Depois de amargar uma dívida de cerca de R$ 400 mil por conta de um calote do Hotel Urbano (Hurb), que não honrou com pacotes comprados por grande parte de seus clientes, os hoteleiros de Cabo Frio já estão em estado de alerta por conta da crise que agora afeta outro site de serviços ligado ao setor de turismo: a 123 Milhas. A companhia anunciou recentemente o cancelamento de passagens aéreas promocionais adquiridas para utilização entre os meses de setembro e dezembro deste ano. A notícia deixou apreensivo o presidente da Associação de Hotéis de Cabo Frio, Carlos Cunha.
– O que foi suspenso foram as vendas de passagens aéreas. Isso tem pouco impacto para nossa hotelaria, mas estamos acompanhando se a hospedagem será impactada. O que acende um alerta é se eles não pagarem pelas hospedagens – contou à Folha.
Segundo Cunha, a 123 Milhas é um dos grandes parceiros da rede hoteleira, assim como Booking, Expedia e CVC entre outras empresas.
– Funciona assim: o cliente faz reserva através da 123 Milhas e paga pra eles. Depois de hospedado, o hotel que hospedou emite fatura e a 123 Milhas repassa o dinheiro mensalmente. As hospedagens de junho foram pagas em julho. As de julho estão para serem pagas em agosto. Já tivemos alguns relatos de pagamentos que não foram feitos em agosto e estamos em estado de alerta, monitorando – revelou.
Em nota, a 123 Milhas afirmou que a decisão de suspender a emissão de passagens na linha promocional foi motivada por "fatores econômicos e de mercado". Citou ainda as altas taxas de juros e o aumento na demanda por voos, "que mantém elevadas as tarifas mesmo em baixa temporada". Como compensação, a empresa ofereceu vouchers aos clientes afetados, mas a decisão está sendo contestada na Justiça sob alegação de que esta única alternativa fere o Código de Defesa do Consumidor.
Sobre o calote do Hotel Urbano, Carlos Cunha disse que mais de quatro meses após o anúncio da crise, nada foi resolvido ainda. Em maio a Folha chegou a informar que o Hurb havia anunciado que no dia 2 daquele mês começaria a realizar alguns pagamentos em atraso, e que no dia 4 participaria de uma reunião, no Rio, com a Associação de Hotéis de Cabo Frio. O objetivo seria buscar uma forma pacífica para negociar de forma total, ou parcelada, o pagamento da dívida para os associados da cidade.
– Até hoje não tivemos resultado. Esta semana entrei em contato novamente com eles e a resposta foi a mesma: “estamos resolvendo, favor aguardar” – contou Cunha.
De acordo com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), desde o dia 29 de maio o Hotel Urbano continua impedido de comercializar pacotes flexíveis. A medida foi adotada como forma de proteção aos consumidores até que haja resolução das milhares de reclamações já existentes, antes que novas vendas sejam realizadas. A plataforma teria apresentado recurso contra a decisão, mas o pedido segue sob análise do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC).