Uma fábula narrada por Jerry B. Harvey, professor da George Washington University, para ilustrar uma teoria sobre a gestão da aceitação, conta que em uma tarde quente de verão, na cidade de Coleman (Texas), uma família está confortavelmente jogando dominó no alpendre da casa, até que o sogro sugere um passeio à Abilene, também no Texas, que fica a 53 milhas, para um jantar. A esposa diz: “parece uma boa ideia”. O marido, apesar de ter algumas reservas quanto ao calor e a distância, imagina que sua opinião possa estar em desacordo com o grupo e diz: “por mim, tudo bem, apenas espero que sua mãe queira ir”. A sogra então diz: “claro que eu quero ir, há muito tempo que não vou a Abilene”. A viagem é longa, empoeirada e quente. Quando chegam ao restaurante, a comida é tão ruim quanto a viagem. Eles chegam de volta em casa quatro horas depois, exaustos. O genro fala desonestamente: “foi uma bela viagem, não foi?” A sogra diz que, na verdade, ela preferia ficar em casa, mas concordou em ir já que os outros três estavam tão entusiasmados. O marido diz: “Não me agradou fazer isso, só fui para agradar vocês”. E o sogro, mentor da ideia, completa: “fiz o convite apenas para agradar a todos, mas não era o que eu desejava”. Resumindo, um fracasso anunciado.
O Paradoxo de Abilene nos conduz a uma situação onde os membros de um grupo, até mesmo o líder, se sentem indiretamente obrigados a concordar com uma ação ou decisão, por acreditar que seja a vontade de todos ou, que esta atitude, seja o pensamento geral. Em busca de aprovação ou por temer uma censura ou repressão, cada membro do grupo acaba por contrariar sua própria convicção, apenas para evitar confronto ou ruptura. Certo estava Nelson Rodrigues (1912 – 1980), escritor e cronista, quando disse: “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.
No ambiente profissional, principalmente quanto aos que estão iniciando carreira, é natural que haja tendência do novo funcionário em não ser divergente da opinião dos líderes, mesmo tendo certeza de que algo esteja ou dará errado, sendo levado a compactuar com a maioria, temendo provocar um confronto. Uma frase de Steve Jobs (1955 – 2011), fundador da Apple, é um alerta para os que assim agem: “Nunca deixe que o ruído da opinião alheia impeça que você escute a sua voz interior”. O bom senso recomenda que devamos estar sempre propensos a manifestar nossas opiniões. Aliás, há no Marketing uma estratégia de reunião conhecida como “brainstorming”, técnica que consiste em todos os participantes poderem expressar com liberdade seus pensamentos, por mais absurdos que sejam.
O problema fica evidente na área política em face do surgimento dos bajuladores, que concordam com tudo que o chefe diz, somente para agradar, incapazes de dizer não. Em minha passagem pela Administração Pública, tomei conhecimento de várias decisões equivocadas tomadas pelo chefe do executivo, ao não encontrar divergências quando da exposição das suas ideias. Certo estava Albert Einstein (1879 – 1955) ao dizer: “Uma reunião onde todos concordam é uma reunião perdida”.
O Paradoxo de Abilene pode ter consequências sérias na liderança e na tomada de decisões. O desastre da espaçonave Challenger em 1986 é um trágico exemplo que resultou na morte dos sete astronautas. A NASA estava ansiosa para fazer o lançamento, ignorando o pensamento dos engenheiros sobre os riscos em baixas temperaturas. Como consequência, a nave se desintegrou 73 segundos após o lançamento.
Encerro com um antigo provérbio árabe que diz: “Um homem inteligente sai de um buraco que um sábio não cairia”.