Se nesta terça-feira (1), no auditório da Prefeitura, um clipe exibido tinha como objetivo mostrar os avanços na área da Saúde, durante a intervenção de mais de 100 dias do prefeito-secretário Alair Corrêa, que deixava o cargo, denúncias que chegam à redação da Folha mostram uma realidade bem menos cor-de-rosa.
Apesar das melhorias no atendimento e da aposta na inauguração da unidade de pacientes graves (UPG) – oito das vagas funcionarão a partir de hoje no HCE – os fatos mostram que ainda há um longo caminho a percorrer.
Na verdade, um desses leitos da nova unidade é a esperança do pedreiro e vigia Paulo César Santos Silva, 36. Após sofrer uma convulsão e depois um surto na madrugada da última sexta (28), seu irmão, Fábio Júnior, 24, sofreu uma queda e bateu a cabeça em frente à escola 31 de Março, no Guarani. A agonia começou ali. Na UPA do Parque Burle, sem conseguir uma vaga de UTI, Fábio sofreu três paradas cardíacas desde então. Paulo César corre contra o tempo para tentar salvar a vida do irmão.
– Mesmo que depois ele morra, quero apenas que ele seja atendido com todos os cuidados – pede, aflito.
Já os problemas da família de João José da Silva começaram há cinco meses, quando sua filha se submeteu a uma cirurgia para retirada de um nódulo no útero no Hospital da Mulher. Depois de um período sem dores, elas retornaram com força total há poucos dias.
Dores que, segundo João, a impedem de dormir há quase uma semana, além de lhe tirar o apetite e a sede. De acordo com João, nas crises mais agudas, a filha chega a desmaiar. Nas procuras freqüentes à UPA do Parque Burle, ele diz que são administrados apenas analgésicos. Ultrassom e radiografias nada indicam, o que tem levado o pai de família, que perdeu a esposa de diabetes há pouco tempo, ao desespero. O diagnóstico foi ser buscado no Rio, no Hospital Salgado Filho, para onde a moça foi levada ontem à tarde.
– Não quero culpar a cirurgia, mas não é possível que não consigam descobrir o que a minha filha tem. Dizem que ela não tem nada, mas como se ela está cheia de dor ? – questiona.
Mas, apesar dos esforços da Prefeitura para encontrar desvios e de integrar eletronicamente o sistema de almoxarifado às unidades, o abastecimento de medicamentos e insumos segue sendo um gargalo a ser fechado. Que o diga o técnico em telefonia Fábio Santos, morador do Jardim Esperança.
Depois de sofrer uma cirurgia no tornozelo, no Hospital de Traumatologia e Ortopedia Dona Lindu, em Paraíba do Sul, há dez meses, houve rejeição ao parafuso instalado. Após nova operação para sua retirada, veio a necessidade de refazer diariamente o curativo.
Encostado, o rapaz começou a fazê-los no Hospital do Jardim, mas há cerca de 20 dias, tem tido dificuldades (VEJA VÍDEO COM AS DENÚNCIAS NO TV FOLHA).
– É constrangedor não ter álcool 70º, gaze e atadura – diz.