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Linhares: Defensora cita 'higienização' e cabo-friense do grupo põe versão de Serginho em xeque

Citada por Serginho em vídeo, Ana Clara também confirmou a versão de que foi pra Linhares por causa de falsa promessa de trabalho

11 abril 2025 - 17h44Por Redação

Continua repercutindo o caso das 12 pessoas em situação de rua levadas de Cabo Frio para Linhares, no Espírito Santo. A ação, segundo denúncias, teria sido articulada pela Prefeitura de Cabo Frio. Em vídeo postado nas redes sociais nesta quinta-feira (10) o prefeito Serginho Azevedo negou irregularidades e afirmou que todos foram pra Linhares por vontade própria, incluindo uma mulher identificada por ele como Ana Clara, única moradora de Cabo Frio no grupo. Serginho alegou que ela decidiu partir para fugir de ameaças que estaria sofrendo em Cabo Frio. Mas, em entrevista ao Bom Dia Rio, da Rede Globo, nesta sexta-feira (11), Ana Clara confirmou a versão da falsa promessa de emprego. A Defensoria Pública criticou a ação e também usou o termo “higienização” (citado anteriormente pela vereadora linharense Kelley Bonicenha) para definir a conduta da gestão cabo-friense.

– Ele falou “vai pra lá porque tem um trabalho, um lugar pra vocês dormirem”, e eu acreditei - contou. A pessoa que Ana Clara se refere, e que teria feito a falsa promessa de emprego e moradia, foi apontada como sendo o coordenador da casa de passagem de Cabo Frio, Thadeu Couto.

Um homem, identificado como Júlio César Freire, e que também faz parte do grupo levado para Linhares pela Prefeitura de Cabo Frio, confirmou a versão de Ana Clara.

– Eles falaram “vai pra lá porque lá tem colheita de café. Já foram pessoas aqui de Cabo Frio pra lá que arrumaram R$ 20 mil em três meses. Eu falei “tô em situação de rua, não tenho nada a perder, vou pra lá, então”. Mandaram a gente assinar um papel, e quem tá em situação de rua assina qualquer papel. Eu quero mudar de vida. Cheguei aqui e não era nada disso - revelou.

Um outro homem, identificado como Adílio Menezes, disse ter questionado a situação quando recebeu a proposta de viajar para o Espírito Santo.

– Eu falei “estou sem documento”. E falaram “não, vai pra lá (pra Linhares). Lá você vai conseguir tudo. Vai trabalhar, rapidinho vai conseguir suas coisas. Foi isso que eles (a Prefeitura de Cabo Frio) fizeram com a gente - contou.

Segundo informações, ao chegar em Linhares, o motorista do micro-ônibus fretado pelo governo cabo-friense teria deixado todo mundo em uma rua da cidade sob a alegação de que um outro veículo faria o transporte deles para uma fazenda de café. 

Ao Bom Dia Rio, o coordenador da casa de passagem de Cabo Frio afirmou que tem um documento assinado por todos do grupo onde a Prefeitura se compromete apenas com o transporte. Ele também negou qualquer promessa de trabalho.

– De forma alguma fizemos contato com alguma fazenda, ou empresa, ou oferecemos pra eles oportunidade de emprego em outro município - afirmou.

Segundo o delegado de Linhares, Fabrício Lucindo, os passageiros do micro-ônibus já foram oficialmente ouvidos. Nenhum deles é natural do Espírito Santo: 10 seriam do estado do Rio de Janeiro, e dois da Bahia. Ele afirmou ainda que todas deram a mesma versão do fato. Uma investigação já foi aberta.

– Todos contam a mesma história. É até difícil 12 pessoas contarem a mesma história sem quase nenhuma divergência. Então a gente pensa que realmente eles estão falando a verdade sobre o que aconteceu.

Além da delegacia, o caso também foi parar na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. A defensora do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, Cristiane Xavier Souza, falou em “higienização” ao citar a ação promovida pela Prefeitura de Cabo Frio.

 – Nós não podemos exportar pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social. O Rio de Janeiro não vai ser essa cidade, nem por meio de Cabo Frio ou qualquer outra cidade, que vai usar desse artifício para higienizar suas cidades e dar uma solução administrativa. O servidor público também tem que agir com responsabilidade dentro das suas funções - argumentou.

Em vídeo, o prefeito de Linhares, Lucas Scaramussa, manifestou repúdio à ação do governo cabo-friense.