O artigo 215 da Constituição diz que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”. Em Cabo Frio, no entanto, artistas, moradores e visitantes estão encontrando dificuldade em ver esse direito constitucional ser respeitado, principalmente no que se refere aos espetáculos teatrais. Inaugurado em 14 de agosto de 1997, e fechado desde janeiro de 2017, o futuro do Teatro Municipal Inah de Azevedo Mureb, em Cabo Frio, segue cercado de dúvidas e mistérios. Entre os muitos problemas que impediam a reabertura do espaço estavam falta de energia elétrica (aparentemente já resolvida) e problemas estruturais que precisam de solução para liberação de documentação pelo Corpo de Bombeiros.
As poucas informações sobre o assunto vêm de artistas locais, como José Facury, um dos fundadores do grupo Creche na Coxia e membro do Conselho Estadual de Cultura. Segundo ele, há poucos dias foi convocada uma reunião com participação dos conselheiros de artes cênicas, membros da Câmara de Teatro, e representantes da Secretaria Municipal de Cultural sob o comando do secretário Clarêncio Rodrigues, além do secretário adjunto de Planejamento, Sérgio Nogueira.
– Participei dessa reunião como conselheiro estadual. Nela falaram dos procedimentos em curso, como a licitação para apresentação do projeto para o acabamento da obra, incluindo as instalações cênicas. O que, ao ver deles, está previsto para março de 2023, o que nos deixou frustrados quanto ao prazo, mas esperançosos se ele abrir com a sua completude técnica. A Câmara de Teatro vai acompanhar o andamento do assunto – contou o ator e diretor teatral.
A Folha pediu nota à Prefeitura sobre o assunto, mas não teve resposta até o fechamento desta edição. Aliás, desde outubro de 2021 o jornal vem tentando, sem sucesso, buscar novas informações sobre a reabertura do espaço. Na época, uma luz de esperança tomou conta dos artistas da cidade, com o anúncio de que a Prefeitura de Cabo Frio e a Enel fizeram um acordo para o governo municipal quitar, em 36 parcelas, uma dívida de R$ 25.637.166,16 relativas ao fornecimento de energia elétrica em vários prédios públicos, durante os períodos de março de 2003 até dezembro de 2020. Além do Teatro, que teve a luz religada poucos dias após o acordo, também deveriam ter a energia elétrica restabelecida o Ginásio Alfredo Barreto, no Itajuru; o Ginásio Vivaldo Barreto, no Jardim Esperança, e o Estádio Correão, em São Cristóvão.
Antes disso, em fevereiro de 2021, o prédio do Teatro Municipal de Cabo Frio foi visitado pelo arquiteto Marcos Flaksman, autor do projeto original do espaço. A visita, que foi acompanhada pelo prefeito José Bonifácio, teve o objetivo de avaliar todo o prédio, verificando inicialmente as revitalizações que serão necessárias para a retomada do funcionamento. Na visita, o prefeito chegou a anunciar que em breve teria, detalhadamente, tudo o que precisa ser feito para que se possa reabrir a o teatro “com a grandeza que ele merece e com a valorização dos nossos artistas locais”.
Em julho do mesmo ano surgiu mais uma pontinha de esperança, quando a secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros, esteve em Cabo Frio e se encontrou com o secretário de Cultura de Cabo Frio, Clarêncio Rodrigues. Entre algumas possibilidades, estava o apoio na revitalização do Teatro Municipal, inclusive com aquisição de equipamentos técnicos como iluminação, por exemplo, via leis de incentivo.
Em março deste ano a Prefeitura divulgou que o prédio estava em processo final de reforma. No entanto, o teatro segue fechado e sem data para reabertura oficial e retorno de espetáculos e festivais culturais. O funcionamento é apenas parcial, com liberação apenas das salas de ensaio e de estudo, com agendamento e número limitado de pessoas, para a realização de pequenas oficinas, ensaios e reuniões. Já a área da plateia e o palco seguem fechados.
Cidades vizinhas reabrem casas de espetáculo
Na contramão de Cabo Frio, o teatro Dr. Átila Costa, em São Pedro da Aldeia, passou por reforma em 2020. Ficou fechado durante o período de pico da pandemia de covid-19, mas já voltou a funcionar novamente. Na parte externa, a área de estacionamento recebeu cerca de 140 metros de rede de drenagem e assentamento de meios-fios. O espaço ganhou ainda calçamento, serviços de paisagismo e demarcação de vagas para os veículos. A obra foi fruto de um contrato de repasse celebrado entre a Prefeitura aldeense e o Ministério do Turismo. Desde que foi reaberto, o espaço vem movimentando a cultura do município vizinho através das atividades da Escola de Artes Municipal. Em fevereiro deste ano foram oferecidas 480 vagas distribuídas em oficinas gratuitas de dança, música, teatro, artesanato e desenho, com aulas presenciais, do infantil ao adulto.
Outro teatro que foi fechado para reformas, mas já voltou a funcionar, é o Teatro de Bolso Procópio Ferreira, em Campos dos Goytacazes. Ele estava fechado desde dezembro de 2021 para uma reforma no telhado e, posteriormente, para instalação de novas calhas, reposição de telhas e mantas, impermeabilização da laje; instalação de aparelhos de ar-condicionado nos camarins e no mezanino do foyer; reparos e colocação de nova vestimenta (tecidos do palco) na caixa cênica; e pintura em andamento nas áreas interna e externa. A cerimônia de reabertura do espaço aconteceu no dia 26 de junho e contou com apresentações de música, dança e leitura dramatizada. O local ganhou novos equipamentos através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro