GABRIEL TINOCO
Sentada. Amarrada numa cadeira revestida por zinco e conectada a fios de alta tensão. Quando ligado o aparelho elétrico, choques eram distribuídos pelo corpo inteiro. Parece um cenário de filme de terror, mas era a rotina de uma presa política nos tempos da ditadura – e de muitas outras, diga-se de passagem. Essa é mais uma das cenas aterrorizantes do livro ‘Grito de Liberdade’, publicado pela jovem escritora Jannini Rosa. A cabo-friense narra numa mistura entre fantasia e realidade uma triste história de amor nos dolorosos Anos de Chumbo. O lançamento da obra, dividida em dois volumes, será comemorado hoje, no Charitas, às 18h.
Grito de Liberdade estará nas vitrines das livrarias Cultura e Travessa e disponível em www.editoramultifoco.com.br. Cada livro custa R$ 40 e o segundo volume sairá daqui a seis meses. O lançamento contará com apresentação musical dos violinistas Tainá Sousa e Luan Monteiro.
A jovem escritora decidiu contextualizar o período histórico no primeiro volume do livro, com a intenção de situar melhor os leitores. Jannini narra minuciosamente a trajetória dos militares antes do golpe numa espécie de linha do tempo.
– Eu foco numa linha do tempo da história do Brasil, na formação do caráter anticomunista dos militares. Resgato todas as raízes familiares da personagem Lêda. Já no segundo volume, retrato mais a adolescência dela, o movimento estudantil, a época de efervescência política. Nessa época ela ainda não era ativa nos órgãos clandestinos, mas passou a ser logo após a morte do companheiro dela, que fazia parte da guerrilha – conta.
Grito de Liberdade é uma obra baseada em fatos reais. Ao saber que Jannini estava publicando o segundo livro (com apenas 18 anos), uma mulher que preferiu não revelar o nome sugeriu que a escritora passasse a vida dela para as páginas. A ‘Lêda da vida real’, no entanto, não conseguia relatar direito fatos tão marcantes como torturas e desaparecimentos de amigos.
– Ela não conseguia contar a história direito. Imagine só: torturadores a obrigavam a manter relações sexuais diariamente em troca da própria vida. E isso não aconteceu só com ela. Atualmente, ela possui três tumores no cérebro em decorrência de espancamentos dessa época.
A jovem Leda reforçou o ideal quando um homem com quem mantinha um intenso relacionamento foi assassinado pelos militares.
– Ela chamava o amor de companheiro. Amava muito ele, mas o ideal era a coisa mais importante da vida dele. Após a sua morte, ela promete lutar por ele.
Jannini classifica a leitura como um grande “agente de mudança”. A escritora também retrata o feminismo, causa também abordada em ‘Faces de Malala’, primeira obra dela.
*Leia a matéria completa na edição impressa desta sexta (14)