Minhas primeiras memórias sobre política são imaginar um teleférico que liga o Boulevard Canal até o Peró. Ou uma passarela de vidro, pela qual poderia caminhar até a Rua dos Biquinis. A climatização da orla da Praia do Forte, com ar condicionado por toda a rua, confesso que nunca acreditei. Minhas primeiras memórias sobre política são que não devo acreditar no que dizem.
Em julho, o IPEC realizou sua tradicional pesquisa sobre o nível de confiança nas instituições, e já não surpreende ninguém que o Congresso e partidos políticos amargam as duas últimas posições do ranking.
Numa época em que muito se fala sobre a responsabilidade que temos ao criar falsas expectativas nas relações pessoais, é preciso responsabilizar também as expectativas não concretizadas causadas por gestores e ocupantes de cargos eletivos.
É verdade que o sucesso de uma gestão é medido pela sua realização. Reorganizar processos de trabalho, equilibrar o orçamento ou manter o salário em dia podem ter menos impacto na opinião pública do que a inauguração de uma praça. Qualquer gestor depende de seu capital político, que por sua vez depende da opinião pública, e que depende do controle de narrativas.
Contudo, a exaustão de anúncios de novas obras, de novos programas e inaugurações, quando os projetos ainda são, no máximo, um desenho encartado ao processo administrativo, diminui a “elasticidade da opinião pública” frente à comunicação política.
Elasticidade é um conceito que pego emprestado da economia. Em síntese, é o quanto a demanda por um produto se altera à medida em que alteramos seu preço. Quanto mais os gestores anunciam realizações que nunca serão cumpridas, menos a opinião pública confia na sua capacidade de realização.
Uma população cética quanto a capacidade de execução de seu gestor, tende a tolerar menos as medidas administrativas necessárias para a realização de projetos de longo prazo. Com isso, o efeito da baixa “elasticidade da opinião pública” são governos curto-prazistas. O custo da impopularidade decorrente de uma rua fechada para a construção de um viaduto é mais alto do que a expectativa positiva pela sua inauguração. Da mesma forma, a confiança que responsabilidade administrativa e equilíbrio fiscal resultarão em melhora dos serviços públicos é muito pequena.
Estudos técnicos demoram. Licitações podem fracassar. A empresa que executa uma obra pode a abandonar. A emenda parlamentar pode nunca chegar aos cofres. E aquela ideia genial, pode ser inexequível. E tudo isso tende a acontecer mais quando não se planeja.
“Não contar com o ovo no cu da galinha” não é só um pacto de moralidade, também é a única forma de evitar a armadilha do curto-prazismo, e, aí sim, conduzir uma gestão de transformação estrutural, que não seja só de remendos e maquiagens, e trazer a opinião pública para jogar junto.