A copa já acabou? É a sensação que nos dá. Um evento que já nasce acabado, desgastado. Impressiona que no “país do futebol” uma copa do mundo tenha um triste fim em seu próprio início. As lojas timidamente expõem seus pequenos estoques de materiais, talvez pela quase certeza de que provavelmente encalhem. Não se vê emoção na população em geral, e só falta pouco mais de uma semana para a abertura do evento.
Mas a copa deixou legados antes mesmo do fim em seu começo.
O primeiro é o legado da indiferença. O povo não tomou o evento como seu. Um evento elitizado, ao mesmo tempo tão distante e tão perto. Uma seleção pausterizada, sem a mínima graça, raça ou proximidade com a gente. São atletas dos seus respectivos patrocinadores. Nem de longe nos representam. O técnico é um ótimo ator para comerciais de televisão.
O segundo é o legado da consciência. O povo não topou entrar numa euforia carnavalesca. Sabe que na ordem do dia existem assuntos mais importantes, definitivos e urgentes. A bola vai rolar, mas creio que a anestesia geral não pegará esse ano.
O terceiro legado é o da inconsistência. Muitas obras específicas para o evento foram feitas. Mas o que ficará para o povo são os velhos problemas no que diz respeito à saúde, transporte, logística, educação... Num país onde o destaque são as construções das “arenas”, não se pode esperar mais do que nada.
O quarto legado é o da Incoerência. A presidente acha que temos “complexo de vira-lata”, quando falamos o óbvio. O país faz festa sem que tenha a casa arrumada. É como o cara que tem uma TV de 52 polegadas num barraco de tijolo cru. A presidente as vezes esquece o sentido da palavra prioridade. Mas ela não está só nesse legado, a FIFA, a CBF e todos os que partilham do pensamento de que “tudo o que era para ser roubado já o fora”, fazem coro a nossa embaixatriz da copa.
O quinto legado é o da incontinência. As declarações à moda Pelé e Ronaldo, junto com as pérolas do presidente da FIFA e coroadas com as propagandas ridículas da Globo, quase um apelo desesperado para que tenhamos misericórdia do evento, mostram que não há limite para a bobagem e para o senso de realidade.
Por fim, como a copa já acabou não sei ainda se o Brasil venceu. Tanto faz, como tanto fez.