O que caracteriza se uma pessoa é ou não fã número um de um artista, ou celebridade? Desde a partida de Silvio Santos, no último sábado (17), a história de vários fãs do dono do SBT ganharam destaque. São pessoas que ainda hoje guardam os famosos aviõezinhos de dinheiro jogados pelo apresentador durante os programas, colecionam réplicas de roupas e vários carnês do Baú da Felicidade, entre outras coisas. A equipe da Folha descobriu que aqui mesmo, na Região dos Lagos, também existem fãs de Silvio Santos. Alguns, inclusive, utilizaram a história do carioca, de coração paulista, como inspiração profissional.
Erilda Sampaio, de 72 anos, é moradora do bairro Baixo Grande, em São Pedro, e embora nunca tenha visto Silvio Santos pessoalmente, todos os anos ela reúne amigos e vizinhos no dia 12 de dezembro para celebrar o aniversário do apresentador.
– Não lembro exatamente quando foi a primeira festa que fiz, mas a última foi ano passado. Sempre gostei dele, o tive como ídolo. Uma pessoa de caráter, honesto e muito alegre. Os domingos era com a TV ligada no programa dele. Infelizmente nunca estive pessoalmente com Silvio, mas já dei entrevista no SBT para Hebe Camargo, Ratinho, Nani People e Adriane Galisteu duas vezes. Que Deus o tenha. Estou muito triste - contou Erilda.
Um dos convidados para esta festa de aniversário para Silvio Santos é Davi Mendonça, filho da jornalista Simone Mendonça.
– Foi uma oportunidade única, bem divertida, alegre e prazerosa. A festa era a mais simples que você possa imaginar: uma mesa com bolo, doces e salgadinhos e todos os convidados reunidos ao redor. Na mesa, perto do bolo, sempre tinha um livro de Silvio Santos com uma foto dele na capa para lembrar que era ele o aniversariante, e sentirmos, de certa forma, sua presença. Era uma comemoração onde sentíamos tudo o que Silvio Santos nos proporcionou em sua carreira e vida, alegria, harmonia e comemoração, coisas que ele sempre espalhava em suas mensagens e programas. Um momento onde colocávamos em prática aquilo que eternizou na música do seu programa: "Do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar" - revelou.
Esse, no entanto, não foi o único momento em que o apresentador fez parte da vida de Davi. Aos 21 anos, ele conta que a primeira vez que escutou falar de Silvio Santos foi quando tinha entre 5 e 7 anos. Desde então coleciona uma série de memórias afetivas.
– De vez em quando assistia a uns trechos do programa com o meu avô materno, minha avó paterna, e já vi também com o meu padrinho, em uma ocasião em que ficávamos tentando acertar as respostas do quadro "Perguntas para o Auditório". Algo que me marcou muito também foi o quanto o meu avô gostava das pegadinhas. Era o quadro que eu menos curtia e o meu pai detestava. Mas lembro do meu pai me mostrando as pegadinhas no YouTube para me ensinar a ficar atento com o que se passa ao redor para, assim, evitar que eu caísse em alguma pegadinha - revelou Davi.
Se preparando para cursar a faculdade de jornalismo, Davi contou à Folha que “Silvio Santos foi uma inspiração e força para eu correr atrás do sonho que tenho de ser apresentador de TV”.
– Ele foi uma das influências que tive para entrar na área da comunicação porque o Silvio era um homem muito visionário, e usava do seu lado humano, empreendedor, produtor e cantor na sua personalidade profissional de apresentador de televisão. Podemos até dizer que ele revolucionou a história da televisão brasileira levando ao público o lado informal e leve para um ambiente que até então seguia uma técnica formal que o rádio levou para a área da comunicação. Esses dias vi até o Pedro Bial falando que o Silvio Santos usava terno e gravata no figurino, mas não o usava no jeito de conduzir a apresentação do seu programa. E acho que esse jeito de você mostrar a sua face profissional sem a deixar mascarar a sua personalidade privada, social e voltada aos negócios é um diferencial que herdamos dele. A atitude de se tornar dono do seu próprio negócio é também um exemplo dele a ser seguido, e que no mundo de hoje ficou até mais fácil de se ter devido ao avanço tecnológico.
Além de Davi, Silvio Santos também serviu de inspiração para o locutor e radialista Beto Júnior, também conhecido pelo dom de conseguir imitar a voz do dono do SBT.
– Nunca esqueço do Domingo no Parque e os brinquedos da Estrela que eram os prêmios da garotada. A propaganda do tênis Montreal continua na minha mente de maneira muito clara. E a atração que mais me dava emoção em assistir era o Cidade contra Cidade. No quintal de casa eu brincava imitando o Silvio para os amigos. Como alguns sabem, fui garoto de rua, engraxate e camelô em Curitiba, e na rua eu imitava ele para vender cartão de Natal e telefone de fio. Mas foi aos 16 anos que usei a imitação profissionalmente, na rádio Cultura, de Curitiba, em um programa que tinha aos domingos. Depois em vários programas de humor da Antena 1 FM e rádio Cidade. Também nas rádios de Cabo Frio e nas festas de rua eu imitava muito o Silvio. Saudade desse tempo - revelou.
Assim como Silvio, Beto começou a carreira como radialista, e conta que também nisso o dono do Baú da Felicidade serviu de inspiração.
– Em qualquer coisa que fazemos na comunicação é difícil não lembrar dele, seu sorriso, sua busca em estar sempre respeitando o público… Ele adorava presentear as pessoas que admiravam seu trabalho. As premiações eram uma espécie de agradecimento pessoal pelas conquistas, e para mim ele será uma inspiração eterna. Um exemplo profissional e, acima de tudo, um exemplo de vida. Nada abalou o seu caminho, nunca deixou transparecer qualquer dificuldade, mostrou que resiliência é parte forte de um homem para superar qualquer dificuldade. Eu via nele um pai preocupado em deixar um legado, e ele fez isso com grandeza. Um judeu que não se intrometeu na escolha religiosa de sua esposa e filhas, que respeitava pessoas trans, feias, bonitas, gordas, magras… Alavancou e criou novos talentos, valorizou velhos talentos… Um homem além de seu tempo. Que descanse em paz e tenha uma nova vida ao lado de Deus. O céu está em festa.