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Coluna

O PT na Mão Inglesa?

Muitos têm estranhado as recentes notícias vindas do Palácio do Planalto. Diante delas, os eleitores contumazes ou incidentais da presidenta recuaram os discursos e a adesão começa a ganhar contornos difusos. 

08 janeiro 2015 - 15h46

Muitos têm estranhado as recentes notícias vindas do Palácio do Planalto. Diante delas, os eleitores contumazes ou incidentais da presidenta recuaram os discursos e a adesão começa a ganhar contornos difusos. A estranheza teve início com o anúncio do ministério, heterogêneo e incoerente com quem se propunha a manter o país numa perspectiva de centro-esquerda. Para piorar, o ministério fala. E quando disse a que veio conseguiu confundir ainda mais a cabeça do eleitor “de esquerda”. Podemos citar alguns exemplos. Um ministro da educação cujo núcleo central do discurso desprofissionaliza a função docente, considerando ser um acordo tácito no magistério a aceitação do trabalho apenas por amor, como um sacerdócio no qual se adere aos votos de pobreza.

Uma ministra responsável pela promoção da igualdade racial que, na falta de algo mais consistente, apela para as velhas medidas de efeito, estabanadas, inócuas, ao defender que as obras de Monteiro Lobato sejam banidas pelo cunho racista que presumivelmente possuiria. Qualquer pensador de alcance mediano sabe que é melhor ler, interpretar, contextualizar as obras do que simplesmente bani-las. Pobre de nós, historiadores, se de uma hora para outra os governos decidirem apagar o passado ao seu bel prazer. A história mesmo já se encarregou de ensinar o quão improdutiva é essa prática. A Igreja Católica já fizera isso com seu Index Librorum Prohibitorum. Os nazistas também.

Da ministra responsável pelo setor agrário, a constatação brilhante de que o Brasil não possui latifúndios e a confusa meta de expandir o que ela chama de classe média rural. Tomara que esteja falando dos trabalhadores rurais. Entretanto, o fato do Brasil sustentar sua economia ainda em commodities talvez explique a opção por uma legítima representante dos ruralistas, dos grandes produtores, em detrimento de uma visão reformista e de base. O MST é coisa do passado. Outros tantos anúncios que mexeram na vida do brasileiro comum, cujos efeitos ainda serão sentidos, com relação a previdência, aos  direitos trabalhistas e aos programas sociais. Por fim, o ministro da economia nos brinda com uma armadilha retórica, a de que a base de arrecadação deve acompanhar os gastos correntes do governo. O problema é que o governo gasta muito, e gasta mal. A conta virá com o velho receituário dos ajustes fiscais. Mais uma vez o povo vai pagar a conta da estabilidade.

Mas e o porquê disso tudo?  Simples. O PT aprendeu rápido a lição das urnas. Não foram a recessão, a  retração e as crises que quase tiraram a continuidade do governo petista. Foi o modo pelo qual ele estabeleceu a interlocução política. Concentrou como pode o poder nas mãos. Centralizou. Mas numa democracia como a nossa não são essas as regras do jogo. É preciso compartilhar poder. Como o PT não fez isso do modo como os aliados desejavam, compartilhou os ganhos. O problema é que uma parte considerável deles vieram por caminhos tortuosos, cujas investigações recentes estão dando os primeiros frutos amargos. Recuou. E ao voltar a jogar nas regras convencionais apresenta, esperamos que com constrangimento íntimo, o preço do arco de alianças que governará o país.

Ainda é cedo para que os eleitores de Aécio se tornem senhores da razão. A cartilha que o governo se baseia não é diferente da que o tucano seguiria. Nada mais social-democrata do que o PT. Também é cedo para os eleitores de Dilma o arrependimento precoce. Ficou claro que o PT e o PSDB tinham o mesmo projeto de base para o país. Resta saber se Dilma fará valer os porquês que a colocaram na liderança mais uma vez e mostrar que, mesmo sob os ditames do capital, é possível perseguir o horizonte da justiça social.