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Coluna

Trabalho é trabalho, e nada mais

19 dezembro 2024 - 16h54

Eu detesto esse enaltecimento tosco do trabalho nas redes sociais. Além de cafona é sem sentido. Trabalho é trabalho. Qual é a necessidade de glamourizar algo que é essencial a qualquer ser humano?

Pense comigo: um camponês medieval jamais se gabaria de ter plantado umas mil batatas em um único dia. No máximo, pensaria algo como “poupei tempo e, se a colheita for boa, terei bastante a realizar”. Algo simples e direto. E assim é porque o trabalho não passa disso: um instrumento para, em primeiro lugar, a autossuficiência humana; em segundo lugar, para alterar a realidade material. Perdemos essa percepção original da coisa, algo normal nessa atualidade tragicômica.

Mas nada é tão ruim que não possa piorar: além desse culto desenfreado ao trabalho, há também a adoração à produtividade (que, arrisco dizer, já se tornou uma entidade sobrenatural, tamanho é o culto prestado a ela). A produtividade deixou de ser buscada com uma finalidade determinada para ser almejada por si mesma, tornando-se algo tóxico e que faz o indivíduo se assemelhar a um cachorro que corre atrás do próprio rabo.

A atual relação problemática e doentia com o trabalho é fruto de uma visão de mundo calcada na lógica da economia de mercado. Por reduzirmos tudo hoje a um processo de compra ou a uma relação de trocas de mercadorias e serviços, não seria de se espantar que o esforço laboral se tornasse extremamente valorizado (afinal, é a partir dele que riquezas são produzidas).

Particularmente, não vejo graça ou prazer algum em trabalhar. Faço-o porque é necessário e porque não quero ser dependente de alguém, tornando-me um fardo. Desdobro-me diariamente para construir mais de uma fonte de renda com o intuito de poder aposentar-me o mais cedo possível (o que me possibilitaria ter tempo e condições de tocar meus projetos pessoais de longo prazo). Às minhas obrigações, entrego o que é necessário e pronto. O que está feito, está feito. Deus não me fez para ser um escravo do trabalho.

Fica um recado: se você é aquela pessoa chata de Linkedin que vive se gabando das suas conquistas em seu emprego de dois salários mínimos e meio, gostaria que refletisse um pouco sobre o papel de trouxa que está prestando. Somente o dono da sua empresa está feliz com a vida que você leva. De resto, ninguém mais suporta essa sua forçação de barra na internet (nem mesmo você, e todos sabem disso)