As eleições nos mostram um cenário preocupante. Muito além das rivalidades ou de quem presumivelmente deveria ou não estar na dianteira, existe um problema de fundo ainda pouco discutido. A indigência de projetos ou mesmo de discursos coerentes é uma marca generalizada. Na disputa presidencial, por exemplo, a falta de uma identidade partidária, ideológica ou mesmo programática é visível. Prova disso é o discurso uníssono e reverente ao todo-poderoso mercado, que sela o compromisso pela manutenção das bases econômicas vigentes. Ora, lembrando o velho Marx, se as coisas no plano material, ou seja, o modo pelo qual uma sociedade organiza suas relações de produção, consumo, capital e trabalho não se modifica, então como promover mudanças substanciais em tudo que está no entorno e que derivam direta ou indiretamente dessas escolhas?
O que nos tem sido oferecido são projetos de poder. Nem mais, nem menos. Nesse ponto os três principais candidatos a presidência já mostram alguma variedade. Aécio Neves não conseguiu emplacar como alternativa e empacou no discurso anti-Dilma e anti-PT. Não passa a mínima confiança, credibilidade e assina embaixo de uma guinada definitiva do PSDB no colo da direita brasileira. Já Dilma luta contra seus próprios fantasmas. O primeiro é o próprio PT, que em parte do imaginário político assanhou-se ao fisiologismo à moda PMDB e enrolou-se nas próprias pernas em escândalos variados. E esse mesmo pedaço do PT que força a porta da presidente, que mostra um jogo mais duro do que os malabarismos de Lula. O outro fantasma de Dilma é derivado do primeiro e é o discurso da imbecilidade promovido pelos setores conservadores de que ela é o arauto do comunismo brasileiro do século XXI. Fez um governo austero, com avanços consistentes e com maior tendência ao desenvolvimentismo do que seu antecessor.
Já Marina é um caso a parte. Um triste caso, aliás. Seu crescimento é o sinal mais claro da completa despolitização do eleitor. Marina é um camaleão eleitoral. Tenta adequar seu discurso conforme a ocasião, mas quem a conhece logo percebe que não é o que pensa nem o que pretende. Foi guindada a uma posição de voto de protesto ou alternativo ao PT e a Dilma. E só. Sua presença no PSB é transitória e irreal. Não traz novidades além de uma fala rocambolesca e a promessa de manter exatamente tudo aquilo que o PT já vem fazendo, prova que o que importa é a caneta, nada mais. Virou ícone pop dos ambientalistas de ocasião, dos fundamentalistas religiosos ávidos pela fusão definitiva entre o poder e um credo religioso, e da classe média elitizada economicamente, mas paupérrima em conhecimento histórico e político. Isso sem contar seu staff, com nomes de meter medo em mentes e bolsos...
Enfim, qualquer que seja o voto, ele será de continuidade. Resta saber se será melhor uma continuidade conhecida, uma retocada ou uma continuidade com requintes de crueldade à liberdade, aos avanços sociais e a soberania do nosso povo.