Os dicionários dizem que é uma crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações; a Bíblia ensina que é pecado contra a fé ao compará-la com a idolatria; a psicologia explica que é uma forma comportamental de defesa; a Encyclopédie de Diderot define como qualquer excesso de religião e a liga especificamente ao paganismo. Apesar desses conceitos, nove dentre dez pessoas alimentam algum tipo de superstição.
Voltaire (1694 – 1778), escritor e historiador francês, disse: “Nunca a natureza é tão aviltada como quando a ignorância supersticiosa tem a arma do poder”. Este pensamento nos faz pensar o quanto a superstição pode influenciar governantes, o que levou Peter Drucker (1909 – 2005), consultor de empresas, a afirmar: “Gerenciamento é substituir músculos por pensamentos, folclore e superstição por conhecimento, e força por cooperação”.
“Os politeístas gregos e romanos, que modelavam suas relações com os deuses em termos políticos e sociais, desprezavam o homem que constantemente tremia de medo ao pensar nos deuses como um escravo que temia um senhor cruel e caprichoso. Este medo dos deuses era o que os romanos queriam dizer com superstição”, assim afirmou o historiador francês Paul Veyne (1930 – 2022).
Por mais que saibamos que as superstições, mundialmente famosas ou de efeito local, são irracionais, o fascinante dessas crenças populares é que preferimos não dar chance para o azar e continuar acreditando nelas. Por que será? Poucas coisas conseguem unir o ser humano em uma única crença como as superstições. Imagine quantas pessoas acreditam que o número 13 é sinônimo de azar, ainda mais se o dia do mês cair numa sexta-feira 13. Em Nova York, por exemplo, é comum os prédios pularem esse andar. Já o futebolista e treinador brasileiro Zagallo (1931 – 2024), tinha este número como atributo de sorte.
Mas o leque é grande, quando se fala de superstição. Estamos iniciando um novo ano, e como sempre acontece nessas épocas, pessoas se vestem de branco para atrair sorte, de amarelo ou dourado para ter dinheiro, ou ainda fazer uma lauta ceia para não faltar alimentos durante o ano. E a lista continua: quebrar um espelho significa sete anos de azar; se a palma da mão esquerda coçar, é sinal de que vai receber dinheiro; guarda-chuva dentro de casa deve ficar sempre fechado, pois segundo a tradição mantê-lo aberto traz infortúnios e problemas familiares; manter uma ferradura de cavalo em casa com as duas pontas para cima traz boa sorte; portar, como chaveiro, um pé de coelho como amuleto dá sorte; achar um trevo de quatro folhas tira todo o azar; jogar uma moeda em uma fonte de água realiza o desejo que tenha feito, e inúmeras outras práticas.
Fato é que a mente humana é terra inexpugnável, e cada pessoa tem suas próprias concepções, crenças e ilusões. Muitos colocam suas expectativas em objetos das mais variadas origens. Imagens de pessoas e animais têm servido de fundamento de fé para os homens desde os primórdios da humanidade.
Muitas vezes depositamos nossa segurança, esperança ou sucesso, em objetos diversos, como uma roupa, chaveiro, caneta, brinco ou relógio. Alguns nem ousam sair de casa se não portar estes bens. Acontece que um dia você deixa de ter um desses bens. O que vai acontecer? Nada! A vida continua do mesmo jeito. Encerro com uma citação de Adam Smith (1723 – 1790), economista escocês: “A ciência é o grande antídoto do veneno do entusiasmo e da superstição”.