinheiro várias vezes mas, gente, não façam mais isso. Não acomodem as pessoas nessa situação. Por que eu estou dizendo isso? Porque essas pessoas não ficarão sem ter o que comer. Nós temos a assistência social para assegurar que todos tenham alimentação. Não estimulem a pessoa a se acomodar em situação de rua. Não façam isso - disse o prefeito, pedindo que igrejas e entidades que costumam doar comida se juntem à assistência social do governo para uma ação conjunta. 

O discurso, que arrancou aplausos, mas também protestos e vaias de parte do público presente no encontro, ganhou repercussão nacional quando o padre Júlio Lancellotti compartilhou um post da Folha dos Lagos sobre o assunto. Em seu repost no Instagram, o clérigo declarou: “Impressionante a cruzada de vários prefeitos pelo Brasil contra a população em situação de rua”. Com mais de dois milhões de seguidores, Lancellotti é conhecido por sua atuação na defesa dos direitos humanos, impulsionando debates que antes circulavam apenas em âmbitos locais.