“Porto de desembarque. Navio negreiro”. As palavras exigem reflexão sobre a necessidade de se preservar e partilhar a memória de um lugar histórico. Elas estavam inscritas em placa fincada na areia durante ato da Associação das Marisqueiras Quilombolas da Rasa, realizado por ocasião dos 135 anos da abolição da escravatura, neste sábado (13/05). A manifestação aconteceu na Praia da Marina, na Rasa, em Búzios, onde existem os últimos resquícios de antigo porto de navios negreiros, utilizado por traficantes de pessoas, como José Gonçalves, em meados do século XIX, no período da ilegalidade do tráfico de escravizados.
Um pedaço de madeira que está fincado à beira-mar é parte do que sobrou do porto, conta a pesquisadora Gessiane Nazario em seu livro "Revolta do Cachimbo — a luta pela terra no Quilombo da Caveira", lançado pela Sophia Editora [@sophiaeditora]. Segundo a autora, cerca de 7.040 africanos foram desembarcados ali e na Praia de José Gonçalves pelos traficantes no período da ilegalidade do tráfico de escravizados.
"Os quilombolas afirmam que este pedaço de madeira é resquício daqueles que formavam um pequeno cais onde se amarravam os navios que traziam os africanos escravizados", conta Gessiane. "Minha ancestral Madalena veio nos braços de sua mãe num desses navios", revela.
Um dos objetivos da manifestação foi justamente alertar o poder público sobre o a ausência de placa ou sinalização que contextualize aos moradores e turistas a importância histórica do local. Associação das Marisqueiras Quilombolas da Rasa é presidida por Selma Oliveira, tendo como vice-presidente Tatiana Pereira.