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Navegando pelo mar salgado: a travessia dos autores lusitanos para o Brasil

Portugal apresenta nomes de peso na literatura

26 setembro 2015 - 10h27

GABRIEL TINOCO

Quando Vasco da Gama des­bravou o horizonte, as grandes navegações iniciaram uma nova era. Não se sabe ainda se o heroico navegador esbarrou com o gigante Adamastor, do camo­niano ‘Os Lusíadas’. Fato é que a bravura lusitana encontrou na literatura a sua travessia. Do mar salgado, foram derramadas as lágrimas de Pessoa. Os ser­mões do Padre Antônio Vieira orientavam o navio como uma bússola. A descoberta: especia­rias como Eça de Queirós, Gil Vicente e José Saramago. Con­vido você, leitor, a seguir nesta grande navegação.

Se a caravela tivesse um co­mandante, certamente seria Luís de Camões (1524-1580). O poeta navegou por temas como o amor espiritual e as aventuras dos heróis portugueses. Passou pela poesia como sonetista – adepto ao Classicismo. ‘Os Lu­síadas’ (1572) é a grande obra do autor e uma brilhante versão da descoberta das Índias. A epo­peia é composta por dez cantos, 1102 estrofes e 8816 versos.

Fernando Pessoa (1888-1935) é como o vento para a caravela portuguesa. Os hete­rônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro remavam pelas múltiplas faces. Alvaro de Campos é um en­genheiro que se sentia um es­trangeiro no mundo inteiro – a versão mais crítica do poeta. Já Ricardo Reis é um latino mo­narquista, com bucolismo em seus versos. Alberto Caeiro é o mestre dos heterônimos. Sem estudos, o camponês se irritava com as buscas da metafísica.

Com a bênção de Antônio Vieira (1608-1697), a frota por­tuguesa içou âncora no Brasil, onde o padre espalhou ensina­mentos sobre filosofia, teologia e metafísica. O jesuíta nos dei­xou 700 cartas e 200 sermões. Sua obra mais célebre é o “Ser mão da Sexagésima’ (1655).

Nessa jornada literária, Eça de Queirós (1845-1900) remou contra a corrente do romantis­mo para adentrar ao mar do re­alismo. A publicação do roman­ce ‘O Crime do Padre Amaro’ (1875) despertou a ira católica ao questionar a impunidade da instituição. Eça também escre­veu obras como ‘O Primo Basí­lio’ (1878) e ‘Os Maias’ (1888).

Ao que parece, o talento por­tuguês embarcou em terra fir­me com José Saramago (1922-2010). Numa época em que os romances lusos já haviam con­quistado o mundo, Saramago mostra que não se cansa de ino­vações. A escrita pontuada por vírgulas deixa as ações fluirem com mais facilidade, enquan­to o narrador mostra forte pre­sença na história. As críticas à Igreja Católica renderam cen­suras ao autor. O romancista escreveu ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’ (1984), onde dá vida ao heterônimo de Pessoa, que conversa com o espírito do poeta. Ele também lançou clás­sicos como ‘Ensaio Sobre a Ce­gueira’ (1995), ‘Levantado do Chão’ (1980) e ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ (1991).

Que esta rica história ainda possa ser contada em outras linhas, afinal, navegar ainda é preciso.