A vitória de Eduardo Cunha e a de Renan Calheiros, respectivamente para a presidência da Câmara e a do Senado, trazem algumas dolorosas lições para a política brasileira. Em primeiro lugar desautoriza a população a reclamar das práticas corruptas e deslegitima o discurso de que a corrupção é uma febre tropical que só atinge ao Poder Executivo. Em segundo lugar mostra nitidamente o modus operandi do PMDB, seu histórico fisiologismo e apetite para controlar as entranhas do poder político onde quer que ele esteja. É mais ou menos como um aforismo que poderia bem dizer que “onde há repartição pública, há o PMDB.
Mas quem dera fosse apenas esse mal, o que já seria capaz de suficiente estrago. Tem mais, muito mais. Com o controle do Poder Executivo nas mãos de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, o PMDB e os demais partidos satélites, elevam a interlocução interesseira com o Executivo a um nível de profissionalismo jamais visto. Expliquemos: Quando Lula venceu as eleições para presidente e tornou-se um fenômeno político avassalador, estavam criadas as condições para uma nova forma de organizar as relações e práticas, as que concentram poder e dividem benesses. Assim foram montados um a um os esquemas de sangria, propina e rateio do dinheiro público, envolvendo também o empresariado (as lavanderias do dinheiro) e tendo como alvo prioritário acalmar os ânimos do legislativo e compensar regiamente deputados por perderem poder. Em poucas palavras, o PT comprou a governabilidade com o nosso dinheiro.
Agora que os esquemas de corrupção têm sido postos em evidência, a interlocução política no segundo governo Dilma forçosamente teve que mudar. O legislativo não quer mais receber in cash. Desse modo farão o que são especialistas, sobretudo Eduardo Cunha, barganhar meticulosamente cada vírgula enviada pelo Executivo, pelo preço político mais alto que puder. E claro que isso envolve ganhos e recompensas, só que dentro da “legalidade”. Cunha deverá transformar o plenário da câmara num grande bazar. Nesse cenário não se pode ter a menor esperança de que os interesses populares serão os balizadores das análises feitas aos projetos ou mesmo que tenhamos a proposição de leis justas e ações pertinentes. Ali será uma casa de negócios e quem quiser ser exceção e mostrar que ainda é possível acreditar em alguma coisa decente, terá também uma valiosa chance.
Difícil mesmo é fazer o povo entender. Afinal, elegeu esse tipo de político. Claro que é absolutamente inacreditável que alguém tenha votado ideologicamente em Eduardo Cunha ou em Renan Calheiros. Mas o que importa afinal? A nós resta apenas pagar a conta do há por vir. E está só começando.