Ao longo dos 20 anos em que esteve de portas abertas, funcionando ativamente, o Teatro Municipal Inah de Azevedo Mureb, em Cabo Frio, recebeu não apenas inúmeros espetáculos teatrais, como também dezenas de festivais. Foi justamente no palco do municipal cabo-friense que aconteceu a primeira edição do Festival Curta Cabo Frio, em 2007. A mostra de cinema da Região dos Lagos teve 10 edições com apenas uma única interrupção (em 2016), e exibição de cerca de três mil curtas e longa-metragens do Brasil inteiro. A grandiosidade do evento fez com que o Festival se dividisse em vários outros palcos ao longo dos anos, entre eles da Unin4 e da Casa Scliar, onde foi realizada a última edição, em 2017, mesmo ano em que o teatro cabo-friense foi fechado.
Criado pelo hoje presidente da Câmara, Miguel Alencar, que não retornou os contatos feitos da Folha para que pudesse explicar como acompanha o processo de abertura do espaço, o festival nasceu com um objetivo claro: "incentivar a cultura cabofriense". Em 2015, em entrevista à Folha, Miguel revelou que o plano havia dado certo, com vários curtas de Cabo Frio confirmados na programação.
- É uma atividade cultural gratuita tanto para moradores quanto para turistas, com um material que a população não consegue acessar. Os moradores daqui e da maioria das cidades do Brasil estão acostumados a assistir blockbusters (filmes populares a muitas pessoas). Além disso, as produções da cidade não passam nem por seleção comentou Miguel Alencar na época, durante a abertura da penúltima edição do Festival, que reuniu centenas de filmes profissionais e amadores.
Por quase uma década, o Teatro Municipal Inah de Azevedo Mureb recebeu públicos e artistas de várias partes do país, incluindo nomes do cenário nacional como Igor Cotrin, Jonas Torres, Guta Stresser e André Gonçalves, entre outros. Pelos palcos do evento também passaram músicos como Christiano Guerra, Tambores Urbanos, Azul Cazu, Clebinho e banda, As Bee, Mola Mestra, Mary Summer, Rayza Villar; e artistas locais como Yuri Vasconcellos, Teatro Cabofriense de Comédia e Jiddu Saldanha entre outros.
Também foram exibidos filmes produzidos por estudantes da rede municipal de educação de Cabo Frio, ao lado de grandes produções como Entreturnos, com o ator Luis Miranda e direção de Edson Ferreira, e Aqui Jazz, com Mônica Carvalho e direção de Albert Moreira, e materiais assinados por artistas locais, como "Céu de Cabo Frio" de Marcelo Bretas; A Festa da Penha, de Ricardo do Carmo e direção de fotografia de Lucas Muller; "Uma história do Perú", de Milton Alencar Júnior, e o documentário "Um novo começo", produzido pelo ator e cinegrafista Whorton Marenga, entre outros.
- Além de apresentar o documentário, eu participei da produção do Festival. Se não me engano, foi em 2008, na segunda edição, que participei da Oficina de Cinema. Eu já conhecia Miguel e Milton Alencar há muitos anos e eles me colocaram pra fazer essa oficina. E foi daí que eu comecei a fazer estágio na Cabo Frio TV, onde trabalhei por mais de 10 anos. Na TV me deram liberdade para editar, e automaticamente migrar para o cinema. Trabalhei até a décima edição e aprendi muito. Na última edição apresentei um documentário que fiz em São Paulo. E a experiência de trabalhar no Festival de Curta foi muito boa: expandiu meu aprendizado, conheci muitas pessoas, fiz vários filmes, vídeos Foi um festival extremamente importante porque movimentou vários cineastas e pessoas que queriam ter alguma iniciação. As escolas começaram a produzir filmes ótimos. Concordo que o festival é extremamente importante, que fomenta a cultura - comentou Whorton.
Lembrando com saudade do Festival de Curta, o ator e cinegrafista também falou à Folha sobre a importância que o Teatro Municipal Inah de Azevedo Mureb teve para o festival e para sua vida profissional.
- Sou cria do teatro municipal. Comecei nele em 1997. Tenho uma longa estrada na cultura do município porque fui ator de teatro. Foi no municipal que dei meus primeiros passos para o cinema. Por isso, acredito que o teatro é extremamente importante para o município. Quando ele foi inaugurado, tínhamos mais de 30 ou 40 grupos teatrais em atividade na região. Então o teatro tem que voltar à ativa para que os grupos possam voltar a apresentar suas peças. A estrutura do espaço é fantástica. E junto com a reabertura do teatro eu defendo a volta do Festival de Cinema porque além de eu ser um realizador, o evento é mais um ponto para que a cultura possa respirar - avaliou. Ao longo de 10 edições, o Festival Curta Cabo Frio também mostrou ser um evento inclusivo, criando a Mostra Afro, Mostra Cristã e Mostra LGBT, esta última em parceria com o Grupo Iguais.
Em sua última edição o Festival Curta Cabo Frio premiou os melhores trabalhos nas categorias Curta Digital Ficção, Curta Digital Documentário, Curta Animação, Curta Cabo Frio, Direção, Fotografia, Roteiro, Especial do Júri, Curta Escola Fundamental II e Curta Escola Ensino Médio.
Fechado desde janeiro de 2017 por problemas estruturais, o Teatro Inah de Azevedo Mureb segue fechado. A previsão era reabrir ainda neste primeiro semestre, mas o prazo, segundo o governo municipal, precisou ser adiado até dezembro deste ano por conta do cumprimento de exigências que teriam sido feitas pelo Corpo de Bombeiros no Projeto de Segurança Contra Incêndio e Pânico.