Eu já tinha idade para ganhar uma camisa de um time de futebol. Ainda assim, meu pai, flamenguista, resolveu esperar que eu decidisse de forma autônoma o meu time do coração. Foi a brecha suficiente para que seu irmão viesse me presentear com uma camisa do Vasco da Gama. A camisa de Roberto Dinamite, vestida imediatamente para o estarrecimento paterno.
Não demorou para que eu virasse a casaca. Passei para o vermelho e preto, sem nunca deixar de admirar as façanhas de Dinamite. Centroavante alto e esguio, de chute potente e ameaçador. Ele, que não necessitava tomar grande distância para disparar a bola numa explosão temível a todos aqueles que torciam para o outro time.
Na manhã do domingo passado, dia 08 de janeiro de 2023, a notícia da morte de Roberto Dinamite deixou um cheiro incômodo de pólvora queimada no meu dia. Imagens do velório, no entanto, trouxeram um simbolismo alentador. Zico, ídolo do arquirrival, que em campo tantas vezes desafiou Roberto, perdendo e ganhando, foi homenageá-lo. Porque não eram inimigos.
Perder e ganhar é imprescindível em disputas esportivas. Respeitar o vencedor. Acatar as regras previamente estabelecidas. Não usar da violência como resposta. São pontos fundamentais que o esporte nos ensina. E que devemos levar para a vida política e social.
No mesmo dia em que Roberto Dinamite nos deixou, assistimos a um revide violento e terrorista. Ato promovido por um grupo que havia sido derrotado, democraticamente, nas urnas. Não respeitaram os vencedores. Não acataram as regras previamente combinadas e trazidas às claras.
A dinamite que 27 vezes saiu dos pés de Roberto e queimou as redes dos rubro-negros, 25 vezes as redes dos alvinegros e 36 vezes as dos tricolores não fez com que fosse desprezado ou odiado. Ao contrário! Todos os grandes clubes do Rio de Janeiro foram lisonjear e horar seu nome no momento difícil do velório.
Na política tupiniquim, estamos ao avesso! O candidato vencido foge. Só quer jogar se for para ganhar. Não admite a derrota democrática, legitimada pela maioria do povo, pelas urnas e por todos os órgãos competentes. É assim que se ensina a barbárie aos seres humanos. A jamais aceitarem um não. A serem vândalos porque perderam. Insolentes porque querem, exclusivamente, suas vontades satisfeitas.
Roberto Dinamite foi meu primeiro ídolo. Minha primeira camisa. Hoje, como flamenguista, não tenho nenhum embaraço de dizer isso. Afinal, se envergonhar dos deuses do futebol, sob o pretexto mesquinho de que eles vestiam a camisa rival, é uma tolice!