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Moradores de São Pedro denunciam o que chamam de "colapso da Lagoa de Araruama"

Em denúncia enviada à Folha, moradores alegam que trecho no bairro Mossoró está virando um "pântano de algas, lama e esgoto in natura"

20 janeiro 2025 - 17h41Por Redação
Moradores de São Pedro denunciam o que chamam de "colapso da Lagoa de Araruama"

Moradores do Mossoró, em São Pedro da Aldeia, estão denunciando o que chamam de “colapso da Lagoa de Araruama”. Segundo eles, o trecho que margeia o bairro está se transformando em um “pântano de algas, lama e esgoto in natura”. Imagens enviadas à Folha mostram a lagoa tomada por uma espessa camada de sujeira, onde é possível observar a água praticamente estagnada, contaminada por resíduos sólidos e com vegetação em decomposição.

A denúncia dos moradores recebeu apoio do movimento Lagoa Viva, que aponta para um agravamento contínuo da poluição em vários trechos da Lagoa de Araruama como Praia do Siqueira (Cabo Frio) e também Camerum, Poço Fundo, Balneário, Condominio Zacarias e em frente à Marinha (em São Pedro da Aldeia).

De acordo com membros do Lagoa Viva, o colapso na lagoa já não é mais “anunciado”, e sim “instalado”. Afirmam ainda que a situação registrada no Mossoró contraria “todos os movimentos de marketing empresarial” já que, segundo eles, “a lagoa vive um momento ímpar, com péssima gestão”. Em um comunicado, o movimento relata que “vários flagrantes de moradores, visitantes e pescadores, abrem discussão sobre o despejo de esgoto e suas consequências na lagoa”.

No Vinhateiro, Nagib Cordeiro contou que quando era criança brincava nas águas da lagoa. “Hoje, além de estar cercado impedindo o acesso, tem mais de 50 cm de lodo”, revelou.

“Assim como no passado sombrio (1999), quando a Lagoa de Araruama sofreu o que pode ser considerado um colapso, com água turva e a vida praticamente insustentável, as expectativas para o ano de 2025 não são das melhores. E fica claro que, em breve, está por vir: calamidade pública no sistema lagunar” afirma um trecho da nota do Lagoa Viva.

A situação, segundo eles, contrasta com a realidade de outros pontos da lagoa como Praia do Caiçara (Arraial do Cabo), Praia dos Ubás (Iguaba Grande) e Praia das Pedras de Sapiatiba (São Pedro da Aldeia), que receberam a Bandeira Azul, um certificado internacional de qualidade ambiental concedido a praias, marinas e embarcações de turismo sustentável que atendem a critérios rigorosos de gestão ambiental, segurança, infraestrutura, educação ambiental e qualidade da água. O programa é gerido pela Foundation for Environmental Education (FEE), uma organização sem fins lucrativos com sede na Dinamarca, e está presente em mais de 50 países. Um dos critérios para concessão da certificação é que a água esteja limpa e segura para banho, com análises regulares que comprovem a ausência de poluentes perigosos.

Questionada sobre o que está sendo feito para resolver essa situação, a Prolagos disse que está participando das vistorias técnicas promovidas pelo Comitê de Bacias Lagos São João em conjunto com o Consórcio Intermunicipal Lagos São João, INEA (Instituto Estadual do Ambiente) e secretarias municipais de Meio Ambiente: o objetivo é encontrar ações cabíveis. Garantiu também que o sistema de esgotamento sanitário segue operando normalmente. No entanto, revelou que a Lagoa de Araruama possui características próprias (direção e velocidade dos ventos, movimento de marés, índice pluviométrico, altas temperaturas e baixa profundidade) "que influenciam diretamente na sua aparência", como no caso denunciado pelos moradores do Mossoró.

Em conversa com a equipe do jornal, o biólogo Eduardo Pimenta confirmou a informação da concessionária. Ele também garantiu que existem outras questões, principalmente nesta época do ano (verão) que fazem com que alguns pontos do corpo hídrico (cerca de 15% do total de toda a extensão do corpo lagunar) tenham esse tipo de problema chamado de “pontual”.

Lagoa_mossoro (1)– De uma maneira geral, mais de 80% do corpo hídrico da Lagoa de Araruama está em boas e ótimas condições de balneabilidade. A ciência, o monitoramento do Consórcio Intermunicipal Lagos São João, do Comitê de Bacias, do Governo do Estado, do INEA, e todos os trabalhos de conclusão de curso, seja TCC, de mestrado de doutorado, têm mostrado isso. Mas, por que essa situação no Mossoró acontece nesse momento, e é recorrente nessa época do ano? Porque nós temos, na região, um sistema de tratamento de esgoto a tempo seco. Ele salvou a Lagoa de Araruama e foi muito importante. Mas, quando chove, a água da chuva se mistura com os efluentes. E a estação de tratamento de esgoto não tem dimensionamento para receber água de chuva e efluentes ao mesmo tempo. Então, quando chove, abre-se as comportas. E no verão, além de chover muito, a população da Região dos Lagos aumenta de três a cinco vezes. Ou seja, muita gente na região usando água e gerando mais efluentes. E quando chove, por causa do sistema de tratamento a tempo seco, vai tudo para a lagoa. Outro fato muito importante é que nessa época do ano o calor é muito intenso, e a água da lagoa fica muito quente. E todos esses fatores levam, pontualmente, a essa situação principalmente nessa época do ano. Tanto que passada a alta temporada, a lagoa se recupera plenamente em 85% de sua extensão. Mas os moradores e pescadores têm legitimidade e autenticidade para reclamar e exigir melhorias - explicou Pimenta.

Ainda em conversa com a Folha, o biólogo afirmou que um fato que vai possibilitar melhoria de outros pontos da lagoa, minimizando a situação denunciada inclusive por moradores do Mossoró, é a obra de requalificação das estações de tratamento de esgoto locais, que estão sendo elevadas ao nível terciário (onde o efluente final é água de reúso).

– Isso melhora muito os efluentes que são devolvidos e lançados na Lagoa de Araruama. Porque isso que acontece no Mossoró é resultado do nitrogênio e do fósforo que não são retidos no atual sistema de tratamento. Como as estações estão sendo transformadas em sistema terciário, elas vão reter esses componentes, e isso vai minimizar essa situação. O Canal de Mossoró, inclusive, está sendo todo blindado para não levar mais esse problema para aquela área do loteamento Fuad Zacarias. O aumento do cinturão coletor de efluentes no entorno da Lagoa de Araruama também está sendo ampliado. O objetivo é que se chegue a 100% de eficiência em todo esse processo - explicou.

No entanto, de acordo com ele, a solução não é a curto prazo, nem definitiva. Para Pimenta, o certo seria não jogar mais nenhum tipo de efluente na lagoa, nem mesmo o tratado.

– A solução definitiva seria a instalação de um emissário submarino, como já tem em Rio das Ostras, em Ipanema (Rio de Janeiro), na Baía de Todos os Santos (Bahia), na Austrália, em Portugal, mas aqui ninguém quer. Até porque, qualquer investimento incorre em aumentar o valor da conta. Outra possível solução seria levar os efluentes tratados (água de reúso) para área rural para aproveitamento na lavoura, o que também teria impacto no valor da conta - revelou.