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Mais Turismo – Reflexões para o Cabo Frio +

Dos desafios que surgem no horizonte, o turismo sustentável é o que se apresenta de modo mais urgente. No Brasil, possuímos um passivo histórico em nossa relação com a terra, visível no modo predatório como utilizamos os nossos recursos, desconsiderando a

25 julho 2015 - 13h00

Dos desafios que surgem no horizonte, o turismo sustentável é o que se apresenta de modo mais urgente. No Brasil, possuímos um passivo histórico em nossa relação com a terra, visível no modo predatório como utilizamos os nossos recursos, desconsiderando a real capacidade de recuperação natural. Não é incomum a preponderância da visão unilateralmente econômica, considerando como válidos e secundários os efetivos transtornos causados.

O turismo sustentável demanda preparo, conhecimento, investimentos e profissionalismo. Em primeiro lugar é necessário pensar o destino de acordo não apenas sob o prisma das suas potencialidades, mas das suas possibilidades. Qualquer ação é no mínimo incoerente sem uma avaliação clara da oferta dos serviços básicos, como água e luz.  Do mesmo modo, uma cidade turística não pode ser evacuada durante as temporadas de maior procura, nem sua população confinada ou restringida em sua rotina. Portanto, é preciso avaliar se o destino possui capacidade viária para suportar veículos, se a sinalização é adequada, se o transporte público é acessível e suficiente, se as equipes de saúde suportam o número de visitantes e se há policiamento em números compatíveis.

Mas não é só. É preciso planejar de acordo com o que a natureza pode suportar. O impacto de milhares de pessoas é sempre considerável sobre qualquer ecossistema que sofrerá, as vezes de modo irreversível com o passar do tempo, a morte de espécies animais e vegetais, a saturação de ambientes, a depredação. Isso sem falar na geração de lixo e esgoto, legados que deixam marcas permanentes.  E como fazemos parte do ambiente, existe ainda o fator humano. A Organização Mundial do Turismo é enfática ao recomendar condutas éticas para a atividade, onde deve prevalecer o respeito aos usos e costumes locais.

Ou seja, sob o ponto de vista ético, não são os habitantes que devem tolerar, adaptar-se e submeter-se aos padrões, práticas e abusos dos visitantes, e sim o usufruto dos atrativos com a devida coerência. E quando o visitante não a tem, é preciso ensiná-lo. Também são necessários marcos legais claros, de modo a coibir práticas abusivas nas vendas, hospedagens clandestinas e comportamentos capazes de trazer transtornos e prejuízos sociais. A boa atividade turística é a que oferece os sonhos possíveis.

Mas tornar isso uma realidade requer trabalho. Se pudéssemos mapear um caminho a percorrer, certamente começaríamos pelo envolvimento do setor econômico. Analisar quais atividades se articulam direta e indiretamente nessa indústria e se estão de fato preparadas para determinada demanda.

E não podemos nos esquecer das políticas internas de mapeamento e preservação de ambientes e da necessária organização para que eles se tornem parte integrante de um roteiro atraente. Sobre esse aspecto, ainda podem ser incluídos outros espaços que comportem o pitoresco, os arranjos produtivos locais, a história e a cultura. Em curto prazo a segmentação pode soar antipática e trabalhosa. É um processo que se estrutura com paciência, perseverança e planejamento. Mas os dividendos são muito maiores.  Afinal, inchar destinos é relativamente simples. Proporcionar um fluxo contínuo, ordenado, sustentável e lucrativo, já é algo complexo.  Porém a primeira gera um cenário onde uns tentam lucrar ao máximo a despeito de tudo e todos, opondo nativos e visitantes e favorecendo um cenário caótico. Mas o segundo transforma a cultura local sob o ponto de vista receptivo. E faz do turismo uma efetiva atividade sustentável, empreendedora e viável.