A badalada reforma política cumpriu com que se esperava dela: nada ou quase nada. Acabar com a reeleição acabou se tornando um ícone de um conjunto de propostas que endossaram mais as permanências do que as rupturas. A volta do mandato de cinco anos corrige a assimetria causada por um sistema que, de tão ineficiente, não permitiu replicar as experiências bem sucedidas de reeleição em outras democracias tão ou mais consolidadas como a nossa.
Mas o que faz da política esse jogo viciado, de cartas marcadas e com aquele ar de canalhice esperando em cada esquina, não foi nem sequer tocado. Ainda que algumas cláusulas de barreira tenham dificultado o atrativo negócio do aluguel das pequenas legendas, permanece a promiscuidade de interesses entre quem financia e quem governa a favor dos financiadores. Ou seja, todo mundo ainda pode fazer a vida na política sem maiores constrangimentos. Prenúncio de que ainda ouviremos falar de outros tantos escândalos.
Mas o que os deputados fingem não escutar é que o problema não é só do executivo. Há quase um consenso popular sobre a inutilidade, ineficiência e improbidade quando o assunto são as vossas excelências. Acabar ou colocar limites à reeleição indefinida no legislativo, reduzir a quantidade de cadeiras ou tornar o parlamento mais em conta para o bolso da nação, nem de longe foram pensados como algo necessário para a discussão.
Mas discussão de que? Afinal, tudo foi colocado a toque de caixa, sem ampla mobilização popular, sem as consultas propostas pela própria presidenta ainda em campanha. Foi uma reforma de conveniência que só não conseguiu tudo o que queria, porque felizmente ainda existem parlamentares que nos fazem acreditar que vale a pena seguir a histórica tradição dos três poderes.
Enquanto isso continuamos obrigados a votar. Talvez seja até melhor assim. O voto facultativo, na atual conjuntura, só tornaria a compra mais cara e a logística de carregar o eleitor para urna mais elaborada. Em todo caso para tudo dá-se um jeitinho.
Agora é esperar pela previsível derrubada das cotas eleitorais, algo que soa absurdo num sistema democrático... Mas o que esperar de um regime totalmente incoerente, viciado e que ao invés de corrigir seus alicerces, prefere apenas pintar o telhado com cores diferentes?
Com a palavra o eleitor.