Ostentação de riqueza, poder e status social é uma prática que muitas pessoas procuram apresentar no convívio social. Em tempos de exposição pessoal, no uso das redes sociais, tal comportamento é intensamente estimulado. Interessante é que muitos que assim procedem, na verdade fazem só de aparência. Contrapondo-se a essa prática, Aksel Sandemose (1899 – 1965), escritor dinamarquês-norueguês, criou na década de 1930 um modelo de comportamento que ficou conhecido como “Lei de Jante”.
A “jantelagen”, como assim ficou conhecida, é um conceito cultural que tem suas raízes nas sociedades nórdicas, especialmente na Dinamarca, Suécia, Noruega e Islândia, constituindo um conjunto de normas sociais, informais, que desencorajam a ostentação e a exibição de riqueza ou status social, promovendo, em vez disso, a igualdade e a humildade.
A Lei de Jante tem sua estrutura em dez regras, dentre as quais podemos destacar: “não pense que você é algo; não pense que você é melhor do que os outros; não pense que alguém se importa com você”. Um antigo adágio ensina que: “Queres conhecer um homem, dá-lhe poder”! Isso pode ser visto em todas as áreas de interesse humano, como na política, Administração Pública, empresarial, Forças Armadas e até religiosas. “Você sabe com que está falando”? É a frase predileta de quem acha que tem qualquer poder.
Quando se trata de cargo público, então a prática se agiganta. Mas existem exceções. Numa reportagem de 11/07/2013, o jornal O Globo publicou uma matéria sobre a austeridade dos ministros da Suíça. Lá, diz a notícia, “é comum ver um ministro ou deputado num ônibus ou no trem. Se uma autoridade usa carro oficial ou helicóptero sem autorização, e alguém contesta, pode redundar numa denúncia judiciária e até perda do mandato”. Na Inglaterra é comum ver o prefeito indo para o trabalho de bicicleta, na Holanda, não só o prefeito, mas também o primeiro-ministro, utilizam esse tipo de transporte, e não é por ostentação. Infelizmente estes exemplos são exceção, quando deveria ser regra. Em nosso país, chega a ser um acinte ao cidadão o que se vê no estacionamento da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, só para exemplificar, dezenas de veículos de luxo, com placa preta oficial, a serviço dos titulares das comissões e de outras funções.
O norte-americano Jeff Bezos, fundador da Amazon, é autor da seguinte frase: “Acredito que a austeridade leva à inovação, tal como aconteceu com muitas outras limitações. Uma das formas de sairmos de uma caixa fechada é arranjar uma saída”. O que falta à Administração Pública no Brasil é copiar as boas prática de outros países. Achar que o que é público não tem dono tem sido uma prática usual na Administração. O poder é inebriante, quem não está preparado é transportado para um estado psicológico de grandeza que leva a pensar ser eterno. Mas tudo acaba, tudo passa, e depois vem o que chamamos de “vazio do poder”.
Não é somente no ambiente público que vemos ostentação. No empresarial é comum observarmos tal comportamento. Apresentar vida luxuosa nem sempre é prova de prosperidade, quando na verdade o recato e a humildade devem nortear a visibilidade de uma empresa. Um exemplo a ser copiado é o que foi deixado pelo banqueiro Amador Aguiar (1904 – 1991), fundador do Bradesco. Homem humilde, de hábitos comuns, não ostentava a fortuna e importância que possuía.
Muitos utilizam a ostentação como instrumento de defesa, para encobrir fraqueza de espírito.